Redação (17/02/2009)- As importações brasileiras registraram queda mais intensa que as exportações na primeira quinzena de fevereiro, elevando o saldo da balança comercial para US$ 696 milhões no mês e revertendo o déficit registrado em janeiro, de US$ 524 milhões. Para economistas, mais do que uma melhora nas vendas externas, o resultado evidencia a desaceleração da economia no mercado interno e não exclui a possibilidade de outros déficits comerciais nos próximos meses.
Segundo o Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, as exportações somaram US$ 5,1 bilhões (média diária de US$ 510,1 milhões), 9,5% acima da média em janeiro, mas 24,3% abaixo da média de fevereiro de 2008. As importações atingiram US$ 4,405 bilhões (média diária de US$ 440,5 milhões), o que representou uma queda de 10,2% sobre janeiro e de 30% ante fevereiro de 2008.
Para o vice-presidente da Associação dos Exportadores Brasileiros (AEB), José Augusto de Castro, a queda na importação de combustíveis e lubrificantes constitui a principal causa para o superávit na quinzena. A média diária de importações do grupo ficou em US$ 36,147 milhões, 50,5% abaixo da média de janeiro e 69,7% inferior à média de fevereiro de 2008. "A importação está caindo muito, não sei se tem algo programado, se o governo tem estoques muito grandes ou se o mercado interno está se retraindo muito", afirmou. Ele observou que, em dezembro, a Petrobras elevou os embarques para sanar o déficit na balança, o que explicou a exportação fraca em janeiro e fevereiro. Neste mês, as exportações de petróleo e derivados somaram US$ 40,378 milhões, 43,5% acima da média em janeiro, mas 39,8% abaixo da média de fevereiro de 2008.
Na avaliação de Castro, a queda das importações sinaliza desaquecimento da economia brasileira. Posição semelhante tem o economista do Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (Iedi) Rogério César de Souza. Para ele, a demora das importações no processo de desaceleração está ligada à estrutura da corrente de comércio. As exportações são pautadas em commodities, que já sofriam os efeitos da queda de preços e de demanda no mundo desde o ano passado e cujos contratos são revistos com certa rapidez.
As importações, por sua vez, são compostas sobretudo por produtos manufaturados, negociados com contratos de mais longo prazo e cujos preços são reajustados com defasagem em relação às mudanças nas cotações das matérias-primas. "Os ajustes em manufaturados será mais lenta que em commodities. No primeiro trimestre ainda haverá muitos ajustes de preços e demanda e haverá mais oscilações na balança comercial", afirmou Souza. Ele não descarta a possibilidade de haver novos déficits na balança, mas afirma que, no ano, a tendência é de superávit, embora inferior ao de 2008.
O economista da RC Consultores Fábio Silveira vê nos resultados da balança os reflexos da recente retração nos preços internacionais do petróleo e seus derivados – o que provocou impactos tanto nas importações como nas exportações. O resultado também corrobora o desaquecimento da economia brasileira, evidenciado pelas quedas, em relação a fevereiro de 2008, nas importações de manufaturados, como aparelhos e instrumentos eletroeletrônicos (30,3%), automóveis e partes (21,9%), produtos plásticos (19,7%) e instrumentos de ótica e precisão (17,5%). "Em fevereiro, a contração do mercado doméstico pesou mais que a queda nos preços das commodities exportadas pelo Brasil. O impacto da desaceleração da nossa economia ficou evidente."
Silveira acrescentou que a melhora na oferta de crédito para financiar as exportações nas últimas semanas pode ter contribuído para elevar o saldo da balança no período. Ele estima que as importações irão desacelerar mais nos próximos meses e as exportações tenderão a crescer a partir de março com a colheita da safra de grãos. Para o ano, Silveira projeta superávit de US$ 8 bilhões. Até 15 de fevereiro, a balança registrou saldo positivo de US$ 172 milhões – queda de 91,3% ante o mesmo período de 2008. As exportações no ano caíram 22,3%, para US$ 14,883 bilhões, e as importações caíram 14,3%, para US$ 14,711 bilhões.