Fonte CEPEA

Carregando cotações...

Ver cotações

Empresas

Apesar do etanol, ano foi positivo para Bunge

Companhia cresce no Brasil nas áreas de soja, milho e trigo.

Com avanços expressivos nas áreas de grãos e de alimentos e ingredientes, a multinacional americana Bunge caminha para encerrar 2013 com melhores resultados que no ano passado no Brasil, onde é a maior exportadora do agronegócio e uma das líderes do setor. A companhia mantém boas perspectivas para 2014, ainda que o cenário geral seja menos promissor e os desafios no segmento de açúcar e bioenergia, problemático nos últimos anos, tendam a ser ainda maiores.

Como tem capital aberto nos Estados Unidos, a empresa não adianta as estimativas preliminares do desempenho financeiro da subsidiária brasileira neste ano ou faz projeções para o próximo. Porém, dados disponíveis sinalizam que cresceu o peso do país nos negócios globais, apesar de a frente sucroalcooleira estar puxando os lucros globais da múlti para baixo. Nos nove primeiros meses deste ano, a receita líquida mundial da múlti subiu 2,3% em relação ao mesmo período de 2012 e somou US$ 44,972 bilhões. O lucro líquido caiu 77,6%, para US$ 143 milhões.

“Foi um ano muito bom para as divisões agribusiness e food ingredients. Mas, racionalmente falando, para açúcar e bioenergia foi decepcionante”, afirmou Pedro Parente, presidente e CEO da Bunge Brasil. A divisão de agribusiness inclui os negócios com grãos (soja e milho), cujas exportações a partir do país deverão alcançar 17,9 milhões de toneladas em 2013, 16,2% mais que no ano passado. Já a área de food ingredients é puxada por trigo e derivados, onde o movimento deverá ficar perto de 1,5 milhão de toneladas.

Impulsionada pelos grãos – cuja oferta doméstica aumentou graças a boas colheitas na safra 2012/13 e mercado no qual os preços se mantiveram em níveis ainda elevados -, a receita das exportações totais da subsidiária brasileira da multinacional tende a fechar o ano com incremento de dois dígitos. Segundo a Secretaria de Comércio Exterior (Secex), de janeiro a novembro os embarques da Bunge atingiram US$ 7,055 bilhões, 16,2% acima de igual intervalo de 2012, ano em que a receita líquida da companhia no país alcançou R$ 38,4 bilhões.

Esse resultado manteve a empresa como a terceira maior exportadora do país no período, atrás de Vale (US$ 23,840 bilhões) e Petrobras (US$ 12,099 bilhões), à frente de concorrentes diretas como Cargill (US$ 4,325 bilhões) e ADM (US$ 4,12 bilhões). Também americanas, essas tradings ficaram, respectivamente, na quinta e na sexta posições do ranking das maiores empresas exportadoras do Brasil de janeiro a novembro, de acordo com dados da Secex.

Segundo Parente, a boa performance das exportações de grãos refletiu, além de condições de mercado atraentes, melhoras na logística de escoamento, que absorveram grande parte dos US$ 500 milhões investidos pelo grupo no país em 2013. “Nos últimos três anos, ampliamos em 50% o volume embarcado nos nossos terminais portuários e melhoramos nosso planejamento. Assim, os problemas logísticos que vimos no país neste ano aumentaram nossos custos, mas conseguimos otimizar as operações”, disse.

Nos últimos dois anos, informou o executivo, os investimentos em melhorias nos portos – sobretudo Santos (SP), Paranaguá (PR) e São Francisco do Sul (SC) – e na ampliação da rede de terminais no Brasil chegaram a US$ 200 milhões. O valor inclui os aportes no projeto que visa a ampliar o escoamento da produção pelo Norte do país por meio da combinação dos modais rodoviário e hidroviário.

Parente lembra que nem só de exportação de grãos vive a divisão agribusiness da companhia. Somados os embarques e o processamento, o volume de soja movimentado pela Bunge no país chegará a quase 30 milhões de toneladas neste ano. A colheita total da oleaginosa no país foi de 81,5 milhões de toneladas, segundo a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab). “Em determinadas épocas, somos os maiores contratadores de fretes rodoviários do país”, disse.

Dos investimentos realizados neste ano, o CEO também destacou os que foram direcionados para a conclusão da primeira unidade de biodiesel da empresa no país – que absorveu R$ 60 milhões e inicialmente será capaz de produzir 150 mil metros cúbicos por ano – e os empregados na aquisição do moinho de trigo Vera Cruz, situado em Santa Luzia, Minas Gerais, e que faturou quase R$ 45 milhões em 2012.

O novo moinho fortalece a liderança da Bunge nesse mercado no Brasil. Com moinhos em cinco Estados e no Distrito Federal, a companhia já processou, no total, cerca de 1,5 milhão de toneladas de trigo neste ano. “Nesse segmento [a área de trigo está incluída em alimentos e ingredientes], foi um ano excepcional. Recuperamos nossa trajetória de crescimento, melhoramos o mix de produtos e preços e tivemos margens melhores”, disse Parente.

No ano passado, a empresa desfez a associação que mantinha há oito anos com a J. Macêdo. Com ela, a Bunge produzia farinha de trigo para a parceira para uso doméstico ou como ingrediente de produtos como massas, misturas e biscoitos, o que a impedia de atuar diretamente nesses mercados. “A Bunge iniciou as operações no Brasil, em 1905, com trigo. Está no DNA da empresa”, afirmou o CEO.

Ainda em alimentos e ingredientes, Parente também disse que houve bons resultados nos mercados de óleos vegetais, com diversificação de portfólio e resultados positivos em testes de qualidade realizados. Assim, a área colaborou para os resultados gerais positivos observados no ano e ajudou a diluir os reveses que voltaram a marcar a área de açúcar e bioenergia.

“Ainda é a nossa grande dor de cabeça”, reconhece Parente, que foi chefe da Casa Civil no governo de Fernando Henrique Cardoso, período em que também foi ministro do Planejamento e, interinamente, das Minas e Energia. “Por uma combinação de fatores, os resultados não aparecem”. Nesta entrevista, ele preferiu não aprofundar o raciocínio, mas é conhecida a posição do segmento contra a política de preços de combustíveis do governo e contra a perda do diferencial de preços do etanol em relação à gasolina.

Apesar do cenário adverso, inclusive climático, sobretudo nas duas safras anteriores à atual, a moagem de cana nas usinas da múlti crescerá 12% em relação a 2012, para cerca de 20 milhões de toneladas. O executivo afirmou que a Bunge tem procurado manter investimentos no segmento, principalmente na área agrícola, e que a companhia plantou 180 mil hectares nos últimos três anos, incluindo expansões e renovação de canaviais. No total, a área plantada supera 300 mil hectares.

O fato de ser uma das maiores empresas do ramo sucroalcooleiro nacional não impede, contudo, que o CEO global da Bunge, o americano Soren Schroder, seja implacável sobre os resultados obtidos. Quando divulgou os resultados globais da múlti no terceiro trimestre deste ano, ele deixou claro que ativos ligados a esse negócio poderão ser vendidos para ajustar as operações e tentar melhorar a performance. “Mas só vamos colocar no negócio o caixa gerado pelo próprio negócio. Aplicações líquidas de caixa terão que aguardar enquanto não houver retorno”, afirmou Pedro Parente.

E Parente não tem grandes esperanças de que isso aconteça em 2014. As boas perspectivas da empresa para o ano que vem estão no mercado de soja, tendo em vista a expectativa de mais uma colheita recorde no Brasil e na divisão de alimentos e ingredientes. Para o milho, que ganhou destaque nas operações nos últimos três anos, também não há empolgação, tendo em vista os sinais de queda da produção no Brasil e dos preços nos fronts externo e doméstico.