Em 2006, as vendas de sementes não representavam mais do que 10% da receita global da Dow AgroSciences, a divisão agrícola da americana Dow Chemical Company. O negócio de pesticidas era hegemônico, responsável por 90% do faturamento. Mas essa composição vem mudando. Em 2011, as sementes responderam por um quinto das vendas e somaram US$ 1,1 bilhão, 35% a mais do que no ano anterior. A comercialização de defensivos aumentou cerca de 10%, a US$ 4,6 bilhões.
Só no Brasil, a Dow ampliou em 25% as vendas de sementes no ano passado, conta Ramiro De La Cruz, presidente da companhia no país. É mais do que o dobro do crescimento observado nas vendas de defensivos, estimado em 12%. “Na média, o mercado de sementes cresce três vezes mais do que o de agroquímicos”, observa. A companhia não revela o faturamento relativo ao Brasil, mas a América Latina responde por aproximadamente um quarto de sua receita total.
A Dow estima que, até 2015, o negócio de sementes deverá responder por quase um terço da receita vinda da agricultura. A grande aposta da companhia é um produto em parceria com a Monsanto, líder no mercado global de sementes, que será lançado no segundo semestre, para o cultivo da safra 2012/13. Trata-se de um híbrido de milho transgênico, com cinco genes inseridos (dois próprios e três da Monsanto) para dar à planta tolerância a dois tipos de herbicida e a três espécies de lagarta.
Batizado de PowerCore, o produto é uma versão nacional do SmartStax, um híbrido com oito eventos transgênicos lançado pelas duas companhias nos Estados Unidos, em 2010, e o responsável pelo crescimento da Dow no mercado americano de sementes no ano passado.
A Dow não revela a participação do lançamento em suas vendas globais. Rolando Alegria, diretor de sementes e biotecnologia para o Brasil, diz apenas que a versão desenvolvida para o mercado doméstico vai substituir o carro-chefe da companhia no país – o milho Herculex, responsável por 70% de suas vendas – em três a cinco anos.
Tony Klemm, líder global de Sementes, Biotecnologia e Óleos Saudáveis da Dow, afirma que a parceria com a Monsanto tem o objetivo de reduzir custos com pesquisa e desenvolvimento e a troca de informações entre elas. O executivo nega que os laços possam resultar em uma integração e ressalta que o acordo atual se restringe à esfera técnica.
“A Dow tem acordos com universidades, institutos de pesquisa e empresas ao redor do mundo. É exatamente este o caso com a Monsanto”. Klemm não revelou se as duas companhias trabalham em parceria em novos produtos. “A Dow se reserva ao direito de não comentar sobre os detalhes do acordo”, afirmou.
O executivo afirma ainda que, ao contrário do que fez a companhia de Saint Louis, não há qualquer possibilidade de a Dow deixar o mercado de defensivos para se concentrar na área de biotecnologia, da qual deve vir a maior parte do crescimento nos próximos anos. “O negócio de agroquímicos vem crescendo e vai coexistir com o de sementes e biotecnologia”, afirma. No ano passado, a Dow investiu cerca de US$ 600 milhões em pesquisas. Embora não revele a proporção exata, Klemm afirma que há “bastante equilíbrio” entre os gastos com o desenvolvimento de sementes e de defensivos.
Alegria afirma que o Brasil é o alvo preferencial da companhia. “De todo investimento global em pesquisa e produção, mais de 50% virá para o Brasil”, afirma. Ele lembra que a produtividade média das lavouras de milho no país ainda é a metade dos Estados Unidos. “Há muito espaço para crescer”, conclui. A empresa desenvolve também uma variedade própria de soja, tolerante a dois tipos de herbicida e resistente a insetos, que só deve chegar ao país a partir de 2017.