Lentamente, o comércio exterior brasileiro dá sinais de que já começou a sentir a valorização do real frente ao dólar: a importação de matérias-primas e produtos intermediários, embora ainda esteja longe dos níveis alcançados no ano passado, foi a que mais subiu entre junho e julho deste ano, 7%, quase US$ 1 bilhão a mais, o que elevou o total das compras externas em 4%, de junho para julho. Somada à queda nas exportações, esse resultado fez com que o saldo no comércio exterior, em julho, caísse para US$ 2,9 bilhões, 12% abaixo do resultado de junho e 42% menor que o do mesmo mês no ano passado.
Graças à grande queda nas importações verificada no começo do ano, o Brasil acumula um saldo positivo de US$ 16,9 bilhões nas contas externas, quase 16% a mais que no mesmo período de 2008. Pela segunda vez, no ano, porém, houve queda nas exportações brasileiras para a China, o mercado mais dinâmico para as exportações brasileiras: menos 22% em relação a julho de 2008 e menos 34% em relação a junho.
O secretário de Comércio Exterior, Welber Barral, afirmou que ainda é cedo para dizer que a balança comercial reflete a valorização do dólar em relação ao real, mas reconheceu estar preocupado com o comportamento das importações de matérias-primas e intermediários, insumos da indústria. “Evidentemente começa-se a sentir agora a taxa de câmbio, que mudou há três meses e que começa a ter efeito agora”, disse. “Tivemos, no primeiro semestre, um efeito cambial que incentivou o uso de insumos nacionais, e fez com que diminuísse muito a importação de insumos, que teve queda de 32,4% em relação ao ano passado”, comentou Barral.
“Provavelmente em setembro e outubro (o câmbio) vai fazer diferença grande, o efeito sobre importações seja mais observado”, previu, minimizando o efeito do câmbio sobre as compras de bens de consumo para as festas de fim de ano. “O mais importante na parte de custos é o efeito que o câmbio pode gerar de incentivo à importação de insumos que têm valores muito altos.”
Para o vice-presidente da Associação de Comércio Exterior (AEB), José Augusto de Castro, as exportações brasileiras deverão se manter no nível alcançado desde abril, em torno de US$ 600 milhões diários, mas as importações devem superar a média diária de US$ 500 milhões, número quase alcançado em julho. “Os números estão exatamente como prevíamos”, comentou. Ele prevê uma perda de US$ 1 bilhão mensais com o fim dos embarques de soja e a expectativa de queda ou manutenção das vendas de minério de ferro. “Empresas grandes poderão exportar com prejuízo para manter clientes, mas as menores devem sentir com força o câmbio”, avisa. Barral mantém a previsão de US$ 160 bilhões em exportações neste ano, 20% abaixo do resultado de 2008.
O governo e especialistas argumentam que as comparações com o ano passado não traduzem a real situação do comércio exterior brasileiro por se aplicarem a uma base com números inflados pela bolha especulativa que acompanhou o auge da crise financeira mundial. Mas, por esse critério, a queda na venda de mercadorias manufaturadas, especialmente aviões, automóveis e peças e produtos siderúrgicos, foi de 33,6%, e a de semimanufaturados, 36%. De janeiro a julho, a queda nas exportações da indústria está em torno de 30%.
Exportações de produtos básicos, como grãos e minérios, caíram 23% no mês e 11% nos primeiros sete meses do ano. Comparados com o mês anterior, os produtos básicos tiveram queda quase duas vezes maior que a dos industrializados, porém. Em julho, interrompeu-se a tendência de crescimento das exportações em relação ao mês anterior, resultado que Barral atribuiu à antecipação dos embarques de soja em junho.
Em julho, provavelmente devido à liberação, pelo governo argentino, de licenças de importação retidas pela burocracia, o Brasil voltou a ter um superávit, muito pequeno, de pouco mais de US$ 40 milhões, com a Argentina. Entre os grandes parceiros comerciais do País, só com os Estados Unidos o Brasil teve déficit comercial. O mercado asiático segue como o mais dinâmico para as exportações brasileiras: até julho, só a Ásia aumentou as compras em relação ao ano passado, em 9,5% (26% só a China). A maior queda ocorreu nas vendas aos EUA, 46%.
“Há mudanças conjunturais. A queda nas exportações aos Estados Unidos é algo que esperamos reverter, assim como a queda para a Europa, que não foi tão grande”, comentou, otimista Welber Barral, defendendo a ênfase na “diversificação de mercados”.