A recente valorização cambial da moeda brasileira não tem ajudado o empresariado a aumentar a inovação do produto manufaturado e, assim, o País perde oportunidade de modernizar e desenvolver seu parque industrial. “A inovação é essencial e deveria ser a principal estratégia do Brasil, com uma taxa de câmbio atraente como eixo fundamental. No entanto, a administração da moeda brasileira tem sido desastrosa”, afirmou Rodrigo da Rocha Loures, presidente da Federação das Indústrias do Estado do Paraná (Fiep), durante o 6º Fórum de Economia, realizado pela Fundação Getúlio Vargas (FGV) em São Paulo. Para ele, há “urgente” necessidade de mudança na política cambial.
A apreciação da moeda nacional diminui a rentabilidade das exportações, facilitando a comercialização de bens primários, com menos valor agregado. Ao mesmo tempo, a moeda “forte” torna o produto importado mais barato no mercado interno. “Toda a competição mundial de produtos com conteúdo tecnológico se inviabiliza para players locais”, analisou o empresário, para quem um parque industrial diversificado se faz com inovação e competição internacional – dificultada pela moeda apreciada.
Para o professor Franklin Serrano, da UFRJ, o investidor estrangeiro tem produzido uma grande fuga do dólar, encontrando no real um ótimo negócio. “Os americanos não estão preocupados com isso, mas os brasileiros deveriam estar”, critica. Do auge da crise, quando o dólar chegou a valer R$ 2,50 (em 05/12), ao fechamento de ontem (R$ 1,80), o real sofreu valorização de 38,44%. A perda de valor do dólar facilita o intercâmbio de produtos americanos e assim ajuda a diminuir o déficit comercial dos Estados Unidos.
Yoshiaki Nakano, diretor da Escola de Economia da FGV, considera o real uma “moeda commodity”, isto é, alvo de apostas e especulações dos investidores estrangeiros. Para o professor, a maior parte da recente apreciação do real se dá graças a aplicações financeiras, que deveriam ser controladas.
“Para o empresário que inova, dois preços são fundamentais: taxa de câmbio e salários. Se uma estiver fora de lugar, a competição fica comprometida”, analisou Luiz Carlos Bresser-Pereira, ex-ministro da Fazenda (1987) e professor da FGV. Segundo Bresser-Pereira, há uma tendência natural de valorização cambial entre os países emergentes, históricos produtores de commodities. “Há uma oscilação, mas com tendência à apreciação. Na ponta, essa apreciação leva a uma crise no balanço de pagamentos por meio de déficits em conta corrente”, afirmou.
O arrefecimento da crise econômica mundial permite aos países agir em diferentes setores, diminuindo a preocupação inicial de combater os efeitos recessivos. Assim, uma nova agenda se coloca diante dos Estados, que passam a se orientar por novos paradigmas. Segundo avaliou o ex-ministro da Fazenda Antônio Delfim Netto, a “nova agenda” passa por uma profunda inovação tecnológica, tendo a política energética em primeiro plano. “A idade da pedra não acabou por falta de pedra. O mesmo ocorrerá com o petróleo. É preciso se preocupar em desenvolver novas tecnologias para combustíveis sustentáveis”, afirmou. Segundo Delfim, o orçamento do governo americano – que prevê o investimento estatal de US$ 25 bilhões em pesquisa e tecnologia – aponta o rumo. “Teremos um novo ciclo de inovação tecnológica que, mais uma vez, começará nos EUA”, afirmou o ex-ministro.
Para Loures, da Fiep, o petróleo do pré-sal é “preocupante”. “O pré-sal pode matar a oportunidade de reestruturar a economia brasileira após a crise, intensificando a desindustrialização”.