Empresas que atuam em diversos pontos da cadeia produtiva, de fertilizantes a tratores, têm manifestado esse temor. Para uma delas, se o real continuar subindo e os preços das commodities seguirem o caminho inverso, os produtores brasileiros simplesmente deixarão de plantar. Outra afirma que sente o mercado chinês “muito melhor” que o brasileiro devido à questão cambial.
Levantamento nos balanços do terceiro trimestre e nas entrevistas a analistas que as empresas realizam regularmente mostra que a valorização da moeda brasileira é uma grande preocupação para gigantes como Bunge, John Deere, Tyson Foods, Monsanto e Potash.
O relato mais contundente é o do presidente da Bunge, Alberto Weisser. Ele disse que o real está tão sobrevalorizado que a construção de unidade de processamento de soja em Mato Grosso saiu mais cara em dólar do que se ela tivesse sido feita na Espanha ou nos EUA.
Segundo o executivo, mesmo se a cotação de produtos subir, a empresa terá de cortar custos e se tornar mais eficiente para manter as margens de lucro devido aos efeitos da alta do real.
“Houve uma época, quatro anos atrás, em que tínhamos uma opinião sobre o real, mas agora estamos apenas presumindo que ele vai ficar onde está. Então, precisamos ajustar a companhia em relação ao real, e não torcer pelo contrário.”
Ele diz ainda que o real fraco também é vantajoso para o produtor agrícola e afirma que, se a moeda “ficar mais valorizada e os preços das commodities recuarem, você não terá fazendeiros brasileiros plantando”.
Por um caminho semelhante segue a Tyson Foods, que afirmou que a alta da moeda prejudicou as suas exportações e que, ao contrário do que acontece habitualmente, o aumento dos preços em dólar não acompanhou a valorização cambial.
“As coisas estão um pouco melhor agora do que em outubro, mas ainda não estão onde precisam”, diz Rick Greubel, vice-presidente da empresa.
“Quando você está produzindo abaixo da capacidade máxima, seus custos estão aumentando por causa do câmbio e os mercados exportadores não retornaram, você tem uma série de desafios a enfrentar”, completa Greubel, que disse também que, hoje, a empresa está melhor na China que no Brasil.
Crédito
Outro temor das múltis é se os produtores vão conseguir manter seus pagamentos em dia. “Sabemos que os produtores no Brasil vendem suas colheitas em dólar e que suas despesas são baseadas em real, e por isso estamos bem atentos a essa situação”, disse Marie Ziegler, vice da John Deere.
De acordo com a fabricante de tratores e colheitadeiras, 71% dos pagamentos em atraso (com mais de 60 dias) em empréstimos a agricultores estão concentrados no Brasil -a inadimplência no País representava 1,1% do total de empréstimos no fim de outubro.
A Bunge disse que elevou as exigências no Brasil para a concessão de crédito para os produtores, reduziu a exposição a “contas de risco mais alto” e elevou os pedidos de garantias para certos clientes. Já a Monsanto afirmou que, para lidar com o risco brasileiro devido à volatilidade dos preços agrícolas, mantém uma “política de crédito rigorosa”.