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Economia

Inflação: tarefa árdua para o BC em 2011

Tudo indica que a inflação, medida pelo IPCA, permanecerá bem acima da meta oficial de 4,5% durante todo o ano.

O Banco Central (BC) não terá vida fácil em 2011. Tudo indica que a inflação, medida pelo IPCA, permanecerá bem acima da meta oficial de 4,5% durante todo o ano, apesar do menor crescimento da economia, do aumento das importações e da possível estabilidade da taxa de câmbio. Uma maior inércia inflacionária e a contínua alta dos preços dos alimentos, além da persistente deterioração das expectativas, podem obrigar o Comitê de Política Monetária (Copom) a elevar a taxa básica de juros (Selic) de 10,75% para 13,5% ao ano até dezembro.

Mesmo sob esse choque de juros, o IPCA não retornaria para a meta em 2011, mas apenas em 2012, segundo estimativa de Nilson Teixeira, economista-chefe do banco Credit Suisse. Há elementos, como o valor do salário mínimo e a evolução dos gastos públicos, que podem atenuar esse cenário, mas existem os fatores que podem agravá-lo, como o comportamento dos preços dos alimentos e dos serviços.

Alimentação e bebidas foram os grandes vilões da inflação em 2010. Subiram 10,39%, face a 3,2% no ano anterior. Para 2011, Teixeira e sua equipe estão prevendo uma expansão mais modesta, embora ainda bem superior à meta de inflação – 6,9%. O recuo se deve à previsão de elevações menores dos preços de alguns alimentos negociados no país e no mercado global. Devem contribuir favoravelmente também alimentação no domicílio e fora dele.

Inércia e alimentos devem manter IPCA acima da meta
Os preços dos serviços também pressionaram fortemente o IPCA no ano passado e, como a economia segue aquecida, devem manter a toada. Aqui, vale o alerta de Teixeira: “Os itens de serviços com preços atrelados ao salário mínimo (por exemplo, empregado doméstico) explicaram 67% do aumento dos preços de serviços em 2010, enquanto os itens mais sensíveis à atividade econômica (recreação, por exemplo) responderam por 20% do aumento.”

Isso mostra a importância do controle do salário mínimo não só para o desempenho das contas públicas, mas também para o controle da inflação. É por essa razão que a presidente Dilma Rousseff está resoluta quanto à decisão de manter o valor do mínimo já fixado para 2011 – de R$ 540.

Os preços dos bens industriais subiram 3,5%, ajudando a evitar uma inflação ainda maior em 2010, e aqui houve a contribuição decisiva da apreciação da taxa de câmbio, que diminui os valores dos produtos importados. Para este ano, Teixeira e sua equipe preveem variação de 3,1%.

Os preços administrados também tiveram bom comportamento no último ano (3,1%), embora o pessoal do CS aposte em elevação – para 4,1% – em 2011. A razão para isso é o fato de algumas tarifas públicas, como taxas de água e esgoto e telefonia fixa, estarem atreladas ao IGP e ao IPCA. Como esses índices cresceram muito em 2010, impactarão as tarifas este ano.

Teixeira vê quatro razões para o BC elevar juros em 2011. A primeira é a necessidade de reduzir o repasse da inflação de alimentos para outros itens. “O aumento dos preços dos alimentos no último trimestre de 2010, concentrado em produtos agropecuários com ciclos mais longos de produção (por exemplo, carne bovina, açúcar e grãos), sugere reversão mais lenta dessa elevada inflação e aumenta o risco de repasse para a inflação dos demais grupos”, adverte o economista.

A segunda razão diz respeito à coordenação das expectativas, que seguem elevadas para o IPCA – 5,34% para 2011, segundo o Boletim Focus. Na opinião de Teixeira, a manutenção das expectativas bem acima da meta incrementa os riscos de aumento da persistência inflacionária, “elevando os custos de redução da inflação no futuro”. A terceira motivação do BC é garantir a convergência do IPCA para a meta em 2012.

A quarta razão é conter a alta da inflação de serviços. “Eventual expansão da atividade acima das projeções de crescimento potencial do Copom elevaria o risco de aumento da inflação pelo canal de demanda”, observa Teixeira. Embora alguns economistas, inclusive do governo, não aceitem a ideia de produto potencial, a experiência tem mostrado que o Brasil ainda não está preparado para crescer acima de 5% ao ano. Quando o faz, como em 2010, a inflação sobe acima da meta.

Teixeira acredita que o Copom pode voltar a reduzir juros em 2012, derrubando a Selic a 11% ao ano em dezembro. O choque de 275 pontos básicos sugerido por ele para 2011 poderia ser atenuado, caso o governo se comprometesse com o que ele chama de “agenda positiva”. Dessa agenda, três itens estão no receituário do governo Dilma: a imposição de limites à expansão dos gastos correntes (especialmente, funcionalismo e previdência social); cumprimento da meta de superávit primário das contas públicas; e criação do cadastro positivo.

Dos outros quatro itens, dois dificilmente vão se materializar (alteração da regra de remuneração da caderneta de poupança e indexação da TJLP à Selic) e os outros dois estão em debate (redução da meta de inflação e interrupção dos processos de capitalização do BNDES via expansão da dívida pública).