Em seminário com empresários brasileiros e chilenos, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva defendeu ontem a importância de focar os negócios em países com “processo de desenvolvimento similar”, classificando, em tom bem humorado, como uma “vergüenza” o baixo volume de investimentos do Brasil no Chile. Lula lembrou que, mesmo com um Produto Interno Bruto (PIB) bem menor que o brasileiro e com uma população de menos de 20 milhões de habitantes, o Chile investe US$ 4 aqui para cada US$ 1 que “nós investimos lá”. Realizado na sede da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), o evento contou com uma delegação de quase 900 empresários chilenos, numa missão chefiada pela presidente do Chile, Michelle Bachelet.
“Eu compreendo que durante muito tempo nós não olhamos com bons olhos para os nossos irmãos da América do Sul. Eu espero que percebamos que a diversificação dos investimentos, do comércio, dos produtos e dos parceiros é uma grande garantia contra a crise”, afirmou Lula, que defendeu enfaticamente a integração com países emergentes. Segundo o presidente, “o que nós precisamos, neste momento, é ousar, ser desaforados, para fortalecer, enquanto país, enquanto Mercosul, enquanto Unasul, enquanto parcerias estratégicas que nós temos, alianças com outros blocos que precisam comprar de nós”.
Não adianta tentar vender máquinas agrícolas para a França ou para a Alemanha, disse Lula. “Onde é que nós poderemos vender? Junto a nossos parceiros da América Latina, junto à África, junto aos países que estão em processo de desenvolvimento similar, um pouco mais ou um pouco menos do que nós.” Bachelet destacou que a crise abre grande oportunidade para que os países emergentes tenham de fato mais voz na arquitetura global, elogiando o papel do Brasil nas discussões do G-20 (grupo que reúne as economias mais industrializadas do mundo).
Nesse cenário, Lula destacou a importância das relações entre o Chile e o Brasil e o esforço dos dois países pela integração da América do Sul, exortando os empresários brasileiros a investir mais no Chile. Segundo números do comunicado conjunto assinado pelos dois governos, o estoque de investimentos diretos chilenos no Brasil totaliza US$ 7,4 bilhões, enquanto as empresas brasileiras já investiram “mais de US$ 2 bilhões” por lá.
Bachelet e o ministro da Economia do Chile, Hugo Lavados Montes, destacaram várias vezes que o Chile tem 20 acordos com 56 países, que representam 85% do PIB global. Segundo eles, isso oferece a oportunidade para que as empresas brasileiras usem o País como plataforma de exportação para chegar a mercados da América do Norte, Europa e Ásia. Para fazer isso, porém, é necessário um percentual mínimo de agregação de valor local, que varia de acordo com a país e o bem a ser exportado.
Presente no evento, o diretor de Exportação dos Laticínios Tirolez, Paulo Hegg, disse que gostaria de investir no Chile para usar o país como plataforma para vender para outros países, procurando alguma indústria chilena para uma parceria. O seu principal objetivo seria acessar o mercado mexicano, um dos países que têm acordo comercial com os chilenos.
Os empresários brasileiros aproveitaram para pleitear que o Chile passe a adicionar 5% de etanol à gasolina, o que abriria o mercado chileno para o produto brasileiro. Segundo o diretor de Comércio Exterior da Fiesp, Roberto Giannetti da Fonseca, o País já conta com aprovação legislativa para isso, mas a medida não foi implementada porque faltam a infraestrutura e uma rede de distribuição para que o produto seja incorporado ao dia-a-dia dos chilenos. Segundo ele, há disposição de elevar a permissão de adição para 10%.
Brasil e Chile firmaram ontem vários compromissos. Lula ressaltou os entendimentos “na área da Previdência, que beneficiarão brasileiros que residem e trabalham no Chile, e os chilenos que vivem e trabalham no Brasil.”. Também foi assinado um instrumento para criar um programa de exportações por remessas postais no Chile, que deve dinamizar o comércio de micro, pequenas e médias empresas, segundo Lula. O presidente destacou o fato de Bachelet ter aberto espaço para que a carne brasileira possa entrar no Chile, depois de seis anos de pedidos dos empresários brasileiros. Outro ponto importante, disse Lula, foi o memorando de entendimento entre a Receita Federal brasileira e o Serviço Federal de Aduanas chileno, um “importante passo para a simplificação dos trâmites fronteiriços”.
Além disso, o presidente enfatizou que “a entrada em vigor de instrumentos que negociamos nos últimos dois anos, relativos às zonas francas e ao comércio de tecidos, oferecerá oportunidade para diversificar e incrementar o comércio.