Redação (10/02/2009)- A criação de avestruzes no Paraná teve seu auge em 2003. Após uma série de irregularidades e escândalos, a ave virou sinônimo de prejuízo e ficou com fama de ser um péssimo negócio. Passada a turbulência, a atividade ficou relegada a alguns produtores que, aos poucos, estão conseguindo mudar a imagem negativa associada ao avestruz.
Para fortalecer o produto e garantir a seriedade do negócio, foi criada, ainda em 2003, a Cooperativa de Estrutiocultores do Paraná (Estrutiopar), que conta hoje com 20 cooperados. A estrutiocultora e presidente da cooperativa, Maísa Miró de Córdova, explica que a atividade já não possui mais os ranços do passado e é altamente lucrativa. "O bom do avestruz é que você não precisa de um espaço grande para cria-lo e nem ser um expert da vida no campo. Ele é um animal saudável, não é necessário gastar muito com a alimentação e sua carne, pluma, couro e ovo têm boa aceitação no mercado", revela.
Muitos criadores apareceram na época do "boom" da criação, no entanto, o golpe aplicado pela empresa Avestruz Master, em 2005, que lesou investidores com prejuízo milionário, prejudicou a imagem do produto e levou muita gente a desistir do investimento na ave. "Felizmente, hoje só tem gente séria trabalhando na estrutiocultura e acredito que toda essa história negativa por trás do produto já é uma página virada", afirma a criadora.
Córdova informa que boa parte do mercado do avestruz consiste na venda da carne, que responde por 65% da renda obtida com a ave. O couro corresponde a 20% e as plumas, 5%. "As plumas e o couro são mais fáceis de vender. Agora, com o Carnaval, boa parte da produção vai para as fantasias, enquanto outra abastece a indústria de espanadores. O couro é utilizado na confecção de bolsas, cintos, sapatos, entre outros produtos. A carne já tem um mercado mais fechado porque o brasileiro ainda não tem o hábito de comer a carne de avestruz", detalha.
Para ser um estrutiocultor, Córdova diz que o investimento não é tão alto quanto parece. "No ápice (do mercado), um casal reprodutor chegou a custar R$ 15 mil. Hoje você pode encontrar por R$ 3 mil, em média. A alimentação deles é simples, misturando pasto comum e cereais, como a cevada."
Sem crise
Mesmo com a crise financeira mundial, a atividade teve balanço positivo e houve aumento na demanda. "Do início até o final de 2008, verificamos que houve um aumento de 30% na venda da carne. Os outros produtos também obtiveram índice semelhante", comemora a presidente da Estrutiopar. Embora a produção ainda seja tímida, ela acredita que o Paraná pode se desenvolver ainda mais na área. "Acredito que hoje somos o quinto (estado) na estrutiocultura. São Paulo é o principal. Nossa produção hoje gira em torno de mil animais e temos potencial para crescer", garante.
Quem tiver interesse na estrutiocultura pode entrar em contato com a Estrutiopar. A cooperativa fornece orientação, oferece cursos e é certificada pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa). O telefone para contato é (41) 9943-8247.
Passada turbulência, ideia é fortalecer produto
O estrutiocultor Pedro Maia é um dos criadores que sofreu com as turbulências da atividade e conseguiu superar as adversidades, seguindo até hoje no ramo. Ele iniciou os trabalhos com o avestruz
há cinco anos, época da "explosão", e vivenciou todo o imbróglio gerado com o golpe aplicado pela Avestruz Master em investidores. Maia lembra que estrutioculturismo passou por momentos delicados, mas garante que hoje está melhor. "Felizmente, os fatos lamentáveis do passado ficaram no passado. Já não existe mais aquela desconfiança em torno dessa atividade", garante.
O criador diz que a ideia agora é fortalecer a marca do avestruz. "Temos um mercado pequeno, porém, satisfatório. Queremos expandir a atividade, trabalhar firme na parte do mercado consumidor. Por falta de mais informação, as pessoas ainda consomem pouca carne de avestruz. Nós precisamos quebrar essa barreira cultural e fazer com que entendam que o consumo desse alimento é
tão natural quanto da carne bovina ou suína", revela. A expectativa é que, em breve, o setor invista mais em marketing e melhore a logística do produto.
O preço da carne, que chegou a assustar há cinco anos, hoje já não é mais um empecilho para o consumo. De acordo com o estrutiocultor, peixes como salmão ou cortes bovinos nobres, como o mignon, são mais caros que o avestruz. "E só uma questão de costume mesmo. O preço já não é desculpa para não comer carne de avestruz. Além disso, ela é bem saborosa e tem um alto valor nutritivo", informa.
Para iniciar uma boa produção, Maia diz que o ideal é começar com oito a dez casais. Ele garante que a atividade é uma ótima oportunidade para quem quer complementar e ampliar a renda. "Os produtos relacionados ao avestruz são de boa qualidade e possuem boa aceitação. Quem sabe lidar com essa área garante uma fonte de renda a mais", finaliza.
Cortes que variam de R$ 15 a R$ 35
A produção da carne do avestruz paranaense é consumida, por enquanto, apenas no Paraná, vendida para restaurantes e casas de carnes. Entretanto, a estrutiocultora Maísa Miró de Córdova garante que a ideia é ampliar o mercado. "Esperamos em breve vender nossa carne para Santa Catarina. Futuramente, nossa meta será vender para o exterior. Os abatedouros estão se adequando às exigências para que possamos exportar a produção", adianta. O preço da carne, que chegou a R$ 100 o quilo, hoje sai bem mais em conta. "Temos cortes que variam de R$ 15 até R$ 35. Pode parecer caro num primeiro momento, mas, por ser extremamente saudável, acaba valendo a pena. É uma carne que tem pouquíssimo colesterol, rica em ferro, possui ômega-3 e ômega-6 e não tem contraindicação", afirma. O criador Pedro Maia explica que o que motivou a queda do valor da carne foi a diminuição dos custos de produção. "No início, quando a gente não tinha ideia de como trabalhar, gastávamos bastante e isso encarecia o custo. Como agora já temos knowhow, conseguimos diminuir em 150% o preço da carne", revela.