Um clima de tensão se instaurou em duas cidades no oeste da China à medida que a oposição do público a planos de construir instalações industriais na região ganha força. Esse é o exemplo mais recente de como o aumento da preocupação ambiental por parte da população chinesa ameaça projetos que as autoridades alegam serem necessários para o desenvolvimento econômico do país.
Na cidade de Kunming, capital da província de Yunnan, no sudoeste da China, pelo menos várias centenas de pessoas tomaram as ruas do centro, no último sábado, numa manifestação contra os planos para uma refinaria de petróleo e uma unidade de processamento de uma petroquímica nas redondezas. Os protestos aparentam ter sido, em grande parte, pacíficos.
Os ativistas reivindicam que seja feita uma avaliação do impacto ambiental do projeto por terceiros. Muitos temem que a unidade afete a saúde dos moradores de Kunming, segundo Zheng Xiejian, que nasceu na cidade e se opõe ao projeto.
“Nós vamos ver como o governo vai reagir ao protesto de hoje”, disse em entrevista ao The Wall Street Journal, no sábado. “Se eles não responderem, nós vamos continuar protestando”.
Em Chengdu, capital da vizinha Sichuan e um centro industrial importante no interior do país, autoridades têm trabalhado nos últimos dias para desmobilizar potenciais protestos contra o plano de instalação de uma refinaria nas proximidades. Fotos publicadas no microblog chinês Weibo mostraram que a presença policial havia sido intensificada na cidade no sábado, aparentemente para deter potenciais manifestantes.
O crescente ativismo ambiental entre os chineses das áreas urbanas tem emergido como uma grande preocupação para os altos líderes chineses e como uma dor de cabeça para os executivos das petrolíferas estatais. Estas precisam desenvolver uma infraestrutura melhor de petróleo e gás para produzir bens essenciais, como gasolina para o crescente número de carros chineses, assim como plástico e químicos necessários para a indústria têxtil.
Esta é uma situação particularmente crítica para cidades do interior como Chengdu e Kunming. O crescimento de cidades do oeste da China se acelerou nos últimos anos à medida que cada vez mais empresas migram suas operações para esses locais, onde a mão de obra e outros custos podem ser substancialmente menores do que no muito mais desenvolvido leste do país. Encontrar soluções para desenvolver de forma rápida a infraestrutura de energia necessária para alimentar o crescimento do oeste do país sem estimular uma ampla agitação social está entre os principais dilemas que as autoridades do país enfrentam hoje.
O protesto em Kunming no fim de semana segue uma manifestação similar contra um projeto para expandir uma refinaria na cidade de Ningbo, no leste, no ano passado. Os protestos duraram dias e as autoridades acabaram prometendo suspender a expansão da unidade.
Manifestações violentas e frequentes nos últimos meses contra planos de instalações industriais têm demonstrado a desconfiança pública em relação a empresas estatais e a sua habilidade em desenvolver indústrias de uma forma ambientalmente responsável. A consciência ambiental entre os chineses comuns aumentou ainda mais nos últimos meses, após uma severa nuvem de poluição ter encoberto grandes partes do país durante o inverno do hemisfério norte.
Em março, o primeiro-ministro chinês, Li Keqiang, reconheceu a gravidade da crise ambiental na China e prometeu medidas mais rígidas para lidar com os poluidores.
Os manifestantes em Kunming, assim como os de Ningbo ano passado, se opõem à produção do químico paraxileno, conhecido como PX. O produto químico é um elemento importante na produção de plásticos e outros bens. A agência de notícias Xinhua informou que a instalação na cidade de Kunming vai produzir 500 mil toneladas de paraxileno por ano. Mas altos níveis de exposição podem irritar os olhos e causar desconforto respiratório, segundo os EUA e relatórios da indústria.
“Refinaria de Anning: não transforme a nossa casa no inferno”, dizia um dos cartazes de protesto, de acordo com a agência de notícias. Fotografias de Weibo mostravam os manifestantes com máscaras no rosto, em um protesto simbólico.
As novas instalações perto de Kunming e Chengdu estão ambas sendo planejadas pela gigante petrolífera estatal China National Petroleum Corp, que tentou tranquilizar as preocupações da população nos últimos dias.
Uma declaração com data da última quinta-feira feita pela subsidiária da CNPC Sichuan Petrochemical informou que, como uma empresa estatal, a companhia tinha a obrigação de concluir o projeto de modo socialmente responsável. A refinaria planejada pela CNPC em Pengzhou, que fica a 32 quilômetros ao norte de Chengdu, será capaz de processar cerca de 200 mil barris de petróleo por dia quando for concluída.
O projeto, de acordo com uma declaração da companhia, iria “genuinamente e sinceramente servir à população de Sichuan”.
Em uma entrevista separada publicada no sábado (04/05) em um site controlado pelo governo de Sichuan, um executivo não identificado da CNPC defendeu o projeto e disse que a empresa estava usando tecnologias avançadas para garantir a produção e o refino de petroquímicos de forma limpa.