O Mercosul e a União Europeia (UE) marcaram reunião para a primeira semana de novembro, em Lisboa, para testar se podem voltar a negociar um acordo de livre comércio com a intenção de conclui-lo no ano que vem. A negociação birregional não foi relançada em Copenhague, na cúpula Brasil-UE , e negociadores tratam de não alimentar grandes expectativas sobre a reunião a ser realizada na capital portuguesa.
Eles indicam que o encontro não será uma negociação, não haverá ofertas nem cifras. A ideia é examinar se há vontade política para tentar chegar a um “acordo possível”, ou seja, superar o enfoque que levou ao bloqueio nos últimos cinco anos – por causa das divergências sobre a liberalização agrícola na Europa e industrial no Mercosul – e buscar um entendimento mais político, refletindo a importância das relações estratégicas entre os dois lados.
O setor privado, na UE e no Brasil, insiste na importância de conclusão do acordo de livre comércio, sobretudo no cenário de recessão, para estimular a retomada dos negócios pelas empresas dos dois blocos. A questão é o que seria um “acordo possível”, ainda mais que Bruxelas nunca escondeu que dá preferência à negociação da Rodada Doha, na OMC, para só então definir o quanto paga na abertura agrícola para o Mercosul.
O setor automotivo europeu, com forte peso na negociação, está na defensiva após o acordo de livre comércio da UE com a Coreia, pelo qual diz que vai sofrer perdas importantes. Segundo o setor, um carro médio coreano vai entrar na Europa custando US$ 2,2 mil menos que um carro exportado pelo Brasil. A questão é como isso poderia ser corrigido num “acordo possível”, ou seja, tímido e pouco ambicioso. A Espanha, que vai presidir a UE no primeiro semestre de 2010, quer dar ênfase na conclusão da negociação birregional. O presidente da Comissão Europeia, José Manoel Barroso, também apoia o acordo com o Mercosul.
A reunião de Lisboa vai ocorrer antes da conferência ministerial da OMC, marcada para o fim de novembro em Genebra, durante a qual se deve constatar mais uma vez que a negociação global não decola principalmente por causa dos EUA, que exigem muito e querem pagar pouco. Um acordo UE-Mercosul daria preferências aos exportadores europeus sobre os americanos, enquanto o Congresso americano se mostra cada vez mais protecionista.