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Exportação

Exportação de carne suína sofre efeitos da crise

<p>Para presidente da Abipecs, Pedro de Camargo Neto, valorização do real causa impacto na rentabilidade dos produtores. "É preciso avançar, alterar, inovar".</p>

O setor exportador de carne suína ainda sofre reflexos da crise financeira internacional. Os volumes embarcados até têm crescido, mas os preços despencaram em relação ao ano passado. Entre janeiro e outubro deste ano, a queda foi de quase 30%, conforme levantamento da Associação Brasileira da Indústria Produtora e Exportadora de Carne Suína (Abipecs). Só no mês de outubro, o recuo foi de 32,74% na comparação com o mesmo intervalo de 2008.

Para o presidente da Abipecs, Pedro de Camargo Neto, a valorização do real é um dos principais fatores que impactam a rentabilidade dos produtores. “O marco regulatório do câmbio é do tempo em que o Brasil precisava atrair recursos externos. O oposto ocorre agora, e é preciso avançar, alterar, inovar”, defende. Confira a seguir a entrevista com o dirigente:

Portal Terra: Na visão da Abipecs, que medidas efetivas o governo brasileiro deve adotar ou agilizar para abrir novos mercados externos para a carne de porco brasileira?
Pedro de Camargo Neto: Toda abertura de mercado, por questão sanitária, envolve duas etapas. Primeiro, é preciso de fato existirem as garantias sanitárias. Segundo, é preciso convencer a autoridade sanitária do país importador dessa existência. É sempre um processo moroso. Não é somente protecionismo, embora muitas vezes ele é existente. Conseguir que a autoridade veterinária realize a análise e certifique o processo altera o status quo, o que sempre é difícil. Quando não se tem um importador local interessado, que transite dentro da autoridade sanitária ajudando, fica muito difícil.

Terra: Como o governo pode pressionar países a agilizarem o processo de abertura de mercado após estarem cumpridas as etapas de inspeção sanitária?
Camargo Neto: Cumpre ao governo estar atento e presente durante todo o processo, respondendo com presteza e agilidade todos os questionamentos. Sempre entre dois países existem interesses das duas partes em outros temas. O pleito agrícola do Brasil precisa estar na agenda desta relação bilateral com prioridade. Não se pode deixar restrito ao órgão sanitário. É preciso receber orientação superior.

Terra: Além dos esforços para a abertura de novos mercados, quais outros pontos o governo pode melhorar, tomando a valorização do real frente ao dólar como um fato que ‘veio para ficar’?
Camargo Neto: O “veio para ficar” é muito forte. Não podemos aceitar isto. Caso o governo não faça nada com a questão cambial teremos uma perda de competitividade, as exportações se reduzirão e com ela o saldo da balança comercial. E, finalmente, e infelizmente, a economia como um todo irá sofrer. O governo não pode deixar acontecer isto. O marco regulatório do câmbio é do tempo em que o Brasil precisava atrair recursos externos. O oposto ocorre agora, e é preciso avançar, alterar, inovar.

Terra: Quais as expectativas reais para a retomada das exportações ao mercado sul-africano?
Camargo Neto: Acreditamos que depois de tanto atraso injustificado a situação deva se resolver muito em breve. Está na pauta do ministro Miguel Jorge (Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior), que visita Pretória nesta semana.

Terra: No segundo semestre, a Abipecs divulgou a abertura do mercado vietnamita. Quais outros países da Ásia, região que consome alto volume do produto, a Abipecs trabalha para conquistar?
Camargo Neto: Abrimos também um mercado melhor do que o do Vietnã que foi o das Filipinas. Trabalhamos para abrir os grandes mercados: Japão, Coréia do Sul e China.

Terra: Quais são as perspectivas da Abipecs para o consumo doméstico? Passado o período de maior impacto, qual foi o tamanho do efeito negativo que a ‘gripe suína’ causou no consumo brasileiro de carne de porco?
Camargo Neto: Ainda estamos fechando os números, porém, o ano de 2009 se distingue pelo crescimento de produtividade zootécnica e seus reflexos no aumento da produção. Entendemos que a crise de preços que vivemos em 2009 é uma questão de excesso de oferta e não queda de consumo em função da influenza A (H1N1), que assustou muito no início, porém, felizmente, fez estrago pequeno.

Terra: A atividade suinocultora apresenta um potencial poluidor bastante elevado. Quais medidas e práticas estão sendo adotadas pelos produtores para minimizar esses efeitos?
Camargo Neto: A questão dos dejetos tem sido enfrentada com tecnologia hoje bastante difundida. Vemos ainda um problema de acesso ao crédito para realizar os necessários investimentos, em particular para o pequeno produtor. A questão, porem, felizmente está equacionada, devendo ser objeto de atenção permanente.