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Agronegócio

A mulher no campo no Brasil

<p>Cai diferença de renda entre mulheres e homens no campo, mostra estudo. Mas desigualdade entre os gêneros permanece. Homens continuam ganhando mais e trabalhando menos.</p>

A diferença entre a renda das mulheres e dos homens no campo caiu a partir de 2004, mas a desigualdade entre os dois gêneros permanece, tanto no que se refere ao valor do rendimento,  quanto à jornada de trabalho, entre outros fatores.

A conclusão é do estudo Estatísticas Rurais e a Economia Feminista: Um olhar Sobre o Trabalho das Mulheres, produzido pelo Núcleo de Estudos Agrários e Desenvolvimento Rural (Nead) do Ministério do Desenvolvimento Agrário. A publicação será divulgada durante a 6ª Feira Nacional da Agricultura Familiar e Reforma Agrária (Brasil Rural Contemporâneo), que será aberta hoje (07/10) na Marina da Glória, no Rio.

O livro reúne artigos com análises baseadas nas pesquisas nacionais por Amostra de Domicílio (Pnad) do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), realizadas desde 1990.

A economista Hildete Pereira de Melo, coordenadora da área de Projetos de Educação da Secretaria de Políticas para as Mulheres, autora de um dos artigos, disse à Agência Brasil que em 2006, a renda média mensal dos homens na agricultura foi de R$ 496,59 e para as mulheres, de R$ 338,32. Os valores foram corrigidos pelo Índice Geral de Preços-Disponibilidade Interna (IGP-DI), da Fundação Getulio Vargas.

O dado mostra que houve uma melhoria da renda para as mulheres no campo. Em 1993, os 20% das mulheres que trabalhavam no campo tinham um rendimento médio mensal de R$ 318,37, enquanto os homens ganhavam R$ 636,99. “A diferença atualmente entre a renda das mulheres e a dos homens é menor do que foi no passado”, constatou Hildete Pereira, que é também professora da Universidade Federal Fluminense (UFF).

Na avaliação da economista, a melhoria da renda das mulheres na agropecuária brasileira está relacionada ao aumento do crédito rural, por meio do Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar (Pronaf) e pela expansão da venda de alimentos para o consumo.

Ela sugeriu que o próximo censo do IBGE ou a Pnad inclua a categoria do trabalhador/trabalhadora familiar, para que os dados possam ser mais aprofundados. Disse que os avanços experimentados na luta pela posse da terra no Brasil não foram ainda suficientes para que as mulheres do campo se conscientizem de que, ao sair de casa para cuidar da horta ou do galinheiro, por exemplo, estão fazendo um trabalho econômico.

”Porque dali vai sair galinha para vender, como vão sair da horta alface e bertalha para ela consumir, mas também para vender”. Na análise da especialista, essa é uma das razões por que as mulheres declaram uma jornada de trabalho tão inferior à dos homens na área rural.  Se de um lado os homens declararam, em 2006, uma jornada média semanal de 39 horas de trabalho, para as mulheres a carga declarada é de apenas 21,7 horas. 

“Esse é um argumento que a teoria econômica dá: você ganha menos porque trabalha menos. O problema é que não é exatamente o que acontece”. Segundo Hildete, isso é fruto do desentendimento do que é sair para trabalhar e o que é o trabalho para casa. Em 1993, as mulheres declaravam uma jornada de 24 horas semanais e os homens de 42 horas.

Ela observou que 1 milhão de mulheres no campo declararam ter renda, ante 8,372 milhões de homens. “Você ainda tem um contingente enorme de mulheres rurais – e isso para mim é um drama – que declara que não tem rendimento, que trabalha no campo sem rendimento. E você tem um peso muito grande do trabalho para o autoconsumo. Essa carga rural ainda é muito pesada”, declarou.

Mais de 70% das mulheres que estão no campo e são trabalhadoras rurais dizem que não têm renda ou que trabalham para o autoconsumo. Em 2006, 80% das mulheres no campo disseram ter rendimento zero. Para os homens, essa parcela foi de 26,7%. Por outro lado, 26% dos homens declararam receber entre 0,5 salário e um salário mínimo/mês, ante 6% da faixa de 20% das mulheres que declaram renda.

Em termos de escolaridade, as trabalhadoras rurais apresentam também menos anos de estudo do que os homens. Isso reflete as dificuldades de escolas na zona agrícola e o fato de as mulheres casarem mais cedo no campo e terem filhos ainda muito novas, disse a economista.

O livro se refere à economia feminista na área rural, e não feminina, porque pretende lançar sobre as trabalhadoras do campo um “olhar engajado”, buscando “desvendar as mulheres que, normalmente, as estatísticas econômicas podem esquecer”, disse Hildete Pereira. O lançamento da obra ocorrerá no próximo dia 11, integrando os Diálogos sobre o Brasil Rural, no estande do Ministério do Desenvolvimento Agrário.