As commodities agrícolas deram ontem uma amostra do que pode ser o mercado nos próximos dias, diante dos recentes acontecimentos no Japão. Depois dos terremotos e do tsunami, a possibilidade de que Tóquio seja atingida pela radioatividade provocada pelo vazamento de uma usina nuclear ao norte da capital deixou claro para o mercado que o desastre que se acentua cada vez mais pode provocar efeitos sérios sobre a demanda de produtos agrícolas.
A resposta à nova conjuntura foi uma queda generalizada nos preços das principais commodities. O Japão é hoje o maior importador de milho do mundo, o terceiro maior de soja e o quinto de trigo. Em Chicago, os contratos com vencimento em julho da soja, milho e do trigo recuaram ontem 5%, 4% e 7%, respectivamente. O bushel da soja fechou cotado a US$ 12,78, enquanto o do milho e do trigo caíram a US$ 6,425 e US$ 7,005, respectivamente.
Na bolsa de Nova York a situação não foi diferente. Açúcar, cacau, suco de laranja e algodão, todos, sem exceção, fecharam em queda. O principal destaque foi o café. O produto que havia alcançado recordes de alta há poucas semanas encarou a possibilidade de a demanda recuar ainda mais caindo 4% apenas no pregão de ontem, a maior queda em três meses, para US$ 2,6295 por libra-peso. Esse recuo obrigou a bolsa a fazer uma chamada para o aumento de margens.
Diante do atual cenário, já há quem fale em uma completa reversão de tendência para os preços das commodities. Cálculos do Valor Data baseados nas variações de contratos futuros de segunda posição de entrega (normalmente a de maior liquidez) mostram que o café já acumula perdas de 3,22% em março até o pregão de ontem, enquanto o trigo já perde 12,11%. Os dois produtos ainda conseguem se manter no campo positivo no recorte anual, de 8,75% e 0,94%, respectivamente.
No caso da soja e do milho, a situação começa a se agravar. A queda registrada nos últimos dias já faz a oleaginosa acumular perdas de 6,36% em março e de 8,91% no ano. No caso do cereal, o recuo chega a 14,26% nos primeiros quinze dias de março e a 14,65% ao longo de 2011.
Mas não é apenas a provável redução da demanda que influenciou e continuará influenciando o preço das commodities nos próximos pregões. “O aumento dos níveis de radiação fez com que as pessoas reduzissem as posições em ações e commodities para procurar ativos mais seguros”, disse à Bloomberg Alan Brugler, presidente da Brugler Marketing & Management. Para o analista, existe no mercado uma maior aversão ao risco, o que deve continuar até que a situação no Japão se estabilize.