Redação (08/12/2008)- A quantidade de milho estocada nos silos de Mato Grosso já é a maior da história do Estado – responsável por mais da metade da produção brasileira de milho safrinha. São 1,6 milhão de toneladas do grão à espera de comprador e a previsão de conseguir escoar esse volume não é nem um pouco animadora. No mesmo período de 2007 esse volume não chegava a 200 mil toneladas.
"O problema já não é nem mais o preço (média de R$ 11,20) pago ao produtor, é saber se vai aparecer alguém para pagar", cogita Seneri Paulo, superintendente do Instituto Mato-grossense de Economia Agrícola (Imea). Dados do Imea apontam para uma produção de 7,7 milhões de toneladas colhidas de uma área de 1,7 milhão de hectares em 2008. Se as projeções do Instituto se confirmarem, entre 26% e 31% dessa área não vai ser semeada durante a safrinha 2009 que já se aproxima. E o produtor da região de Sorriso (MT), Argino Bedin, faz parte desta estatística.
A lavoura de milho de Bedin, que em 2007 ocupou cinco mil hectares de sua propriedade, não deve ser maior que dois mil hectares "porque não existe garantia de comercialização, ainda tem muito milho no mercado", afirma o agricultor mato-grossense. E parte desse milho que ainda está congestionado no mercado é dele.
Argino Bedin não vendeu um grão sequer das 18 mil toneladas do grão que colheu este ano. "Fiz o contrato de opção do governo a R$ 14,52 a saca, mas descontando as despesas, se exercer a opção, vou receber menos de R$ 12", calcula. Ele tem até o dia 26 para exercer, ou não, a opção. "E é o que eu devo fazer, pois não há outra maneira de escoar a produção". Bedin só vai cultivar milho safrinha no início do próximo ano porque já havia comprado semente e fertilizante com antecedência. "Só falta um pouco de cobertura. E como muitos produtores vão desistir, o preço pode reagir", espera.
"Quem vai continuar cultivando milho safrinha em Mato Grosso está pensando no solo e não no preço", analisa Paludo. O superintendente do Imea calcula que o custo de produção da lavoura de milho no estado é, por baixo, R$ 14,50, "usando menos adubo".
A aposta de reação dos preços do produtor está apoiada na certeza de redução de safra do superintendente, mas não necessariamente virará realidade quando o grão plantado chegar ao mercado. O analista Leonardo Sologuren, da Céleres Consultoria, afirma que a quebra de safrinha teria que ser ainda maior que aquela já esperada pelo mercado para o preço ensaiar alguma reação, "que se acontecer, será só no segundo semestre do ano que vem". Sologuren calcula que o estoque de passagem ficará em torno de 10 milhões de toneladas. "Em tese, não seria necessário nenhuma grama de safrinha para abastecer a demanda doméstica em 2009". E se essa safrinha é dispensável, não é no mercado futuro que ela vai ser negociada. "Não se negociou absolutamente nada ainda. Em janeiro se inicia o plantio e o mercado se voltaria para as trocas por insumos e até elas estão paradas", diz Paludo.
A trading mato-grossense Fiagril testemunha a apatia das perspectivas futuras. A empresa que, em meados de novembro do ano passado já havia negociado (com troca por insumo) de 200 mil a 250 mil toneladas de milho do total de 550 mil movimentados desse grão no ciclo 2007/08, até agora não negociou nada. "Temos observado dificuldades no planejamento do plantio de milho. Além de falta de crédito, também houve o atraso no cultivo de soja, que pode dificultar o plantio da safrinha", conta Jaime Binsfeld, diretor-comercial da Fiagril. Por conta dessa incerteza, Binsfeld afirma não ter condições de projetar volumes que movimentará deste grão no ciclo atual. "Digamos que o objetivo é repetir o ano passado, mas não sabemos se será possível".
Já com soja, a Fiagril deve repetir neste ano a comercialização de 750 mil toneladas do ciclo 2007/08. A trading conseguiu negociar antecipadamente 50% deste volume com o produtor, também o mesmo percentual do ciclo passado.