Frigoríficos brasileiros, em meio a um período difícil devido ao recente aperto no crédito e queda na demanda externa, temem mais dificuldades devido à questão ambiental e às restrições a animais de áreas da Amazônia Legal.
Na semana passada, supermercados como Pão de Açúcar, Wal-Mart e Carrefour anunciaram a suspensão de compras de carne com origem em áreas desmatadas do Pará.
A decisão dos varejistas foi embasada em um relatório do Greenpeace e acatou recomendação do Ministério Público Federal do Pará.
Edivar Vilela de Queiroz, presidente do Sindifrio-SP, sindicato que reúne os frigoríficos do Estado de São Paulo, criticou a decisão dos supermercados porque, segundo ele, o boi criado no Pará, em sua maioria, está em “áreas consolidadas”, ou seja, desmatadas há dezenas de décadas.
“As ONGs e o Ministério Público estão mal informados. A carne que vem da Amazônia não tem nada a ver com desmatamento. O produto é resultado de uma situação consolidada. A criação de gado ocorreu após o desmatamento”, declarou Queiroz, após evento na Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), que reuniu também o ministro da Agricultura, Reinhold Stephanes, nesta segunda-feira.
Para Queiroz, também presidente do Conselho de Administração do frigorífico Minerva , a radicalização das discussões poderia ter implicações para a indústria de carne de São Paulo, que atualmente depende da importação de bezerros e garrotes nascidos ao Norte do país.
“Sabemos que vem muito gado semipronto para ser terminado em São Paulo. Se não tivermos a cria, podemos ter problemas. São Paulo não cria mais… Vemos muita falácia sobre o problema.”
Questionado sobre qual a dependência da indústria paulista do Pará, Queiroz evitou fazer comentários específicos.
“O Estado de São Paulo não produz mais bezerro, porque foi invadido pela cana. Então o que fazemos: trazemos os bezerros e engordamos com a cana. Um hectare de pasto no passado engordava três bois, um hectare (com subprodutos da cana) hoje engorda 100 cabeças.”
De acordo com o empresário, “99%” das propriedades rurais do Pará, o principal produtor de gado da região Norte, estão regularizadas, e não haveria problemas. O Sindifrio está iniciando conversas com os supermercados para tentar reverter o embargo.
Para o ministro Stephanes, adotar uma medida geral, como fizeram os supermercados, não é algo correto, pois muitas propriedades do Pará operam já há 50 anos, e portanto não estariam impulsionando o desmatamento como se argumenta.
Mas o ministro trabalha em um sistema de identificação eletrônica dos bovinos do Pará, que prevê a implantação de guias eletrônicas de transporte de gado em associação com um monitoramento, por satélite, das propriedades fornecedoras do boi, o que evitaria novos desmatamentos. O sistema poderia começar a funcionar a partir de 2009, segundo Stephanes.
Ao mesmo tempo, o ministro propõe mudanças no Código Florestal brasileiro, argumentando que ele precisa ser atualizado, por se tratar de uma legislação de mais de 40 anos. A mudança na lei, segundo o ministro, visa “criar condições para o desmatamento zero na Amazônia”.
Já o ministro do Meio Ambiente, Carlos Minc, aprova a decisão dos supermercados e discordou mais uma vez de seu colega e também do representante do setor privado.
“Ela (a indústria) vai entrar na linha por causa do consumo consciente, por causa do boicote dos consumidores. O dia que o consumidor entrar nessa parada (contra o desmatamento), ela vai ser ganha. O melhor fiscal é o povo consciente”, declarou Minc, observando que empresas que trabalham com couro também anunciaram boicote ao produto amazônico.
Para o ex-ministro Roberto Rodrigues, presidente do Conselho Superior do Agronegócio da Fiesp, a causa principal do desmatamento é a atuação de madeireiras ilegais. “Depois é que a terra é ocupada pela produção rural.”