Apesar do longo comunicado de 19 páginas e 95 itens, a reunião do G-20, que agrupa as economias mais importantes do planeta, foi econômica em definições para resolver os problemas de curto prazo que ensombrecem as perspectivas da economia mundial. Em relação à crise da zona do euro, que em breve jogará os países europeus na recessão, os chefes de Estado e governo quase nada puderam fazer, além de dar apoio ao plano de combate traçado pelos líderes europeus em 26 de outubro. O G-20 foi atropelado na véspera do encontro pela decisão da Grécia de realizar um referendo sobre o pacote de ajuda, e os governantes do bloco tiveram que deslocar boa parte de seu esforço para desarmar a bomba grega.
Em dois extensos parágrafos, que mostram que os governos do G-20 não estão alheios ao que se passa nas ruas, o comunicado aponta que “o emprego deve estar no coração das ações e políticas” que serão tomadas na recém-criada força-tarefa do grupo com esse objetivo. Entretanto, o G-20 foi incapaz de encontrar uma visão uniforme sobre as formas de relançar o crescimento e diminuir o desemprego, e o texto final contempla duas visões que no curto prazo são praticamente antagônicas. Ao mesmo tempo em que não faz ressalvas aos planos de austeridade fiscal de ajuste de curto prazo que estão deprimindo a economia europeia, aceita também o caminho do presidente Barack Obama. Ele prevê um equilíbrio no médio prazo das contas públicas, acompanhado de um pacote de curto prazo para “sustentar a recuperação por meio de investimentos públicos, reformas de impostos e medidas específicas para criação de empregos”. A dívida americana, porém, é tão grande quanto a de alguns países da zona do euro que estão em apuros e, conscientemente, vetaram a saída dos estímulos fiscais como um passo para voltar a crescer.
Enquanto os EUA se comprometem a colocar a relação entre sua dívida e o Produto Interno Bruto em trajetória declinante a partir de 2015, a Itália, terceira maior economia da zona do euro, terá de fazê-lo já a partir do ano que vem e obter um orçamento equilibrado em 2013. Da mesma forma, a França em 2013 terá de reduzir seu déficit público a 3% do PIB. Já os países que estão com as contas fiscais sob controle – Brasil, Alemanha, Coreia, Canadá, Austrália, China e Indonésia são citados – concordaram em tomar medidas de estímulo à demanda se as condições econômicas piorarem, ainda que “mantendo suas metas fiscais de médio prazo”.
Criado para coordenar as ações para retomar o crescimento e criar mecanismos para prevenir e atenuar crises futuras, o G-20 simplesmente limitou-se a aceitar os rumos seguidos pelos países-membros, embora eles não sejam compatíveis entre si.
Não houve acordo de imediato em outra questão importante, a de reforçar os recursos do Fundo Monetário Internacional, onde países europeus são hoje os maiores tomadores de crédito. Todos concordaram que o FMI precisa disso, e dotá-lo de US$ 1 trilhão, já considerado o dinheiro nos cofres da instituição, pode ser uma meta factível, mas o G-20 não se comprometeu com números. Na próxima reunião dos ministros de Finanças do grupo, em dezembro, haverá uma discussão sobre opções à disposição para reforçar o poder de fogo do Fundo.
Os países desenvolvidos concordaram em acelerar o rearranjo das cotas do FMI decidido em 2010 e a rever em 2015, ou se possível antes, a cesta de moedas que serve de base ao valor dos Direitos Especiais de Saque (SDR), para adaptá-la ao avanço do poder econômico dos países emergentes.
As grandes desavenças em torno do câmbio e dos ajustes estruturais entre países superavitários e deficitários em conta corrente aparentemente foram deixadas de lado e substituídas por uma súbita concórdia. Alemanha e China aceitam tomar medidas para tornar seu crescimento mais dependente da demanda interna. A China é cumprimentada por sua determinação de “aumentar a flexibilidade da taxa de câmbio de forma consistente com os fundamentos de mercado”, embora o yuan quase não tenha se movido em relação ao dólar. No “plano de ação para o crescimento e emprego”, todos os países se comprometem a “evitar desalinhamentos cambiais persistentes” e evitar “desvalorizações competitivas” das moedas. Os países do G-20 parecem ter concordado em não discordar.