Prejudicado pelas sucessivas altas nos preços da soja e milho, um produtor de frango decidiu doar na tarde desta quinta-feira (23) cerca de 20 mil pintinhos, com um dia de vida, aos pedestres e motoristas que passaram pelo Centro, no Largo do Pará, em Campinas (SP).
O empreendedor, que prefere não se identificar com receio de perder recursos de crédito, não conseguiu arcar com o custo do plantel com a crise. Ele contratou um caminhão, e voluntários organizaram a distribuição em pacotes de papel e caixas de papelão. Segundo o produtor, a medida ocorreu para evitar o descarte como ocorreu em Palhoça (SC), onde funcionários foram flagrados jogando ovos e pintinhos vivos em uma vala.
O prejuízo estimado na venda da criação de aves aos produtores do interior de São Paulo, responsável por 13% da produção no país, nos dois meses de crise é 20%, segundo a Associação Paulista de Avicultura.
Para o presidente da associação Erico Pozzer, a atitude não é um protesto, mas visa preservar os animais e mostrar como a situação dos produtores está vulnerável. “Diante desta condição constrangedora, a intenção é de que eles sejam cuidados e não mortos”, explica.
Distribuição
A dona de casa Viviane Braga, afirma que o filho Davi, de 5 anos, conheceu pela primeira vez a ave e chegou a confundir o animal com um pato. “Vi no desenho e vou levar ele para a casa da minha vó para ele tomar banho”, disse a criança.
O aposentado Clóvis Aparecido Manuel, morador de Hortolândia (SP), foi acompanhado do irmão e cunhado, para levar cerca de 80 unidades para o sítio. “Vamos pedir um táxi para levar as caixas com os pintinhos que em poucos dias vão ser a alimentação da nossa família”.
Seis mil pintinhos foram doados até 16h. Pozzer explica que os animais podem ser levados aos moradores de bairros mais afastados do Centro, caso as doações não sejam concluídas até o fim do dia.
Crise
Os Estados Unidos sofrem com a maior seca dos últimos 50 anos. No país, 10% da safra de milho e soja foram perdidas, o equivalente a 130 milhões de toneladas.
Segundo Pozzer, o preço médio do quilo do frango sofreu reajuste de pelo menos 29,4% – passou de R$ 1,70 para R$ 2,20. O preço da ração disparou em 35%, por conta dos insumos para a fabricação da ração. O farelo de soja que até junho custava R$ 650 a R$ 700 a tonelada, subiu neste mês para R$ 1.350. O milho também registrou o reajuste na saca, de R$ 24 para R$ 35. A ração representa cerca de 70% do preço da carne de frango.
Sem ter como alimentar os animais, alguns criadores preferem interromper a produção. “Criadores estão eliminando ovos nas encubadoras e chegam a reduzir pela metade a produção”, afirma Pozzer.
A principal alternativa dos granjeiro é pedir ajuda ao governo federal e estadual. “Vamos pedir a transferência de recurso e produção de milho do Mato Grosso para a região, além de auxílio na linha de crédito para compra do milho”, destaca o presidente da associação.