O mito de que brasileiro não faz conta na hora de abastecer não se confirmou mais uma vez neste ano. A disparada dos preços do etanol fez o consumo do combustível cair bruscamente nas primeiras semanas de janeiro. Apesar de reticente em antecipar dados, Alisio Mendes Vaz, vice-presidente executivo do Sindicato Nacional das Empresas Distribuidoras de Combustíveis (Sindicom), afirma que as empresas distribuidoras estão reportando queda de mais de 30% no consumo de etanol até o dia 18 de janeiro, em relação aos volumes inicialmente previstos pelas próprias empresas para o período.
Normalmente, as varejistas repassam os dados de vendas de combustível do mês corrente somente no mês seguinte, e referente a 30 dias. No entanto, explica Vaz, agora em janeiro a Agência Nacional de Petróleo (ANP), preocupada em monitorar o abastecimento, solicitou que as empresas apurassem o comportamento das vendas e informassem à agência reguladora antes de terminar o mês. Uma reunião entre o Sindicom e a ANP está marcada para a próxima semana, segundo o executivo. Procurada, a ANP não se pronunciou.
Enquanto o consumo de álcool recua, na mesma proporção, aumenta o de gasolina. José Antônio Rocha, secretário-executivo da Federação Nacional de Combustíveis (Fecombustíveis), diz que em uma reunião realizada na última sexta-feira com a Petrobras, teriam sido relatados problemas técnicos de abastecimento de gasolina em algumas regiões do País. “As companhias fazem programação de compra junto às refinarias da Petrobras de um determinado volume. Mas o consumo de gasolina em janeiro aumentou muito e rapidamente, quebrando essa programação”.
Vaz também relatou a ocorrência de percalços pontuais no abastecimento, mas que já teriam sido resolvidos. Entre os casos, estaria Minas Gerais.
O sindicato mineiro que representa os postos de combustíveis (Minas Petro) confirmou a ocorrência de problema de abastecimento na semana passada, que deixou sem gasolina alguns municípios do Sul e do Norte do Estado, segundo informou a assessoria da entidade. Mas, o desabastecimento momentâneo teria sido provocado pela produção de gasolina fora das especificações pela Refinaria Gabriel Passos (Regap), da Petrobras e não por falta do combustível.
Segundo levantamento da ANP referente à semana de 10 a 16 de janeiro, o litro do etanol em Minas Gerais está, na média, valendo R$ 1,95, cerca de 78% do preço médio da gasolina – R$ 2,479. A estimativa da Minas Petro é de que o consumo de etanol no Estado, o terceiro maior consumidor do combustível no País, foi da ordem de 10%, segundo Sérgio de Mattos, presidente do sindicato. “Aqui, o consumo de etanol no último ano cresceu 32,8%, enquanto que na média do Brasil, foi de 27,8%. Mas agora, o consumidor sentiu no bolso e está reagindo fortemente à alta”, diz.
Ainda conforme levantamento da ANP, somente está viável abastecer com álcool nos estados onde o preço da gasolina é mais elevado, como Mato Grosso e Tocantins, e onde há muita produção de etanol, como Goiás e Pernambuco, este último em plena safra. A forte reação do consumidor em deixar de consumir etanol se justifica pela evolução dos preços neste mês. Ate 2 de janeiro, a ANP registrava em seu levantamento semanal que em São Paulo, o maior mercado nacional de combustíveis, o preço do etanol equivalia a 68,67% do preço da gasolina, valendo, na média do Estado, R$ 1,67 o litro. Nesta semana encerrada em 16 de janeiro, o preço médio desse combustível no Estado já estavam em R$ 1,815 e correspondendo a 72,77% do preço da gasolina.
Conforme publicou o Valor, a Petrobras está direcionando a gasolina que iria exportar para atender a demanda crescente no mercado interno. Segundo fontes, o ritmo deste direcionamento estaria mais acelerado agora do que o esperado por conta do súbito aumento de consumo do derivado de petróleo. A estatal foi procurada, mas não houve retorno até o fechamento desta edição.