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Insumos

Governo faz ameaça e trigo cai na Argentina

Tensão entre o governo e o agronegócio tem crescido nas últimas semanas, a partir do momento em que a presidente Cristina Kirchner constatou que a inflação alta na Argentina começava a piorar o clima social no país.

O trigo no mercado doméstico da Argentina caiu na última sexta-feira para o equivalente a US$ 406 a tonelada para entrega imediata, um recuo de 11,8% em relação ao começo do mês, segundo a cotação registrada no Mercado Eletrônico a Termo de Buenos Aires (Matba). O resultado, ainda 30% superior à cotação da commodity no mercado internacional (de US$ 308 na quinta, de acordo com o centro de notícias do USDA), foi festejado pelo ministro da Agricultura, Norberto Yauhar, que disse às vezes ser necessário “ter o chicote na mão ” contra os comercializadores de grãos, de acordo com a Telam, a agência oficial de notícias.

A queda aconteceu depois de o secretário de Comércio Interior, Guillermo Moreno, ter anunciado no último dia 5 que iria usar a lei de abastecimento, um instrumento legal criado no governo de Isabel Perón, em 1974, e que foi utilizado uma única vez no país. A lei permite o confisco de mercadoria e a prisão e condenação dos responsáveis pela estocagem. No decreto, Moreno justificou a medida como uma forma de garantir insumos para a indústria de panificação e conter o aumento do preço do pão, que triplicou no varejo de Buenos Aires em junho.

A tensão entre o governo e o agronegócio tem crescido nas últimas semanas, a partir do momento em que a presidente Cristina Kirchner constatou que a inflação alta na Argentina começava a piorar o clima social no país e a atingir a sua popularidade. Em fevereiro, o governo lançou mão de um congelamento de preços em supermercados que durou dois meses. Foi substituído por um tabelamento de 500 produtos, sobretudo da indústria de alimentos. A falta de cumprimento do congelamento levou Moreno a fechar, como advertência, filiais das grandes redes, como Carrefour, Walmart e Cencosud, entre outras.

O encarecimento do pão já havia levado o Ministério da Economia a recomendar que o consumidor preparasse pão caseiro, divulgando receitas na página da Secretaria do Comércio na internet. Semana passada foi o tomate que acionou o radar de Moreno: a subsecretaria de Defesa do Consumidor divulgou um alerta avisando que fatores sazonais levarão à falta do produto este inverno e fez um apelo à população para que substitua o tomate por outros vegetais em sua dieta.

A alta do tomate no Brasil ganhou grande repercussão no começo deste ano, e levou até mesmo ao contrabando do tomate argentino para o Brasil. Aproveitando a desvalorização do peso, comerciantes paraguaios compravam tomate na província argentina de Corrientes e o levavam para Foz do Iguaçu e Guaíra, no Paraná, onde o produto era vendido ilegalmente.

A Argentina produziu na última safra cerca de 9,5 milhões de toneladas de trigo, ante 14 milhões de toneladas na safra anterior. Desse total, cerca de 6 milhões de toneladas foram destinadas ao mercado interno e o setor recebeu autorização para exportar um excedente de 5 milhões de toneladas no ano passado, das quais 3 milhões foram embarcadas para o exterior. Com a ameaça, Moreno procura forçar a venda do estoque remanescente. O governo argentino descartou a hipótese de autorizar importações de trigo para baixar preços internos. Nenhum dos elos da cadeia revela quanto trigo e de que qualidade efetivamente ainda existe na Argentina.

A produção de farinha de trigo caiu nos cinco primeiros meses do ano para 6,179 milhões de toneladas, o menor nível desde 2007, segundo a Federação Argentina da Indústria de Moagem (FAIM). Em relação a 2011, houve queda de 4,4%. O governo intermediou um acordo para que a indústria aumente a produção e as padarias destinem 10% das vendas para o “pão felipe”, uma espécie de baguetinha que é o pão mais consumido em Buenos Aires.