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Agroindústria

BRF deve vender empresa forte, diz Cade

Empresa que comprar os ativos da BRF será a vice-líder do mercado. "Estamos extremamente atentos à (empresa) entrante, pois a solução concorrencial vai depender disso", afirma o conselheiro Ricardo Ruiz.

O Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) do Ministério da Justiça vai exigir que a BRF Brasil Foods entregue uma empresa forte para a concorrência. “O (José Antonio do Prado) Fay, presidente da BRF, disse que vai preparar uma noiva para vender à concorrência. Pois nós queremos uma noiva bonita”, afirmou o conselheiro Ricardo Ruiz, que conduziu as negociações pelas quais a compra da Sadia pela Perdigão foi aprovada com condições, na quarta-feira.

Segundo ele, o êxito da decisão depende da empresa que comprar o pacote de fábricas, centros de distribuição de produtos e abatedouros, que equivalem a 730 mil toneladas de produtos, e vai ser concorrente direta da BRF em 14 mercados dominados pela Sadia e a Perdigão.

Pelo acordo assinado com o Cade, há apenas três condições para essa empresa. Ela deve ter: higidez financeira, capacidade administrativa e gerencial e não ter vínculos com a BRF. Mas, Ruiz ressaltou que é o Cade que vai dizer o que é higidez financeira e capacidade gerencial. “O Cade é o pai da noiva e vai ter que dar ok para o casamento”, enfatizou.

Para chegar à “noiva bonita”, a BRF vai ter de entregar ativos em pleno funcionamento. Ruiz lembrou que há punições de R$ 25 milhões à empresa por infração ao termo assinado com o Cade. Isso inclui, por exemplo, entregar fábricas em mau estado de funcionamento. Também há multas em igual valor por cada ponto percentual perdido nas marcas que serão postas à venda.

“O comportamento da BRF tem que ser milimetricamente na linha do termo de compromisso de desempenho”, afirmou o conselheiro Olavo Chinaglia, que presidiu o julgamento. “Se a companhia pisar um dedo do pé para fora (do acordo), vai acender um sinal amarelo e podemos discutir a revisão da decisão”, completou.

Especialistas em antitruste questionam se esse monitoramento vai, de fato, funcionar. Para o economista Luís Fernando Rigato Vasconcellos, que foi conselheiro do Cade, o órgão antitruste “não tem como ficar de babá de empresa”. “Ainda não sabemos se, juntos, esses ativos, vão funcionar”, afirmou Vasconcellos, referindo-se ao pacote que será vendido a concorrentes. Para ele, “a função do órgão antitruste não é a de fazer muita engenharia corporativa”, pois, com isso, “ele vai ter que ficar monitorando a implementação de todas as condições.”

Outro receio de especialistas é o de que a BRF utilize a marca Sadia para ocupar o espaço deixado pela suspensão da Perdigão. “Na verdade, a companhia pode ganhar os consumidores da marca Perdigão utilizando a marca Sadia”, afirmou Arthur Barrionuevo Filho, ex-conselheiro e professor da FGV.

Ele teme que os preços de produtos Sadia sejam reduzidos apenas para impedir concorrentes de ocupar o vácuo deixado pelo fim da Perdigão. Segundo ele, depois desse movimento de baixa de preços, a companhia teria menos concorrentes e, com isso, poderia voltar a aumentar os preços da marca Sadia no futuro.

Chinaglia não aposta nesse movimento. O conselheiro avalia que, para abocanhar a demanda da Perdigão, a Sadia vai precisar de capacidade produtiva. Como a BRF terá de vender uma série de ativos, ela não teria capacidade para tanto. Além disso, a empresa que comprar os ativos da BRF “vai ter fôlego para reagir a movimentos da BRF e criar produtos e marcas novas”. “O consumidor vai ter acesso à marca Premium (Sadia) a preços menores e, depois, terá outros produtos para comprar (de concorrentes)”, disse o conselheiro.

Ruiz acrescentou que a empresa que comprar os ativos da BRF será a vice-líder do mercado. “Estamos extremamente atentos à (empresa) entrante, pois a solução concorrencial vai depender disso. Ela não pode transferir ativos degradados ou que não funcionem”, disse.

Tanto Ruiz quanto Chinaglia avaliam que o caso BRF ainda não acabou. Para Ruiz, o Cade vai viver, agora, a terceira fase do processo. A primeira terminou com o voto do relator, Carlos Ragazzo, pela reprovação do negócio. A segunda foi a fase de negociações que terminou no acordo entre a BRF e o Cade. Agora, há a terceira fase que é a de implementação daquilo que foi acordado. “Essa fase é decisiva”, constatou Ruiz.