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Economia

Depois da recessão, PIB reage no 2º tri

Consumo, fim do ajuste de estoques e melhora de exportações puxam economia.

Depois de um primeiro trimestre no vermelho, a economia brasileira dá sinais de reação no segundo, puxado pelo consumo, pelo fim do ajuste de estoques na maior parte da indústria e uma inesperada melhora das exportações, principalmente de commodities. A aposta dominante é numa recuperação lenta, mas que, na visão de alguns analistas, ainda pode levar o Produto Interno Bruto (PIB) a fechar o ano com um crescimento modesto, entre 0,3% e 0,5%.

Há consenso de que, entre janeiro e março, o PIB recuou em relação aos três meses anteriores, feito o ajuste sazonal. Boa parte das projeções aponta para uma queda entre 1,5% e 2% no número a ser divulgado em 9 de junho. Como também houve contração no quarto trimestre do ano passado nessa base de comparação, configura-se o quadro de “recessão técnica”, marcada por dois trimestres seguidos de variação negativa.

 
 
 

Para o o período entre abril e junho, porém, a expectativa dominante é de um quadro mais positivo, até porque a base de comparação é fraca, como observa a economista-chefe da Rosenberg & Associados, Thaís Marzola Zara. Ela estima para o segundo trimestre uma alta do PIB próxima de 2% em relação ao primeiro.

O economista-chefe do Pátria Investimentos, Luís Fernando Lopes, vê uma recuperação da economia a partir do segundo trimestre amparada especialmente no consumo. Ele diz que, até o momento, a massa salarial e o desemprego ainda mostram um comportamento razoável, dando sustentação para o comércio. “De janeiro a abril, a massa salarial real [descontada a inflação] ainda teve crescimento de 5% sobre o mesmo período do ano passado, apesar da crise.” Ainda que tenda a perder fôlego ao longo dos próximos meses, é um quadro diferente do de 2003, quando a massa recuou 12%.

Para Lopes, que espera para o primeiro trimestre uma queda do PIB de 2% em relação ao anterior, a economia tende a avançar a um ritmo de 1,5% a 2,5% nos trimestres seguintes. Isso levaria o país a encerrar 2009 com um crescimento de 0,3%, um número modesto, mas superior ao da média do mercado, de contração de 0,53%.

Segundo ele, projeções de variação negativa em 2009 estão muito influenciadas pelo desempenho da indústria, o que pode levar a erros na previsão do resultado o PIB. Para a produção industrial de abril, a ser divulgada hoje, os analistas esperam uma alta de 0,7% a 2% sobre março, mas um recuo de 14% a 15% em relação a abril de 2008. Em resumo, a indústria deve cair neste ano, mas o seu peso no PIB é de 27%, bem abaixo dos 65% dos serviços, que tendem a encerrar 2009 com expansão, diz Lopes.

O economista-chefe da LCA Consultores, Bráulio Borges, também acredita que o comércio pode ter um desempenho razoável neste ano, já que o poder de compra de uma parcela significativa da população não é afetado pela deterioração do mercado de trabalho. Aposentados, pensionistas e funcionários públicos respondem por 35% da massa de rendimentos do país, observa Borges. Ele lembra que uma parte expressiva desse grupo teve aumento robusto neste ano, pois o salário mínimo, que corrige dois terços dos benefícios do Instituto Nacional do Seguro Social (INSS), subiu 12%.

Borges observa ainda que componentes importantes do setor de serviços, como aluguéis e administração pública, são pouco afetados pela desaceleração da atividade. Para ele, os serviços devem crescer 2% neste ano, garantindo uma alta do PIB de 0,5%, mesmo com a expectativa de tombo de 1,7% da indústria e de 1,4% para a agropecuária. Para o segundo trimestre, ele espera alta de 2,5% na comparação com o primeiro.

A recente melhora na situação do crédito para a pessoa física também ajuda na recuperação da economia no segundo trimestre, acredita Thaís. Para ela, a isenção do Impostos sobre Produtos Industrializados (IPI) para a linha branca deve dar algum alento às vendas desses produtos – a exemplo do que ocorreu com os automóveis. Essa combinação favorece o consumo das famílias, o mais importante componente do PIB pelo lado da demanda, com peso de 60%. Thaís ressalta, contudo, que a retomada da atividade deverá ser lenta. Ela projeta um PIB em alta de 0,3% neste ano, mas não descarta um número negativo.

Além da melhora do crédito, o economista Fábio Silveira, da RC Consultores, ressalta a mudança para melhor no cenário para a balança comercial. Até o começo de abril, ele projetava um saldo de US$ 8 bilhões, mas, com a alta das commodities nos últimos meses, revisou a estimativa para US$ 15 bilhões. Agora, Silveira espera exportações de US$ 170 bilhões neste ano, US$ 10 bilhões a mais do que na sua previsão anterior.

Esse novo quadro é positivo para a atividade econômica, por indicar que a demanda externa por produtos brasileiros não será tão fraca quanto se imaginava, avalia Silveira. No entanto, ele considera a recente disparada das cotações uma nova bolha especulativa, por ocorrer num cenário de recessão profunda nos países desenvolvidas. Com isso, há o risco de os preços voltarem a cair com força. Se isso não ocorrer nos próximos meses, porém, será um fator de sustentação para a atividade no segundo semestre, diz Silveira.

A economista Marcela Prada, da Tendências Consultoria Integrada, também vê uma retomada da atividade a partir do segundo trimestre, com base na perspectiva de que o ajuste de estoques na indústria chegará ao fim, na melhora das condições de crédito e no impacto ainda positivo da massa salarial sobre o consumo. Isso não é suficiente, contudo, para Marcela projetar um PIB positivo. Como o desempenho do primeiro trimestre foi pior do que ela esperava, a estimativa para o PIB neste ano caiu de uma alta de 0,3% para um recuo de 0,6%. Marcela projeta crescimento de 1,5% para o consumo das famílias e de 3,4% para o consumo do governo, mas aposta num tombo de 8,2% para o investimento na construção civil e em máquinas e equipamentos. Ampla capacidade ociosa e incertezas quanto aos rumos da demanda têm desestimulado as inversões.

Um dos motivos para as fracas previsões para o PIB neste ano é que a herança estatística (o “carry over”) de 2008 para 2009 ficou negativa em 1,5%. Isso significa que, se a economia se mantiver no mesmo nível do fim de 2008, o PIB deste ano vai encolher 1,5%. Mesmo com uma recuperação razoável a partir do segundo semestre, a herança negativa de 2008 torna difícil a economia fechar 2009 no azul, dizem analistas como Marcela.

Isso não quer dizer, no entanto, que a economia terminará o ano num ritmo fraco. Na verdade, é possível que, na comparação do quarto trimestre deste ano com o mesmo período de 2008, o PIB registre uma alta expressiva – em parte por causa da base fraca, em parte devido ao impacto sobre a atividade dos estímulos fiscais e monetários. Para Borges, o PIB entre outubro e dezembro pode crescer 4,9% sobre igual intervalo do ano passado. Lopes também tem um número otimista, de 4,25%. Marcela é um pouco mais cautelosa, prevendo crescimento de 2,6%.