A Comissão Técnica Nacional de Biossegurança (CTNBio) aprovou nessa quinta-feira (10) a liberação comercial do primeiro transgênico desenvolvido com participação nacional: a soja tolerante a herbicida produzida numa parceria entre Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) e a multinacional alemã Basf. A nova espécie, resultado de dez anos de pesquisa, deve concorrer com as variedades Roundup Ready (RR) da Monsanto, até então a única liberada comercialmente no Brasil. “É um enorme ganho para o País”, comemorou o coordenador da pesquisa, o geneticista e engenheiro agrônomo Elíbio Rech, da Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia. A expectativa é a de que a nova espécie transgênica esteja disponível para a safra de 2012.
Mas além do mercado nacional, a liberação de hoje feita pela CTNBio abre caminho para o registro do produto em mais de 20 países produtores de soja e seus derivados. Entre eles, a China. Naquele país, é preciso que a espécie transgênica seja liberada no país de origem para o início de qualquer avaliação. Uma etapa que agora já está cumprida. “Abre-se a perspectiva de um mercado grande. “É uma commodity importante, o Brasil só tem a ganhar”, completou.
No mercado interno, a oferta de uma nova espécie de soja transgênica trará dois ganhos significativos, avalia o pesquisador. Com concorrência, a tendência é de que haja uma redução no preço do produto. Além disso, há possibilidade de se fazer o uso alternado de espécies transgênicas, reduzindo assim o risco de resistência. “É o mesmo processo que ocorre com antibiótico. Não é recomendável usar sempre o mesmo tipo, justamente para evitar que o remédio perca o efeito.”
A nova soja contém um gene da Arabidopsis thaliana (uma planta usada para pesquisas em várias parte do mundo), que traz a resistência a uma classe de herbicidas chamada imidazolinonas. A resistência permite que o herbicida possa ser aplicado em toda a lavoura sem prejudicar a soja. Para desenvolver a espécie, o pesquisador usou um gene patenteado pela Basf, o ahas. A tecnologia para transformação genética da planta foi desenvolvida por Rech e patenteada pela Embrapa. Para desenvolver sementes adaptadas a mais de um tipo de solo e de clima, o cultivo foi feito em dez áreas diferentes do País.
Além do projeto para o uso tradicional da soja, Rech desenvolve há alguns anos uma linha de pesquisa para acrescentar propriedades terapêuticas à planta. “O maior ganho seria a redução de preço de medicamentos: é isso que estamos buscando”, conta. Entre os projetos, estão o de acrescentar à soja substâncias usadas no tratamento do câncer e no tratamento da aids