A indústria de fertilizantes entregará no Brasil em 2009 o mesmo volume do ano passado, mas irá faturar, no mínimo, US$ 3 bilhões a menos. Ao contrário da maioria dos setores, a recuperação do segmento poderá vir da desvalorização do dólar, isto se o mercado consumidor sobreviver a ela. Após encerrar um ano com queda de 31% na receita, em dólares, a indústria do setor viverá em 2010 um paradigma cambial, no qual a medida em que o custo da matéria-prima diminui, os prejuízos financeiros de quem compra adubo no Brasil aumentam.
“O dólar derretendo é bom para a indústria de fertilizante, mas para o comprador é ruim pelas exportações”, avalia Eduardo Daher, diretor executivo da Associação Nacional para Difusão de Adubos (Anda). “Se o dólar entre R$ 1,75 e R$ 1,80 vai dar conforto as duas partes. Transita-se bem por aí”, completa.
Se a cotação do dólar é difícil de prever, a especulação sobre o mercado de commodities agrícolas já começou. Soja, milho e cana-de-açúcar respondem juntos por 67% da demanda por fertilizantes no Brasil. A perspectiva para as três culturas é positiva. A soja permanece em alta, o milho pode se recuperar com a menor oferta norte-americana, e as projeções para o preço do açúcar continuam altistas. No entanto, os produtores já apontam o câmbio como o principal vilão de 2010 e no próximo ano poderão, mais uma vez, optar pela redução nos gastos com insumos.
Para se ter uma ideia do impacto que uma restrição por parte dos produtores pode gerar no setor, este ano o Brasil adquiriu da Rússia, seu principal vendedor de adubo, apenas um terço do que havia comprado em 2008. Os gastos do País com as cinco principais matérias-primas e o produto final, entre janeiro a novembro, caíram de US$ 1,25 bilhão para US$ 835,9 milhões. O valor importado de alguns tipos de adubos químicos chegou a recuar até 82% nesse período.
Se a redução das importações restringiu a oferta interna do produto isso não se refletiu nos preços. Segundo informações da Fundação Getulio Vargas (FGV), o insumo ocupou a segunda posição na lista das cinco maiores deflações no atacado este ano no IGP-10, com queda de 45,89%.
Os primeiros números que essas empresas irão apresentar no próximo ano não devem ser positivos. O balanço das companhias presentes no País irá refletir a queda de 8,1% na produção de fertilizantes em relação a 2008, para 8,16 milhões de toneladas, e a retração de 23% na receitas, em reais, para R$ 19,16 bilhões.
Segundo o diretor da Anda, o primeiro semestre do próximo ano também não deve ser forte recuperação. “A recuperação de preço não deve acontecer logo porque deve haver o retorno da sazonalidade histórica habitual do segmento, no qual os primeiros seis meses do ano participam com 1/3 das vendas”, disse. No entanto, Daher reforça a ideia de que não há preço de preço, mas sim cambial.
Argentina
O balanço das indústrias de fertilizantes deverá ser afetado não só pela queda no faturamento no Brasil, o principal mercado para grande parte das empresas e que ficou 1/3 menor este ano, como também pela redução das vendas na Argentina, terceiro maior produtor mundial de grãos.
Segundo informativo da empresa de consultoria Investigações Econômicas Setoriais (IES), divulgado esta semana, o consumo, as exportações e as importações de agroquímicos na Argentina registraram retração de até 75% entre janeiro e outubro de 2009, ante o mesmo período do ano passado, consequências da seca “e das políticas erradas do governo” com o setor agropecuário. Segundo o estudo, as principais variações negativas nos valores importados estão nos fertilizantes, em especial nos nitrogenados e compostos que, pela sua importância quantitativa, determinam o crescimento do segmento. O boletim aponta queda de 57% na utilização de fertilizantes nitrogenados nos últimos 10 meses encerrados em outubro.
A queda no consumo aparente é maior do que informam os operadores sobre o crescimento do consumo real, que tinha baixado 30% no período, “o qual permite deduzir que foram consumidos os estoques de fertilizantes acumulados”, acrescentou o informativo.