Redação (26/02/2009)- A valorização do euro nos últimos meses criou oportunidades para os produtos agrícolas brasileiros no mercado árabe em 2009. Há alguns meses, especialistas lembram que a eficiência em logística do bloco europeu, favorecida pela proximidade com os árabes, reduzia o potencial competitivo brasileiro no oriente médio Porém, afirmam que essa situação deverá se inverter em 2009 por causa do maior custo na aquisição das mercadorias do velho continente, inflacionadas pela valorização da moeda europeia frente as outras do bloco árabe.
Produtores e empresários brasileiros se preparam para pegar carona nessa oportunidade e assim ampliar ou até mesmo abrir novos mercados para recompor suas margens de lucro, que ficaram espremidas após os picos históricos de preços que os insumos atingiram em 2008. Além disso, os árabes surgem como uma opção em relação aos tradicionais norte-americanos e europeus, grandes compradores do Brasil, que tiveram suas economias fortemente abaladas pela crise.
AL-Ayed Mohammed, gerente internacional de importação da Awrad Aldana Est., com sede na Arábia Saudita, afirma que o mercado árabe e extremamente dependente de importação e a valorização do euro criou uma oportunidade para a cadeia produtiva brasileira. "Importamos mais de 90% dos alimentos que consumimos. A melhor oportunidade para o Brasil e agora porque o nível de confiança nos países asiáticos também esta abalado e não há outros mercados para buscar produtos".
O executivo disse ainda que a demanda por alimentos na região tem crescido gradativamente mas, segundo afirmou, os exportadores brasileiros não têm se mostrado suficientemente flexíveis nas negociações. Ao contrário dos empresários brasileiros, os europeus sabem como negociar, declarou. "O brasileiro precisa aprender a lutar para colocar o produto no mercado e não somente promovê-lo".
Potencial de consumo
O potencial de consumo do oriente médio é considerado o principal atrativo para as empresas na opinião de Valeska de Oliveira, gerente executiva do Instituto Brasileiro de Frutas (Ibraf), entidade cuja algumas empresas filiadas estão de olho na região Porém, concorda que a valorização da moeda europeia juntamente com o dólar ampliam as margens de exportadores e aumenta a competitividade do Brasil. "A ideia de se aproximar dos árabes é anterior a crise, mas o custo do frete era realmente um entrave para a evolução das negociações".
Além de destacar o poder de compra dos árabes, Maurício Borges, diretor da Agencia Brasileira de Promoção de Exportações do Brasil (Apex-Brasil), lembrou da importância logística que Dubai possui como pólo de distribuição para vários mercados da região Fabiana Giuntini Giffoni, gerente de operações da Apex em Dubai conta que o porto de Jebel Ali, movimenta cerca de 11 milhões de contêineres por ano. Ela destaca o sistema econômico da região como outro fator importante. "O governo local oferece um tipo de zona franca (livre de impostos) onde é possível montar uma estrutura para distribuição ao varejo.
A Apex possui um galpão nesse local e pode facilitar o acesso de empresários na região", revelou Fabiana. Borges disse que a busca por novos compradores pode ser utilizada como uma maneira de recompor preços. "A alta renda per capita por aqui permite que as empresas trabalhem em nichos específicos de alta remuneração", afirmou.
Limões e mangas
"Estamos buscando boa rentabilidade e podemos encontrar isso no mercado árabe", observou Márcio Eduardo Bertin, da DarosBr, exportadora de frutas brasileiras. Suas vendas estão concentradas no Canadá e Europa, para onde os embarques somam mais de 100 toneladas por semana entre limões e mangas.
Segundo disse, a crise não reduziu o volume de exportações. "Nosso objetivo é pulverizar a atuação em outros mercados e assim reduzir a dependência de um só comprador". A gerente executiva do Ibraf acrescenta que os produtores estão mudando a estratégia, buscando acessar o mercado com produtos identificados. "Assim é possível construir uma marca e até mesmo agregar valor ao produto", acrescentou.
A indústria processadora de trigo também acredita no potencial árabe Para José dos Santos Reis, presidente do Sindicato da Industria de Massas Alimentícias e Biscoitos do Estado de São Paulo (Simabesp), países como Omã e Emirados Árabes possuem alto índice de consumo de biscoitos. Segundo disse, a indústria processadora de trigo já exporta para a região "Mas queremos ampliar nossa participação". Segundo disse, o mercado árabe representa menos de 8% da receita das exportações totais, que cresceram 31% em 2008, atingindo US$ 3,38 milhões