Mesmo sem encerrar o embargo imposto às carnes brasileiras desde 15 de junho, a Rússia aceitou um pedido do Ministério da Agricultura para adiar a aplicação de medidas de restrição temporária a um grupo de 37 unidades frigoríficas do país a pedido do próprio governo brasileiro.
Os russos passaram, de 6 de julho para 2 de agosto, a data-limite para o embarques dessas plantas. A medida foi acertada na semana retrasada, após teleconferência de uma hora e meia da equipe brasileira com o vice-diretor do Serviço Veterinário da Rússia, Evgueni Nepoklonov. Os russos também esclareceram ao ministério que a restrição temporária derivada de um foco de estomatite vesicular (cujos sintomas são semelhantes aos da febre aftosa) em Tocantins está restrita apenas ao município onde houve o registro da doença – Chapada da Natividade. Há dois frigoríficos impedidos de exportar em decorrência do caso.
Uma delegação brasileira esteve em Moscou em 6 de julho justamente para tentar o fim do embargo a 85 unidades de Mato Grosso, Paraná e Rio Grande do Sul. Em troca, ofereceu a lista de 37 plantas que poderiam ser consideradas com restrição temporária. Parte delas não exportava há mais de um ano e outra parcela havia pedido, segundo membros da delegação, a desabilitação de forma voluntária. Comandavam o grupo, em Moscou, o secretário de Defesa Agropecuária, Francisco Jardim, e o diretor de Inspeção de Produtos de Origem Animal, Luiz Carlos Oliveira.
Mas os russos voltaram a elevar o tom contra irregularidades em cargas brasileiras. Relataram “inconformidades” em análises laboratoriais em lotes exportados à Rússia em junho e julho, além de condicionar a liberação de 32 dessas unidades a “monitoramento laboratorial”. E insistiram que houve “perda de eficiência” dos serviços veterinários estaduais e locais no Brasil e pediram “informações adicionais” sobre isso.
Na teleconferência, a Secretaria de Defesa Agropecuária disse ter adotado as “medidas ajustadas” com o serviço russo e prometeu que até setembro fará novas inspeções em “todas as plantas” que teriam as “melhores condições” de atender as exigências russas. E propôs novos encontros técnicos, especialmente na área de laboratórios, além de reiterar convites aos russos para participar de visitas e reuniões técnicas.
O diretor Luiz Carlos Oliveira afirmou ao Valor que os russos descumpriram um acordo firmado anteriormente. “Queremos reforçar nosso pedido que foi feito na Rússia no dia 7. Fizemos uma proposta que dividia 88 estabelecimentos para liberação imediata de exportação pois o problema já havia sido resolvido e 37 que ficariam com restrições temporárias para que pudéssemos avaliar novamente os frigoríficos. Para nossa surpresa houve a publicação da lista das 37, e não das 88”, diz.
As autoridades russas já avisaram que só haverá relaxamento nas restrições quando o Brasil responder, de forma cabal, os porquês da contaminação das carnes por bactérias coliformes, listerias, mofos e micro-organismos aeróbios e anaeróbios. Os russos afirmam tratar-se de “substâncias proibidas e nocivas”. Os problemas foram detectados nos laboratórios russos e estão comprovados com várias dezenas de “atas de perícia” enviadas à SDA.
No Paraná, Rio Grande do Sul e Mato Grosso são cinco empresas em cada; em São Paulo e Goiás, duas; e em Santa Catarina, Rondônia, Mato Grosso do Sul e Minas Gerais, uma em cada um. “Os fatos citados e os resultados insatisfatórios da inspeção, realizada por especialistas do Serviço Federal de Controle Veterinário e Fitossanitário em 2011, comprovam controle insuficiente de produtos fornecidos à Federação da Rússia da parte do serviço veterinário estatal de referidos Estados”, escreveu o vice-diretor do serviço russo Alexey Saurin no dia 29 de julho.