Apesar de queixas sobre o baixo preço do dólar, o clima de “a crise acabou” vigorou na reunião de hoje de empresários e políticos no gabinete do ministro da Fazenda, Guido Mantega. Segundo relatos, no Grupo de Acompanhamento da Crise (GAC) vários setores apontaram indicadores de retomada da atividade.
“Eu diria que já saímos da crise; alguns setores saíram mais dos que outros”, disse o ministro do Desenvolvimento, Miguel Jorge. Ele acrescentou que, além de dados positivos, “o câmbio e a queda de exportações” foram outros temas a dominarem a reunião.
“O Brasil pode evoluir para uma economia comoditizada, exportadora apenas de produtos básicos, pois o câmbio tira total competitivade dos produtos manufaturados”, afirmou o presidente da Confederação Nacional da Indústria (CNI), Armando Monteiro Neto.
Um dos primeiros a deixar a sala de Mantega, Monteiro Neto se queixou, mais uma vez, que “o ministro não abre nenhuma indicação de que a política cambial será revista”. Mas admitiu que “boas notícias” foram relatadas na reunião.
Uma delas daria conta que as linhas de financiamento do BNDES à aquisição de máquinas e equipamentos, lançadas mês passado, “começam a dar resultado”, disse ele. Outro fato positivo, segundo Monteiro, foi que o Tesouro “integralizou” sua cota nos fundos garantidores, criados para avalizar empréstimos de pequenas e médias empresas. A informação, porém, não foi ainda confirmada pela assessoria da Fazenda.
“Vários setores relataram que estão em situação bem melhor ao período agudo da crise, em processo de recuperação mais amplo, o que seria o caso da indústria química, têxtil”, continuou Monteiro Neto.
A informação do presidente da CNI foi ratificada pelo secretário de Comércio Exterior, do Ministério do Desenvolvimento, Welber Barral. “Pesquisas setoriais mostram que várias áreas apresentam crescimento, em franco processo de recuperação neste segundo semestre”, afirmou ele, ao sair da reunião do GAC.
Questionado se concordava com o clamor dos exportadores para mudança no regime cambial, por causa de nova fase de apreciação do real, Barral se esquivou: “mudar o regime cambial? Pergunte ao ministro Mantega”, disse antes de sair.
Outro a queixar-se do câmbio foi Jackson Scheneider, presidente da Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea). Nas exportações de veículos de janeiro a julho, houve um recuo de 200 mil unidades sobre período igual de 2008, disse ele, o que representaria menos US$ 4 bilhões. Ele prevê que as vendas externas do setor recuem 13% em 2009 sobre o ano passado.