Os preços internacionais das principais commodities agrícolas negociadas pelo Brasil no exterior não resistiram aos movimentos financeiros derivados da turbulência em países da Europa, sobretudo a Grécia, e voltaram a perder sustentação em fevereiro.
Cálculos do Valor Data baseados nas médias mensais dos contratos futuros de segunda posição de entrega (normalmente os de maior liquidez) transacionados nas bolsas de Chicago e Nova York mostram que, dos oito produtos que fazem parte do levantamento, apenas o algodão apresentou valorização em relação à média de janeiro. Os demais, mesmo aqueles com fundamentos de oferta e demanda considerados “altistas”, registraram variações negativas.
Com os resultados, fecharam o primeiro bimestre com ganhos em relação à média de dezembro de 2009 apenas o açúcar (6,42%) e o suco de laranja (6,02%). Na comparação com as médias de fevereiro do ano passado, sete das commodities do levantamento (açúcar, café, cacau, suco, algodão, soja e milho) ainda aparecem com cotações médias mensais mais elevadas. Só o trigo cai.
Exceção em fevereiro, o algodão, negociado em Nova York, encerrou o mês com cotação média 2,80% superior à de janeiro, segundo o Valor Data. A alta foi construída entre os dias 8 e 23, quando os investidores retomaram posições após baixas anteriores consideráveis. Também colaboraram para o salto as recentes boas compras do produto americano pela China. Apesar da valorização, o produto ainda acumula queda de 0,22% em 2010. Nos últimos doze meses, contudo, o ganho chega a 61%.
Das commodities nova-iorquinas que perderam valor, o suco de laranja foi o menos afetado, com uma queda de apenas 0,26% em relação ao mês anterior. Os problemas na oferta da fruta na Flórida e as perspectivas de redução da produção também em São Paulo – os dois Estados reúnem os dois maiores parques citrícolas do mundo, com larga vantagem para o brasileiro – continuam a oferecer sustentação às cotações, conforme declarações de traders a agências internacionais. Assim, no ano há alta de 6,14%; em 12 meses, de 96,77%.
O preço médio do açúcar, por sua vez, diminuiu 4,59% na comparação com a cotação média de janeiro. Mesmo assim o patamar de negociações continua elevado, principalmente por causa da crise da Índia, que deixou de exportar e voltou a importar em 2009 e segue a mesma trilha em 2010. A valorização acumulada na bolsa de Nova York este ano chega a 5,9%, e em 12 meses, a também expressivos 94,18%.
O café também foi tragado pelas turbulências financeiras e fechou fevereiro com preço médio 5,91% menor que o de janeiro. Mas, como o consumo mundial ainda se mostra pujante, os estoques globais estão magros e a safra da Colômbia foi prejudicada pelo clima adverso, analistas acreditam em recuperação. Mesmo com os fundamentos positivos para as cotações, o produto já apresenta desvalorização de 6,78% em relação à média de dezembro, ainda que em 12 meses os ganhos sejam de 15%.
O cacau completa a lista das principais commodities agrícolas negociadas no mercado nova-iorquino, e seu preço médio recuou 9,02% de janeiro para fevereiro, determinando a retração de 8,26% registrada neste ano, apesar dos eternos problemas políticos que sacodem a Costa do Marfim, maior produtor mundial. Em 12 meses, a valorização é de 17,71%.
Em Chicago, onde são negociadas as commodities agrícolas de maior liquidez e os fundamentos de oferta e demanda são mais “baixistas”, só houve quedas de preços médios em fevereiro.
O produto que mais caiu foi o trigo, único de toda a lista que faz parte do levantamento que o Brasil importa aos borbotões. Em fevereiro, o tombo foi de 6,01% em relação à média de janeiro, o que elevou a retração em 2010 para 8,41%; em 12 meses, a confortável relação entre oferta e demanda produz uma queda de 7,96%.
No caso do milho, a baixa em relação a janeiro foi de 5,64%, o que elevou a redução da cotação média em relação a dezembro para 8,31% e reduziu a alta em 12 meses para míseros 0,73%. Não é uma boa notícia para os produtores brasileiros, que viraram o ano muito estocados e contam com as exportações, ainda não regulares, para compensar a maré adversa no mercado doméstico.
Para a soja, carro-chefe do agronegócio brasileiro, a desvalorização do preço médio de fevereiro na comparação ao de janeiro foi de 3,88%, ampliando a perda no ano para 8,91% e diminuindo a alta em 12 meses para 1,72%. Aqui, as movimentações financeiras derivadas da crise europeia e das oscilações do dólar não atuaram sozinhas. Depois da boa colheita nos Estados Unidos no segundo semestre de 2009 e do bom desenvolvimento da safra sul-americana, a oferta tornou-se confortável como o previsto e a erosão poderá inclusive continuar, conforme analistas.