Com um mercado consolidado no Brasil, onde desfruta de posição confortável em quase todos os segmentos em que atua, a nova Brasil Foods deve concentrar suas forças no exterior a partir de agora. Após a fusão, ela assume posição de peso entre as maiores empresas de alimentos do mundo e começa a brigar de igual para igual por esse mercado bilionário. O primeiro passo nesse sentido é a suspensão dos planos de vender a fábrica da Sadia em Kaliningrado, na Rússia – decidida por causa do agravamento da crise provocada por operação com derivativos -, e a retomada do projeto de construção de uma nova unidade nos Emirados Árabes.
Hoje, as vendas para o exterior respondem por 46% do faturamento da Sadia. Na Perdigão, correspondem a 39% do total. A estimativa de analistas é que essa participação aumente. “Juntas, as duas vão ter mais forças para atingir novos países e crescer mais rápido no mercado mundial”, afirma um analista que acompanha as duas empresas. Segundo ele, a nova escala somente acelera esse movimento, uma vez que as companhias já se beneficiam de vantagens competitivas do País. “O custo de produção da carne brasileira já é mais baixo, e ainda virão os ganhos das sinergias.”
Para o diretor técnico da consultoria Agra FNP, José Vicente Ferraz, a perspectiva traçada há alguns anos para o setor de alimentos, em que a demanda cresceria enquanto as áreas de produção ficariam cada vez mais escassas, permanece mesmo com a crise. E beneficia a nova multinacional brasileira de alimentos. “A tendência de urbanização e de ganho de renda em países como China e Índia é irreversível. As carnes são produtos que devem ser beneficiados muito fortemente por essa demanda extra”, acredita Ferraz.
Na briga por esses novos consumidores, Sadia e Perdigão, agora unidas, vão competir com outras gigantes, como as norte-americanas Tyson, Kraft e General Mills. “Os Estados Unidos são de longe o maior concorrente no mercado mundial”, diz o diretor da Agra FNP. Segundo ele, os americanos também têm armas poderosas nesse mercado. “Eles têm muita produtividade por causa do milho e um grande mercado consumidor. Além disso, compensam a mão de obra cara com seu peso no mercado mundial, que garante acesso privilegiado a outros países e poder de barganha”, explica.
Outro desafio será transpor as barreiras do comércio internacional, principalmente em carnes. “Há um protecionismo muito forte nessa área e será preciso habilidade política para enfrentá-lo em mercados importantes, como o europeu”, diz Ferraz.
Presentes em mais de cem países, Sadia e Perdigão terão de decidir agora qual das duas marcas será mais eficaz na estratégia de expansão internacional. Segundo especialistas, apesar de pouco provável que uma delas seja abandonada, a Sadia tem a marca mais forte no exterior. “A Sadia exporta com marca, ao contrário da Perdigão”, diz um analista de mercado, que pediu para não ser identificado.