A demanda por fertilizantes confirmou as expectativas e começou a aumentar em agosto no País, às vésperas do plantio da safra 2009/10 de grãos – em Mato Grosso, a semeadura de soja, carro-chefe da produção agrícola do País, teve início em meados de setembro.
A recuperação, porém, parece ter vindo tarde demais para que as empresas da área recuperem as perdas acumuladas no ano, sejam elas produtoras de matérias-primas, como Fosfertil e Copebrás, ou misturadoras, aquelas que têm no produto final a principal fonte de receita, como as múltis Bunge, Mosaic e Yara e a nacional Heringer.
“Demanda não é tudo. Os preços estão mais baixos que em 2008 e os resultados estão comprometidos. O mercado está horrível”, reclama um executivo saudoso dos saltos de demanda e preços observados do fim de 2006 até agosto de 2008, antes até do aprofundamento da crise financeira mundial, que paralisou de vez o mercado.
A situação doméstica reflete uma tendência internacional, já que o Brasil, em situações normais – hoje os estoques ainda estão elevados -, importa 70% dos nutrientes que compõem os fertilizantes. Conforme analistas, o golpe será acusado nos balanços das empresas brasileiras do segmento no primeiro semestre. No front externo, o cenário não é muito diferente.
Segundo dados apresentados pela Associação Nacional para Difusão de Adubos (Anda) à Câmara Setorial de Insumos Agropecuários, as entregas das misturados às revendas no Brasil somaram 2,650 milhões de toneladas em agosto, 8% mais que em julho e 27% acima do mesmo mês de 2008. Mas em agosto de 2008, antes do aprofundamento da crise financeira, houve forte desaceleração das vendas no País, decorrente de antecipação das compras em 2008 provocada, em parte, pelo temor dos agricultores de que os preços da época, já elevados, subissem ainda mais.
Nos oito primeiros meses do ano, as entregas alcançaram 13,474 milhões de toneladas, 16% menos que em igual intervalo de 2008. Mas até julho a queda em relação aos sete primeiros meses do ano passado foi de 22%, o que comprova a aceleração.
Como a primeira projeção do governo para a produção brasileira de grãos em 2009/10 sinalizou um aumento de 2,9% a 4,8% sobre 2008/09 (135,2 milhões de toneladas), é de se esperar que as próximas estatísticas mostrem novas elevações nas entregas de adubos.
Segundo o governo, que discute um novo marco regulatório para o segmento de fertilizantes, parte do aumento da produção de grãos virá de um clima mais favorável às lavouras, mas outra parcela virá do maior uso de insumos como fertilizantes, que estão cerca de 30% mais baratos do que em 2008.
Conforme a Anda, em 2008 as entregas acumuladas chegaram a 22,429 milhões de toneladas, 9% menos que o recorde histórico de 2007. Fontes do segmento acreditam que ainda é possível que o resultado de 2009 pelo menos empate com o do ano passado em volume, apesar de a rentabilidade do negócio estar condenada a piorar.
Recuperação tardia também no exterior
A demanda mundial por fertilizantes nitrogenados e fosfatados se recuperou em relação ao ano passado, informou a norueguês Yara International ASA, maior fabricante mundial de adubos. Segundo a empresa, as entregas globais das companhias às revendas cresceram 10% no terceiro trimestre em relação ao mesmo intervalo de 2008.
“Os fundamentos econômicos de longo prazo” ainda estão “sólidos” devido ao persistente crescimento do consumo mundial de grãos, afirmou a Yara, que chegou a registrar uma queda de 89% em seus lucros depois do colapso dos preços dos fertilizantes, a partir de setembro do ano passado, quando houve o aprofundamento da crise financeira.
“O mercado estará mais apertado até os primeiros meses de 2010, porque os volumes [da demanda] deverão se recuperar”, disse Hans-Erik Jacobsen, analista da First Securities ASA de Oslo (Noruega), que orienta os investidores a comprar ações da Yara. “Em outras palavras, os preços estarão mais altos do que os que vimos em 2009. O ano que vem e 2011 deverão ser mais ‘normais’ em termos de margens e volumes, e isso vai aumentar os lucros de forma bastante considerável.”
Hoje, porém, a situação ainda é mais difícil para as empresas, já que os agricultores reduziram o uso de fertilizantes depois que a recessão mundial diminuiu a demanda por alimentos. A Terra Industries Inc. reportou ontem que suas vendas no terceiro trimestre foram inferiores às estimativas dos analistas. Já a Potash Corp. of Saskatchewan Inc., líder do segmento de potássicos, informou em outubro que vai desativar quase 50% de sua capacidade de mineração e demitir até 700 funcionários.
“Os produtores rurais estão expandindo suas compras de fertilizantes, mas as entregas na Europa e América do Norte continuam contidas pelos distribuidores, ainda pouco dispostos a formar estoques para as aplicações da primavera”, disse Joergen Ole Haslestad, principal executivo da Yara, no comunicado da empresa. No Hemisfério Norte, a primavera vai de março a junho.
A empresa informou, também, que vai reduzir a produção de nitrogênio, fósforo e potássio – o trio NPK, base para a produção de adubos – em 30% no trimestre atual. Os custos com energia deverão cair em US$ 220 milhões no período, conforme a Yara. “As vendas de NPK ainda estão sendo inibidas pelos preços não-competitivos fixados para a potassa; nessa situação, os compradores detêm a demanda, na expectativa de queda ainda maior dos preços da potassa”, observou a companhia.