“Um em cada quatro africanos está em situação de insegurança alimentar hoje”, diz Alan Bojanic, representante no Brasil da FAO, órgão da ONU para alimentação e agricultura. “Imagine no futuro”, completa. Esse quadro faz da África a prioridade da FAO a nível mundial, afirmou, e o Brasil, como um dos maiores celeiros do mundo, tem um papel importante não apenas na exportação de alimentos para África como também de conhecimento: “Precisamos ajudar os africanos a produzirem seus próprios alimentos”, disse.
“O Brasil tem as melhores condições de ser um grande fornecedor, tem terra, tecnologia, conhecimento, e modelos desenvolvidos aplicados pelos produtores. Com certeza vai ser o principal fornecedor da agricultura tropical”, disse ele nesta quinta-feira (7), na abertura do 14º Congresso de Agribusiness da Sociedade Nacional de Agricultura, que debate no Rio de Janeiro o papel do Brasil no cenário global de produção de alimentos.
Segundo explicou, 40% do orçamento da FAO vão para a África em termos de projetos, mas ainda é preciso melhorar a troca de conhecimento, que é o principal papel da FAO. “A perspectiva de importação de alimentos pela África vai ser muito grande, e quem vai fornecer, principalmente é o Brasil, por isso, o país tem que fortalecer os laços com a África, comerciais e de conhecimento”, explicou o executivo, ressaltando também os países árabes como futuros importadores de alimentos brasileiros.
“Os governantes africanos estão abertos à troca de conhecimento, mas é uma tarefa difícil. Mesmo com vontade política, os conflitos sociais e a violência no campo criam dificuldades para se levar tecnologias. O pior é a fraca institucionalidade dos países africanos para produzir e desenvolver mercados internos”, disse.
Ajustes para aumentar a produtividade
Para ele, o Brasil já tem papel de relevância na agricultura mundo, haja vista a safra recorde anunciada para 2013, de cerca de 200 milhões de toneladas, e novas políticas no setor não são necessárias, em sua opinião. Bastam ajustes para aumentar a produtividade. “Podemos melhorar porque, nos anos 1960, o crescimento da agricultura foi mais rápido. Temos que ter uma nova evolução agrícola para o aumento da produtividade”, disse.
Alan Bojanic considera fundamental mais investimentos para desafogar gargalos conhecidos, como infraestrutura deficiente e o êxodo da mão de obra jovem, do campo para a cidade. “Os gargalos são claros. A grande decisão política é dar maior orçamento para a agricultura e para o desenvolvimento rural, no Brasil e no mundo. E investimentos em irrigação. Tem que ter água o ano inteiro para gerar a rentabilidade da agricultura. Na África, a taxa de investimento per capita em agricultura é menor que o crescimento da população. Nesse quadro nunca haverá alimentos para todos”, disse.
Por causa das mudanças climáticas, 30% da produção agrícola do futuro vai se perder, disse Bojanic, ressaltando que o aquecimento global é um grande problema para a agricultura.
“Secas prolongadas, neve, tempestades, ciclones, precisamos de uma agricultura mais resiliente, que se adapte às condições. E tem que colocar a água na agenda dos países em desenvolvimento”, afirmou.
US$ 80 mlhões para países em desenvolvimento
Com a meta de ter um milhão de toneladas a mais de alimentos até 2050, a FAO fez estudo mostrando que são necessários pelo menos US$ 80 milhões por ano para a agricultura dos países em desenvolvimento.
“É preciso aumentar o ritmo de produção dos países que vão abastecer o mundo: Brasil, Ucrânia, Rússia, Austrália, Nova Zelândia e Estados Unidos. O tema das cooperativas vai ser central no futuro para formar cadeias eficientes”, disse, citando países ticos em terras produtivas e água.
Precisamos de uma agricultura mais resiliente, que se adapte às condições climáticas. E tem que colocar a água na agenda dos países em desenvolvimento”.
A migração dos jovens é grande probema, segundo Alan Bojanic, e manter o produtor motivado trabalhando nas áreas rurais com capacidade para inovar é um desafio. O que pode fazer o produtor ficar no campo é a rentabilidade da agricultura.
“Queremos que os jovens fiquem no campo. Eles precisam de rendimentos que lhes deem uma vida digna, escolas de qualidade, e polos de desenvolvimentos lazer. Afinal, o produtor não vai ficar só trabalhando”, disse, ressaltando, porém, que o maior incentivo ao homem do campo é sua valorização. “As pessoas precisam ser valorizadas para saberem sua importância”.
Ele faz uma crítica às escolas e universidades nas carreiras que envolvem a agricultura. “O produtor do futuro tem que manejar muita informação. Mas os currículos se restringem a disciplinas concentradas num mesmo tema. Tem que ter mais abrangência e ferramentas para desenvolver tecnologia, cooperativismo, gestão e administração”, explicou.
Aquecimento global
Por causa das mudanças climáticas, 30% da produção agrícola do futuro vai se perder, disse Bojanic, ressaltando que o aquecimento global é um grande problema para a agricultura. “Secas prolongadas, neve, tempestades, ciclones, precisamos agricultura mais resiliente, que se adapte às condições. Tem que colocar a água na agenda dos países em desenvolvimento”, afirmou.
No 14º Congresso de Agribusiness, Alan Bojanic assinou um contrato de parceria com a Secretaria Nacional de Agricultura para discussão de novos conhecimentos e iniciativas.
“É uma troca de informações sobre o que a FAO faz no mundo e como levar ao mundo a experiência brasileira”, disse o representante da FAO no Brasil.
O 14º Congresso de Agribusiness termina hoje (8) com a apresentação de um documento com propostas e iniciativas que deverão consolidar, num contexto global, a sustentabilidade da produção de alimentos no Brasil nas próximas décadas.