A BRF-Brasil Foods continuará sendo uma companhia “controlada” pelos fundos de pensão por mais tempo do que se previa inicialmente. As fundações decidiram renovar o acordo de voto que venceria em abril de 2011 por prazo indeterminado. Juntas, elas não chegam a 51% do capital, mas formam o maior grupo de acionistas, com 27,2% das ações.
A companhia praticamente dobrou de valor desde seu nascimento. Quando a junção foi anunciada, em maio de 2009, as empresas somavam um valor de mercado de R$ 10,9 bilhões – sendo R$ 7,5 bilhões da Perdigão e R$ 3,4 bilhões da Sadia. Na sexta-feira, a empresa estava avaliada em R$ 19,8 bilhões.
No mercado, a BRF é cotada para ser uma das principais blue chips da bolsa brasileira. Atualmente, a ação representa 1,9% do Índice Bovespa. A expectativa, contudo, é que esse percentual aumente, conforme a evolução da integração e os resultados da combinação.
Os fundos celebraram o acordo de votos em abril de 2006, com validade de cinco anos, na época em que decidiram levar a então Perdigão ao Novo Mercado, e que perderam a maioria absoluta do controle com conversão das ações preferenciais em ordinárias.
O objetivo da renovação é o mesmo de quando foi feito: dar estabilidade à administração para implantar o plano estratégico. Mas por razões renovadas. Na época em que foi assinado, a ideia era trazer conforto aos gestores após a difusão do controle na bolsa.
Dessa vez, a preocupação é assegurar estabilidade para o “processo de integração da Sadia”, explicou Joilson Ferreira, diretor de participação da fundação do Banco do Brasil, a Previ. Sozinho, o fundo tem 13,65% da BRF-Brasil Foods.
Embora, a compra da Sadia pela Perdigão tenha sido anunciada há um ano, e efetivada societariamente em setembro, a integração operacional ainda não ocorreu, no aguardo da liberação do Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade). Daí, a importância de manter a administração, para efetivar os planos traçados.
As sinergias simples estimadas com a combinação são da ordem de R$ 500 milhões em custos e despesas, a partir de 2012.
Dessa vez, segundo Ferreira, não deverá haver um prazo fixo para vencimento do acordo. O diretor da Previ explicou que, assim como já é hoje, o documento não trará compromissos de vendas conjuntas ou direito de preferências.
As fundações também convidaram o BNDES, que tem cerca de 4% das ações, a participar do acordo. Porém, no mercado, a expectativa é que o banco não integre o documento, pois sua política é de não participação de acordos.
Apesar de ter se tornado viável apenas após os problemas financeiros da Sadia com os derivativos, que produziram um buraco de R$ 2,5 bilhões nas contas da empresa, a BRF mostra hoje contas confortáveis aos investidores. A junção das empresas foi acompanhada de uma oferta pública que trouxe R$ 5,2 bilhões ao negócio.
A BRF teve receita líquida de R$ 20,9 bilhões, em 2009, e lucro líquido de R$ 228 milhões. A dívida líquida estava em R$ 3,8 bilhões, ante os R$ 10,2 bilhões do momento da criação da empresa.