O ministro da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, Reinhold Stephanes, concedeu entrevista a jornalistas estrangeiros, nesta quinta-feira (18), e falou sobre perspectivas de exportação para 2010, infraestrutura e logística, questões comerciais com os Estados Unidos, irrigação e expansão agrícola. “O Brasil tem condições de continuar crescendo, nas próximas décadas, no mesmo ritmo e sem necessidade de derrubar nenhuma árvore do bioma amazônico. Faremos isso em termos tecnológicos, pela produtividade e sem expandir área”, destacou o ministro aos 16 jornalistas que participaram da entrevista promovida pela área internacional da Secretaria de Comunicação Social da Presidência da República (Secom).
Questionado sobre as perspectivas de exportação para a União Europeia (UE), em 2010, Stephanes explicou que a venda internacional de carne bovina brasileira deve crescer cerca de 20% e o bloco europeu absorverá a maior parte do produto. O ministro lembrou que o Brasil perdeu parte daquele mercado, há três anos, por questões relacionadas à rastreabilidade da carne, mas que auditorias anuais de técnicos da Comunidade Europeia vêm aprovando a evolução do trabalho nos últimos anos. “Estamos reconquistando a posição que já ocupamos anteriormente”, afirmou.
Meio ambiente e produção – Stephanes defendeu uma discussão racional, com apoio científico, para as questões relativas ao desenvolvimento agropecuário e o desmatamento. “O Ministério da Agricultura tem consciência de que podemos produzir com sustentabilidade. É preciso, apenas, ter a capacidade de construir melhor esse modelo, no debate entre ambientalistas e produtores”, ponderou. Ele lembrou que o setor agrícola já se mobilizou e adotou duas importantes ações que vão frear o desmatamento na Amazônia: o acordo que impede a plantação de soja no bioma e o Programa Boi Guardião, que monitora, via satélite, a criação de bovinos nos principais estados produtores daquela região.
Logística – A baixa infraestrutura das estradas no Centro-Oeste brasileiro e seu reflexo no custo final dos grãos produzidos na região foi destacada por Stephanes como grande preocupação do Ministério da Agricultura. “Quem produz um saco de milho no Sul do País pode receber até US$ 12, por outro lado, o produtor que está em Mato Grosso recebe menos da metade desse valor por conta dos custos do transporte”, lamentou. Ele garantiu que a questão está sendo amplamente estudada e medidas serão adotadas.
Contencioso do algodão – “O Brasil não está disposto a abrir uma guerra comercial com os Estados Unidos”, frisou Stephanes, sobre a retaliação aos subsídios norte-americanos aos produtores de algodão, autorizada pela Organização Mundial do Comércio (OMC). O ministro disse, ainda, que aquele país precisa sinalizar a vontade de debater o assunto e que todos os membros da OMC devem respeitar as decisões da entidade. “Se ganhamos, temos que adotar as medidas”, argumentou.
O ministro afirmou, ainda, que não teme consequências negativas a partir dessa retaliação: “tomamos cuidado para não haver restrições nos produtos que efetivamente necessitamos. Podemos restringir a importação de alguns produtos de interesse da agricultura, mas só se tivermos outros mercados que possam nos suprir”, comentou.
Cerrado e irrigação – O Cerrado é, segundo o ministro, a única área no Brasil, com potencial de expansão sustentável. “Devemos ter disponíveis, ainda, 50 milhões de hectares, o equivalente a toda a área de produção de grãos do Brasil, obedecendo a preservação de 35% de cada área explorada, além das margens de rios e riachos”, explicou. Stephanes ressaltou que, apesar da área disponível, nos próximos 15 anos, seriam necessários menos de 10 milhões de hectares dessa área, já que a ideia é avançar sobre as fazendas de pecuária e trabalhar para o aumento da produtividade.
O ministro destacou, ainda, o potencial de crescimento da produção brasileira no Centro-Oeste, por meio de investimento em irrigação. “O Brasil tem boas possibilidades no Cerrado, pois há terras planas e capacidade de armazenar muita água nos longos períodos chuvosos”, acrescentou. A região tem, atualmente, dois mil pivôs centrais e, na opinião do ministro, o número pode chegar a 30 mil. “Ali, poderão ser produzidas até três safras por ano’, informou.