As possíveis propostas dos líderes mundiais reunidos esta semana na reunião do Grupo dos 20 em Pittsburgh, Estados Unidos, serão acompanhadas de perto por investidores temerosos de que a reestruturação da economia mundial possa corroer o papel dominante do dólar nas finanças e comércio internacionais. Questões cambiais não estão na agenda oficial da reunião, mas líderes das 20 maiores economias do mundo estão finalizando um plano que, se colocado em prática, encorajará mais poupança e disciplina fiscal nos EUA, ao mesmo tempo em que incentivará a China a reduzir sua grande dependência das exportações e se voltar mais ao consumo interno.
Se o plano ganhar fôlego, os investidores acreditam que o dólar pode ser pressionado à medida que a China e outros países asiáticos permitam que suas moedas se valorizem. Os esforços para corrigir os desequilíbrios mundiais ocorrem num momento difícil para o dólar americano, que caiu bastante com a migração de dinheiro dos investidores para aplicações de maior risco e melhores retornos que as taxas de juros dos EUA, de quase zero.
Os críticos, especialmente na China e na Rússia, trouxeram à tona a ideia de se criar uma alternativa ao dólar como principal divisa de reserva, e investidores como Warren Buffett e a Pacific Investment Management Co. (Pimco, uma grande administradora de recursos) expressaram preocupação sobre o vigor da moeda americana no longo prazo.
“A China e os EUA querem ambos reequilibrar a economia mundial, e permitir que haja um yuan mais forte ao longo do tempo ajudaria a se alcançar isso”, diz Rebecca Patterson, diretora mundial de câmbio e commodities do JPMorgan Private Bank. “Menos intervenção chinesa para prevenir o fortalecimento do yuan faria com que a China, gradualmente, acumulasse menos reservas em dólar.”
As vendas de mercadorias da China aos Estados Unidos a ajudaram a acumular a maior reserva internacional do mundo, de cerca de US$ 2,1 trilhões, parte deles aplicada em títulos do Tesouro americano. Essa enorme demanda por dívida dos EUA, por sua vez, ajudou a alimentar os booms imobiliário e de crédito nos EUA ao manter o custo do dinheiro a níveis extraordinariamente baixos.
O Índice do Dólar da ICE Futures, uma medida da divida americana em relação a seis de suas principais rivais, está em queda de quase 15% desde o pico mais recente, atingido em março de 2009, o que o devolve ao patamar de antes da crise financeira, que ganhou força em setembro do ano passado.
O plano na reunião do G-20, chamado de “Bases para Crescimento Equilibrado e Sustentado”, iria essencialmente avalizar a ideia de um dólar mais fraco.
Permitir que o dólar afunde é uma estratégia de “negligência benigna”, diz Stephen Jen, um diretor-gerente da BlueGold Capital Management LLP, de Londres. Em outras palavras, as autoridades americanas podem estar se concentrando nos benefícios de um dólar mais fraco – um empurrão econômico para as exportações e um reequilíbrio da economia mundial – em vez de se preocupar com um declínio radical da divisa. Mas se o dólar cair demais, pode amedrontar credores dos EUA e possivelmente aumentar o custo do crédito para o país.
A China comprou uma quantidade enorme de dólares para garantir que o yuan não se valorize e, em consequência, impulsionou sua economia, movida a exportações. Os analistas dizem que a China aguarda sinais mais claros de recuperação das exportações e da economia mundial antes de permitir que o yuan se valorize, o que seria um passo rumo a uma economia mais diversificada.
O possível afrouxamento da política monetária chinesa já é levado em conta por alguns investidores: o mercado de swaps sem entrega física em dólares e yuans – ou “non-deliverable swaps”, uma forma de se apostar nas potenciais flutuações entre moedas pouco conversíveis – se movimentou em favor do yuan nas últimas semanas, indicando que os investidores preveem que ele se fortalecerá em relação ao dólar.
Os analistas acreditam que isso pode ocorrer nos próximos seis meses. Essa alta pode ser acompanhada pela valorização das moedas de países como Coreia do Sul, Taiwan e Cingapura.
O declínio recente do dólar também reacendeu os debates sobre o uso do dólar como a reserva preferida pelos bancos centrais do mundo – especialmente o da China. Os maiores nomes emergentes do G-20, o chamado Bric – Brasil, Rússia, Índia e China – já declaram este ano que o mundo deveria no futuro abandonar o dólar como reserva monetária, citando preocupações com o alto endividamento americano.