A dinamarquesa Novozymes vai construir pelo menos duas fábricas de enzimas dedicadas à produção de biocombustíveis de segunda geração no Brasil. A primeira delas será erguida em Alagoas e deverá entrar em operação a partir do ano que vem. A outra unidade, ainda em estudos, poderá ser instalada em São Paulo, mas o local ainda não foi definido.
A empresa não divulga o total desses investimentos. Mas o Valor apurou que os aportes da companhia nessas duas unidades podem chegar a US$ 200 milhões, montante que a companhia está investindo em uma fábrica para essa mesma finalidade que entra em operação em junho nos Estados Unidos.
Líder global na produção de enzimas industriais, com 47% de participação, a Novozymes quer aproveitar as boas oportunidades de negócios que o etanol celulósico pode gerar, sobretudo nos Estados Unidos e no Brasil, os dois maiores produtores globais desse combustível. As enzimas são proteínas, catalisadores biológicos presentes em todos os organismos vivos. No caso dos biocombustíveis, o papel dessas enzimas é converter celulose em açúcares, que depois passam por processo de fermentação antes de se transformar em combustíveis. Na indústria, as enzimas substituem produtos químicos e aceleram os processos de produção.
A GraalBio, dos irmãos Gradin, deverá comprar toda a produção de enzimas da nova fábrica da empresa em Alagoas
Em entrevista ao Valor, Pedro Luiz Fernandes, presidente regional da Novozymes para América Latina, disse que a empresa viveu “um ostracismo” nos últimos anos, mas as oportunidades provocadas pelos modelos sustentáveis dão novos rumos aos negócios da multinacional.
A fábrica de enzimas dedicada a etanol da Novozymes que será erguida no país já tem venda garantida. “Vamos vender nossa produção para a GraalBio [empresa criada pelos empresários Bernardo e Miguel Gradin]”, disse Fernandes. A GraalBio deverá ser a primeira fábrica produtora de etanol de segunda geração a entrar em operação no Brasil, com previsão para dezembro de 2013. A empresa desenvolveu uma enzima mais eficiente (a Cellic CTec3), com melhor desempenho e custos competitivos para a produção de biocombustíveis a partir da biomassa.
A primeira fábrica de enzimas da Novozymes dedicada para os biocombustíveis entra em operação em junho nos Estados Unidos. “Essa fábrica dos EUA terá capacidade para atender todo o mercado americano e parte da América Latina”, disse o executivo. A unidade que será construída em Alagoas será a segunda com essa mesma finalidade.
No Brasil desde 1975, quando montou um escritório, a companhia começou a produzir enzimas no país a partir de 1989, em Araucária (PR). Essa fábrica, considerada multidisciplinar, produz enzimas que são utilizadas pelas indústrias de alimentos, bebidas e químicas. “A fábrica do Paraná também atende às indústrias sul-americanas”, afirmou Fernandes.
Com faturamento global da ordem de US$ 1,9 bilhão em 2011, a unidade brasileira obteve receita em torno de US$ 180 milhões, incluindo as vendas para países da América do Sul. Fundado como Novozymes em 2000, o grupo é resultado da cisão da farmacêutica Novo Nordisk. Com a entrada em operação da nova unidade, o faturamento poderá, no futuro, mais que dobrar, diz o executivo. A multinacional investe 14% da receita com pesquisa e desenvolvimento. No mundo, a companhia possui cerca de 7.000 patentes concedidas ou pendentes.