A Marfrig Alimentos está prestes a anunciar a compra da operação de abate de peru da Doux Frangosul, apurou o Valor. Com o negócio, a empresa, que já atua em carnes bovina, de frango, de suíno e de cordeiro, estreia em peru para concorrer com Sadia e Perdigão, que juntas na recém-criada Brasil Foods terão mais de 80% da produção nacional. Procurada, a Marfrig não se pronunciou. O diretor-geral da Doux Frangosul, Aristides Vogt, confirmou a negociação, mas afirmou que ela ainda não está fechada.
A entrada da Marfrig em peru é mais um passo na estratégia de diversificação da companhia, que inicialmente atuava apenas em carne bovina. Investiu em cordeiros, com aquisições de empresas no Uruguai e Chile, antes de abrir o capital na bolsa de valores em 2007. No ano passado, a empresa ingressou em aves e suínos com a compra das operações da americana OSI no Brasil e na Europa. A operação de abate de perus que a Marfrig está adquirindo está localizada na cidade de Caxias do Sul (RS).
Com o investimento na produção de peru, a Marfrig busca sinergias com outros segmentos em que atua. Uma das opções que vislumbra é exportar a carne de peru e derivados para clientes que já adquirem as outras carnes que a companhia produz. A Europa, onde a Marfrig já processa carnes de frango e suína, é um cliente importante do peru produzido no Brasil.
No total, o abate nacional de peru atingiu 45,605 milhões de cabeças em 2008 (ou 456.055 toneladas). A maior parte (251.785 toneladas) ficou no mercado interno. As exportações de peru e derivados do Brasil somaram US$ 557,9 milhões no ano passado, conforme dados da União Brasileira de Avicultura (UBA).
O negócio com a Marfrig alivia um pouco o cenário para a Doux Frangosul, que enfrentou dificuldades financeiras e teve perdas com derivativos em 2008. Com a crise internacional, que reduziu a demanda, a empresa teve de dar férias coletivas para 2,5 mil funcionários, entre janeiro e abril deste ano. Além disso, seu lucro caiu 31% em 2008, para R$ 14,1 milhões.
A receita da empresa avançou 26,8%, para R$ 1,967 bilhão no ano passado, com uma produção de 572 mil toneladas de carnes de frango, peru e suínos e industrializados, sendo 80% dela destinada ao mercado externo.
Além do efeito da crise global, a Doux Frangosul sofre também os reflexos das dificuldades vividas pela matriz na França, que perde competitividade ano após ano, conforme fontes do setor.
Além de diversificar as operações, a Marfrig, que em 2008 faturou R$ 6,775 bilhões , também busca ganhar musculatura. Para isso, já admitiu que tem conversado com a concorrente Bertin, avaliando uma eventual união. Em comunicados recentes ao mercado, disse existirem “tratativas entre a Marfrig e a Bertin S.A., mas que não existe, nesta data, qualquer acordo vinculante ou não vinculante firmado pelas partes em relação a tais tratativas”.
Tanto Marfrig quanto Bertin, que têm o BNDESPar como acionista, ficaram alavancadas por causa das aquisições e da alta do dólar em 2008. Também foram afetadas pela falta de boi para abate por conta do ajuste no ciclo de produção. Assim, a eventual união seria uma saída para as empresas se fortalecerem. Mas o negócio interessa à Marfrig apenas se ela tiver o controle da nova empresa.
Com 57 plantas para produção de carnes bovina, suína, ovina e de aves na América do Sul, na América do Norte e na Europa, a Marfrig tem capacidade diária de abate de 20.950 cabeças de bovinos, 4.200 de suínos, 9.400 de ovinos e 1.726.000 frangos. Também é capaz de produzir 2.213 toneladas de industrializados e processados.