Redação (21/01/2009)- As cotações do milho registraram alta em dezembro, depois de se manter em queda desde julho/08, informa o Cepea/Esalq. O impulso veio do retorno das exportações, da intervenção governamental, da restrição vendedora e da preocupação com o clima nas principais regiões do Paraná, Rio Grande do Sul, Minas Gerais, Mato Grosso do Sul.
Em dezembro, o Indicador ESALQ/BM&FBovespa subiu 5,3%, fechando o mês em R$ 21,29/sc de 60 kg. Na média das regiões pesquisadas pelo Cepea, os preços reagiram 3,4% no mercado de balcão (ao produtor) e 7,2% no mercado de lotes (negociação entre empresas).
Na BM&FBovespa, o contrato Janeiro/09 teve valorização de 14,5% no acumulado de dezembro; Março/09 subiu 16,1% e, Maio/09, 16,8%. Situação semelhante foi observada nas cotações externas, com o primeiro vencimento da CBOT acumulando alta de 16,5%. Mesmo assim, a média mensal foi de US$ 142,67/t, 3,05% inferior à de novembro.
Mesmo com as valorizações observadas no mês, a liquidez do mercado interno foi considerada baixa, com vendedores retraídos à espera de novas elevações. Compradores, por sua vez, evitaram novos gastos, adquirindo apenas o produto da “mão para a boca”, para necessidades urgentes.
Quanto às exportações, os dados de dez/08 surpreenderam agentes. Segundo a Secex, em dez/08, foram exportados aproximadamente 1,4 milhão de toneladas de milho. Desta forma, no acumulado de janeiro a dezembro de 2008, o volume exportado foi de 6,4 milhões de toneladas, resultando em receita de US$ 1,3 bilhão ao Brasil. Em dez/08, a média do valor recebido foi de US$ 181,67/t, o menor desde out/07.
Apesar do cenário positivo de dezembro, no correr de 2008, as cotações caíram expressivamente, devido sobretudo ao fraco desempenho das exportações no ano. No acumulado de 2008, o Indicador CEPEA/ESALQ (região de Campinas-SP) caiu 35% (sem considerar a inflação), passando de R$ 32,73 em 28 de dezembro de 2007 para R$ 21,29/saca de 60 kg no dia 30 de dezembro de 2008. Ao considerar os valores deflacionados pelo IGP-DI de nov/08, a desvalorização é de 40,4%.
O fato é que, diante das exportações recordes em 2007 e dos preços elevados do milho, produtores iniciaram 2008 com boas expectativas. Investimentos foram feitos acima do normal, com vistas a obter maior produtividade. Compradores, por sua vez, temendo fortes elevações nos preços, recorreram a contratos antecipados. Em janeiro, o clima ainda era de otimismo. Vendas antecipadas de milho foram efetuadas de forma expressiva, atingindo 13% da produção da safra de verão até o final daquele mês, e os embarques ocorriam satisfatoriamente.
Com o avanço da colheita de verão em fevereiro e março, contudo, os preços internos do milho recuaram. No Paraná, Minas Gerais, Rio Grande do Sul, São Paulo e Santa Catarina, principais produtores daquela safra, o clima favoreceu o andamento das atividades, sem relatos de baixa produtividade. Esse foi um dos fundamentos para que compradores seguissem retraídos, apostando em novos decréscimos de preços.
Em junho, no entanto, geadas ocorreram no Paraná, com perdas na safrinha de aproximadamente 1,3 milhão de toneladas. Esse volume correspondia a 19,24% da produção esperada inicialmente para o estado (6,8 milhões de toneladas) e a 7% da safra nacional de milho safrinha prevista pela Conab (18,5 milhões de toneladas).
Mas essas perdas não atrapalharam a perspectiva de safra recorde do grão no País. As atividades de colheita seguiram a todo vapor em julho. Esse cenário somado à retração de compradores, às exportações já desaquecidas naquele período e às baixas no mercado internacional mantiveram as cotações domésticas em queda. O fato é que, enquanto a produção nacional de milho alcançava níveis recordes, do lado da demanda, somente a interna correspondia às expectativas, ainda que sem muitos avanços em relação ao ano anterior.
A produção brasileira de milho em 2008 (verão e safrinha) totalizou 58,6 milhões de toneladas e o consumo interno, 44,5 milhões de toneladas, segundo a Conab. Somado aos estoques de passagem (6,6 milhões de toneladas) e descontadas as 5,07 milhões de toneladas exportadas, o excedente de mercado interno fica em torno de 15 milhões até novembro.
Enquanto os estoques mundiais estão baixos, os do Brasil são um dos maiores dos últimos anos. No agregado mundial, os estoques da safra 2007/08 também aumentam, mas são apenas 5% maiores que os da média das três safras anteriores. Nos Estados Unidos, a diferença será de -9,5%, na Argentina, de -53,8% e na China, de +9% – comparando-se estoques atuais à média dos três anos-safra anteriores.
Já no Brasil, os estoques devem ficar 268% superiores aos da média dos últimos três anos, segundo o USDA. Este quadro aliado ao fato de as cotações de milho no Brasil caminharem descoladas das externas na maior parte do ano sinalizam a falta a sustentação das cotações em curto e médio prazos.
No geral, aqueles produtores que colheram a safra de inverno e já a comercializaram garantiram lucro. Já para a maioria, que estocou o optou por esperar preços melhores para comercializar, o resultado se torna cada dia mais negativo, não sendo suficiente para cobrir o custo de estocagem. Somente em algumas regiões onde o investimento médio na cultura de inverno foi mantido – ou seja, não houve “excessos” – é que as contas ainda fecham. Para quem efetuou o plantio de milho verão da safra 2008/09, a situação também é de agravamento da contabilidade.
A rentabilidade da safra de verão 2007/08 foi satisfatória para a maioria dos produtores. Com isso, fizeram caixa e conseguiram segurar as vendas nos últimos meses do ano. Em novembro e dezembro, o mercado interno de milho manteve a lentidão, com compradores adquirindo o estritamente necessário para o consumo imediato e vendedores ofertando conforme a necessidade de caixa. Para manter a renda dos produtores, houve intervenção governamental através de vários mecanismos, envolvendo aproximadamente 1 milhão de toneladas de milho.
Foi neste cenário que o mercado operou durante todo o segundo semestre de 2008. Os agentes aguardam uma sinalização do que pode acontecer com a economia dos países importadores de carne de frango e suína depois desta crise financeira. É exatamente da demanda desses países que depende o aumento do consumo de milho no Brasil. Se as economias dos importadores vão bem, as compras de carnes e de alimentos de maior valor agregado tendem a aumentar. No Brasil, o consumo de milho historicamente depende da demanda interna, já que o País é um player casual nas transações internacionais do grão. Conquistar espaço neste mercado parece não ser o forte das empresas brasileiras.
Apesar das turbulências no mercado internacional, a expectativa é de continuidade do crescimento das exportações de carne de frango, suína e bovina, a menos que ocorra uma recessão mundial. Mas, o que se espera é apenas uma redução do ritmo de crescimento global.
Análise sobre o mercado de milho elaborada pelo Cepea. Análise completa está disponível em http://www.cepea.esalq.usp.br/agromensal/2008/12_dezembro/Milho.htm
Equipe: Prof. Lucilio R. Alves, Ana Amélia Zinsly, Flávia E. Gutierrez, Renata Maggian, Matheus Rizato e Karine Resende.