Enquanto brasileiros e argentinos fazem de tudo para provar quem é o rei do futebol das Américas e que jogador melhor representa esta superioridade, se Pelé ou Maradona, na rentabilidade do agronegócio, sem dúvida alguma eles colocam o Brasil e Mato Grosso – maior produtor nacional de soja – no chinelo, como se diz popularmente. Além de terras naturalmente férteis, o escoamento da produção é feito por meio de uma invejada infraestrutura logística que permite, por exemplo, que o maior navio graneleiro do mundo – o Panamax que carrega de uma vez 65 mil toneladas – aporte do lado argentino do rio Paraná e saia do complexo portuário de Rosário direto para a China.
Mas a vantagem competitiva das exportações argentinas é apenas o ponto final de uma saga repleta de etapas positivas à produção de soja quando comparada ao que acontece no Brasil e em Mato Grosso. Enquanto toneladas de soja percorrem mais de 2 mil quilômetros de Sorriso (MT) até o porto de Santos (SP) para serem despachadas com destino à China, por exemplo, na Argentina a distância entre a região produtora do grão até o porto não passa de 500 quilômetros.
A região da grande Rosário, na província de Santa Fé, concentra cerca de 80% da produção nacional de soja na Argentina, cujo volume da safra 10/11 atingiu 50 milhões de toneladas. A primeira vista, a região poderia ser comparada ao Cerrado brasileiro devido a sua importância dentro da produção do grão no país. Entretanto, a similaridade que mal começou finda por aí mesmo, já que num raio de 65 quilômetros existem 13 indústrias de esmagamento de soja, o que torna a região a maior esmagadora do mundo, com capacidade para 130 mil toneladas ao dia. Para chegar até o porto, a soja roda em média 300 quilômetros em rodovias até chegar ao complexo portuário de Rosário, de onde pode seguir diretamente para a China e para a Europa.
Esse corredor de produção registra um crescimento exponencial nos últimos dez anos. De quatro portos na década passada, agora são 12 até o norte de Rosário, fruto de um esforço conjunto de ações público-privadas.
A logística da porteira para fora permite, por exemplo, que o custo de frete de uma tonelada até o porto fique em torno de US$ 20, ante uma média de US$ 120 t de Sorriso (MT) até o porto de Santos (SP), uma diferença de 500%.
“Muitas vantagens se revelam em favor da Argentina. A produção local está em plena expansão e isso pode ditar o mercado. Sem dúvida esse conjunto logístico e a anunciada expansão da área plantada rumo à região do Chaco, trazem riscos ao Brasil e mostram o quanto estamos defasados em relação às demandas logísticas, seja no Mato Grosso, seja no Brasil”, aponta o diretor técnico da Associação dos Produtores de Soja e Milho do Estado (Aprosoja/MT), Luiz Nery Ribas, que conheceu in loco o complexo portuário de Rosário.
Nova Rota – O complexo portuário de Rosário pode ser uma alternativa de escoamento à soja mato-grossense. A possibilidade de utilizar a hidrovia Paraguai-Paraná, partindo de Cáceres (225 quilômetros ao oeste de Cuiabá), é ainda um estudo embrionário, mas que na teoria se mostra viavél, pois a maior parte da distância seria percorrida por hidrovia. “Solicitamos à administração do porto de Rosário dados referentes aos custos das operações para analisarmos. Se houver vantagem nesta rota, certamente iremos canalizar esforços para se tornar uma realidade”.