No final de semana passado estive com amigos gaúchos em um churrasco. Entre um chimarrão e uma prosa, recordávamos nosso passado, as coisas boas da infância, a saudade de nosso estado, que por força do destino e oportunidades tivemos de deixá-lo. Mas, um fato que chamou-me a atenção foi a conversa entre nossas esposas. Uma delas dizia que estava perplexa com a tamanha falta de informação sobre o que é agricultura, nosso maior legado, nosso pão de cada dia, tão esquecido ultimamente. Nesta pequena historinha, vou resumir o que elas conversavam, pois estávamos lado a lado, uma delas dizia “conversando com minhas colegas de MBA lembrei da minha infância. Como era bom, estar no meio dos campos, plantar e colher alface, tomate, amendoim e abobrinha, juntar pinhão, tirar leite da mimosa (risos), colher os ovos, comer um “torresmo” feitinho na hora, brincar com vizinhos, tomar banho nos rios, andar a cavalo, recolher os animais ao entardecer, fazíamos tudo isto, e nosso dia passava muito rápido, e queríamos que o outro dia viesse, para fazer as mesmas coisas, além de sentir o ar fresco, ouvir os passarinhos cantando, ver o cachorro sempre ao meu lado onde fosse. Era minha maior felicidade. E ainda tinha a hora do almoço todos reunidos na mesa, respeitando sempre os mais velhos. Que tempos maravilhosos.” A outra indagou, “mas suas colegas não conheciam isso?”. E ela respondeu: “infelizmente não, é uma pena“
Pois é, senhores, este tempo foi e talvez não volte mais, a não ser que voltemos a compartilhar estas experiências com nossos filhos, amigos, irmãos, que os mais velhos e sábios nos orientem a reviver belos momentos, não mais nos campos e sim agora nas cidades, nas escolas. Escolas? Sim, escolas. Talvez esteja aí nosso grande desafio para o futuro: melhorar o ensino, fazer a integração do meio urbano e rural através das escolas, voltarmos a ter no currículo técnicas agrícolas, onde aprendíamos a mexer com terra, a plantar e colher para comer e preparar nossos próprios pratos, a dividir, a valorizar nossos maiores bens: a terra, a água e o alimento, em resumo a vida. Isso tudo podemos resumir e uma única frase: “torçamos para o retorno do agroconhecimento as escolas”.
Serão nossos filhos que comandarão o país daqui a 20 ou 30 anos, e infelizmente muitos deles não conhecem a grande riqueza que nosso país lhe proporciona, uma agricultura exemplar, que emprega milhares, que mantém o Brasil como grande exportador, que pode bater no peito e dizer, somos a maior reserva ambiental do mundo, o país que tem os maiores ambientalistas do planeta, os agricultores. Por fim, senhores governantes, setor privado e sociedade, voltemos a relembrar de nossas raízes, valorizemos nossos professores, criemos ambientes saudáveis nas escolas para praticar e conhecer a agricultura. Isso tudo podemos chamar de Agroconhecimento, este será nosso futuro.
Que tenhamos força para implantar e superar os desafios, cada vez maiores na educação, para que nossas escolas voltem a ter a educação agrícola exemplar onde éramos preparados para vida e para o futuro.
Por José Annes Marinho é Engenheiro Agrônomo, Gerente de Educação da Associação Nacional de Defesa Vegetal – Andef