A produção brasileira de carne de frango deverá ter a primeira queda anual em pelo menos 12 anos, com a forte indústria nacional sofrendo a alta dos custos dos insumos da ração e passando a operar com estoques mais reduzidos.
O custo da soja e do milho subiu com a quebra de safra na América do Sul no início do ano e, posteriormente, disparou após a pior seca em mais de meio século nos Estados Unidos devastar as lavouras. Isso afetou as margens do setor avícola, afirmou o principal representante da associação da indústria no Brasil.
“Foi a primeira, exatamente porque teve um evento crítico… foi a estiagem no hemisfério sul e a norte-americana”, disse o Francisco Turra, presidente da União Brasileira de Avicultura (Ubabef).
Levantamento da Ubabef mostra que a produção no Brasil, o maior exportador global de carne de frango, teve crescimento contínuo desde 2000, quando os dados do setor passaram a ser compilados, à exceção entre 2008 e 2009, quando ficou praticamente estável.
A Ubabef estima uma produção de 12,5 milhões de toneladas de frango em 2012, queda de 4,2 por cento em comparação com as 13,05 milhões de toneladas do ano anterior
O setor iniciou o ano com a expectativa de registrar um leve crescimento na produção em 2012, na marca de 13,4 milhões de toneladas.
Mas o aumento médio de 45 por cento no custo de ração e a dificuldade de repasse integral dos custos pressionaram as margens do setor, levando à redução da produção.
No caso mais extremo, do farelo de soja, um dos produtos usados na composição da ração, a tonelada que custava 600 reais no começo deste ano chegou a ser cotada a 1.400 reais entre agosto e setembro, lembrou Turra.
“A decisão das empresas de reduzir a produção em função da elevação drástica dos insumos, e até da dificuldade de encontrá-los pela logística, permitiu uma recuperação de preços benéfica no mercado interno”, completou ele.
O aumento dos preços variou de 15 a 20 por cento no mercado interno, que fica com 70 por cento da produção nacional de carne de frango, aponta a Ubabef.
“Isso (a redução) também fez o setor se reposicionar, e ficar mais adequado à realidade”, disse Turra, referindo-se à situação de oferta e demanda.
Este cenário levou a indústria a reduzir os elevados estoques que vinha mantendo, pela perspectiva de sustentação da firme demanda interna.
“Havia estoques excessivos no mercado interno, e outros países também carregavam estoques, como no caso do Japão. Esta prática agora mudou, a crise mostrou que não há mais como carregar grandes estoques”, disse Turra.
Mercado externo – Do lado do mercado externo, Turra explica que, apesar da crise, a indústria vem conseguindo manter bons volumes. A expectativa é de manter as exportações em 3,9 milhões de toneladas, estável ante 2011.
“Num ano de crise, não perdemos mercado, ao contrário, estamos prospectando novos mercados. Isso é um avanço”, disse.
Entre os países em vista, ele citou o Paquistão, a Indonésia e Malásia, além da possibilidade de aprovação de novas plantas para a China.
Segundo ele, a negociação está mais avançada com a Malásia, que já enviou missão técnica ao Brasil para vistoriar unidades e agora deve voltar ao país para concluir a abertura.
Outra expectativa da Ubabef, é a reabertura total do mercado russo à carne de frango do Brasil, a partir da visita da presidente Dilma Rousseff.
“Existe uma boa possibilidade (de reabertura) com a viagem da presidente Dilma. Foi assim, em 1999, quando o presidente Fernando Henrique Cardoso visitou a Rússia”, argumentou.
A Rússia, principal mercado para as carnes brasileiras, suspendeu as compras de carnes em unidades de três Estados brasileiros – Mato Grosso, Paraná e Rio Grande do Sul – desde 15 de junho do ano passado.
Turra lembra que antes do embargo as exportações para a Rússia ficavam perto de 230 mil toneladas em média no ano, mas devem cair para cerca de 60 mil toneladas neste ano.
OMC – Sobre a abertura de um contencioso contra a África do Sul, Turra afirmou que a Ubabef espera o prosseguimento do processo.
Em junho, o Brasil fez o “pedido de consultas” sobre a tarifa imposta pela África do Sul por considerar que o Brasil estaria praticando dumping, ou seja, vendendo a custo muito baixo.
Ele observa que a entidade recebeu o apoio dos Estados Unidos, tradicionais concorrentes, que também consideram abusiva a tarifa, uma vez que causa danos ao livre comércio.