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Economia

NY derruba Bovespa

<p>Sexta-feira (23/10) instável para mercado brasileiro. Dólar cai a R$ 1,713 na 1ª semana de IOF.</p>

A sexta-feira passada (23/10) foi de instabilidade nos mercados brasileiros, encerrando uma semana bastante agitada tanto em termos econômicos quanto políticos, dada à imposição de Imposto sobre Operações Financeiras (IOF) de 2% ao capital externo que busca rendimento em ações e títulos.

A Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa) ensaiou alta, flertando com os 67 mil pontos, mas esbarrou na instabilidade externa, onde Dow Jones e S & P 500 caíram 1,08% e 1,22%, respectivamente. Com 52 dos 63 ativos listados em baixa, o Ibovespa perdeu 1,63%, fechando aos 65.058 pontos, com giro financeiro em R$ 6,01 bilhões.

Com tal pontuação, o índice encerrou a semana acumulando baixa de 1,73%, mas ainda defende valorização de 5,75% em outubro. Em 2009, o salto é de 73,25%.

Para o diretor responsável pela área de análises da Petra Personal Trader, Ricardo Binelli, pelo desempenho da bolsa nos últimos dias, aparentemente a questão envolvendo a tributação do investidor estrangeiro não deve segurar a Bovespa.

“Está claro que o apetite por Brasil segue elevado. É verdade que precisamos de uma realização de lucros. Mas como brilho do país é forte, o investimento externo continuará sendo atraído”, afirma o especialista, ressaltando que as baixas devem ser encaradas como ponto de entrada, não como reversão de tendência.

Outro ponto destacado pelo diretor é que o mercado entra em uma fase de comparação de resultados e, no confronto anual, será visível algum tipo de melhora. Isso mexe com os modelos de precificação dos papéis, deixando os ativos mais atraentes.

“Quando você acrescenta um resultado positivo no cálculo, os múltiplos mudam bastante. Toda aquela pressão de que os preços já subiram de mais e que faltam fundamentos se dilui”, explica.

O sócio da Teórica Investimentos, Guilherme Hug, avalia que a decisão do governo de taxar o capital externo tem um componente qualitativo muito ruim, pois mostra que o governo tenta, de todas as maneiras, segurar o câmbio com medidas disfarçadas. “Agora, o impacto disso no mercado já foi absorvido. A história de que o Brasil continua sendo um país em crescimento passa por cima disse” , avaliou.

Ampliando a análise, o sócio fundador da Teórica, Rogério Freitas, apontou que a visão para o Brasil e para o mundo segue ótima, pois a crise mostrou que os emergentes têm capacidade de reação.

“O Brasil e outros mercados passaram no teste de estresse, ganharam um carimbo de qualidade depois da crise e, por isso, têm um novo preço”, diz o especialista.

O problema, segundo Freitas, é que essa expectativa toda de melhora já está precificada nos ativos. “O preço já embute esse cenário maravilhoso para 2009, 2010, 2011 e até mesmo 2012. Quem está comprando ativos hoje tem que olhar para 2012 para justificar essa compra”, ressalta.

O mercado sempre antecipa os eventos, quanto a isso não há novidade. A questão, observa o especialista, é que esse movimento já parece exagerado. “Tem um risco daqui até 2012 que não está sendo completamente avaliado”.

De acordo com Freitas, a percepção de risco dos agentes está muito baixa, mas isso não faz com que o risco em si desapareça. O especialista também aponta que não causaria surpresa se o Ibovespa passasse por correções superiores a 10%. “Não seria exagero de queda, seria ajuste de um exagero”.

No mercado de câmbio, os vendedores não se deixaram influenciar pela instabilidade externa e venderam dólares do começo ao fim do pregão da sexta-feira. Ainda assim, a divisa fechou a semana acumulando leve valorização de 0,29%. No mês, a perda é de 3,33%.

Ao final da jornada, o dólar comercial era negociado a R$ 1,711 na compra e R$ 1,713 na venda, decréscimo de 0,69%. No ano, a divisa tem depreciação de 26,6%.

Na roda de “pronto” da Bolsa de Mercadorias e Futuros (BM & F), o dólar caiu 0,71%, valendo R$ 1,7127. O volume negociado diminuiu 49%, para US$ 137,75 milhões. Já no interbancário, os negócios tiveram leve alta, somando US$ 2,4 bilhões.

Segundo o consultor em gerenciamento de risco da FCStone do Brasil, Bruno Lima, o comportamento da moeda americana está em linha com os comentários feitos logo após a decisão do governo de cobrar IOF na entrada de recursos estrangeiros.
“O efeito de tal medida é pontual e limitado”, disse.

Sinal claro disso é que, na máxima registrada na terça-feira, o dólar foi a R$ 1,77, mas fechou a semana exatamente no mesmo preço de segunda-feira (19/10), dia anterior ao anúncio do governo.

“Parece repetitivo, mas, na verdade, o comportamento da moeda continua atrelado ao fluxo”, resumiu Lima, usando como exemplo os dados divulgados pelo Banco Central (BC) mostrando que, no acumulado do mês até sexta-feira, US$ 8,76 bilhões entraram no país somente para investimentos em ações.

Lima avalia que o dólar pode voltar a testar as mínimas na casa de R$ 1,70. “Os fundamentos ainda são de dólar para baixo. Não tem nada que segure a taxa, ainda mais em um momento de crescente apetite por risco ao redor do mundo”.

Outro ponto a ser observado é o modo de atuação do Banco Central. Segundo o especialista, ao comprar constantemente mais dólares do que o fluxo, o BC permitiu que os bancos ampliassem suas posições vendidas (apostas contra o dólar) o que, no final das contas, acabou contribuindo para derrubar o preço da moeda americana.

Rumo claro também no mercado de juros futuros. Os contratos fecharam a sexta-feira apontado para baixo na BM & F. A perda de prêmios de risco, que já era estimulada pela manutenção da Selic em 8,75%, ganhou impulso pelo lado da inflação, depois que o Índice de Preços ao Consumidor Amplo-15 (IPCA-15) subiu 0,18% em outubro, ante o 0,27% esperado pelos analistas.

Ao fim do pregão, o contrato de Depósito Interfinanceiro (DI) com vencimento em janeiro de 2011, o mais líquido do dia, cedia 0,05 ponto percentual, a 10,23%. O vencimento para janeiro de 2012 caiu 0,10 ponto, a 11,49%. E janeiro de 2013 projetava 12,21%, recuo de 0,07 ponto.

Entre os vencimentos curtos, janeiro de 2010 diminuiu 0,01 ponto, marcando 8,65%. Julho de 2010, que divide as apostas quanto à possibilidade de alta na Selic no primeiro ou no segundo semestre, baixou 0,04 ponto, a 9,10%. E novembro de 2009 manteve 8,63%.

Até as 16h15, antes do ajuste final de posições, foram negociados 620.175 contratos, equivalentes a R$ 56,57 bilhões (US$ 32,69 bilhões), pouco mais do que registrado um dia antes. O vencimento para janeiro de 2011 foi o mais negociado, com 212.435 contratos, equivalentes a R$ 18,92 bilhões (US$ 10,93 bilhões).