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Crise passa longe do Porto de Paranaguá

<p>Superintendente afirma que problemas como a dragagem do local serão solucionados no próximo ano.</p>

Redação (08/12/2008)- A crise financeira mundial ainda não chegou ao Porto de Paranaguá. Isso segundo informações do novo superintendente da Administração dos Portos de Paranaguá e Antonina (Appa), Daniel Lúcio Oliveira de Souza, dadas durante entrevista exclusiva a O Estado. Ele promete ainda que, em 2009, problemas como a dragagem do Porto de Paranaguá serão solucionados.

O Estado – Qual é o balanço das ações feitas pelo Porto de Paranaguá em 2008?

Daniel Souza – O ano está indo muito bem em alguns segmentos. Já outros, obviamente sentem a crise econômica. Nós estamos com 23% das exportações acima do verificado em 2007. Hoje, o Porto de Paranaguá se equivale ao de Santos em movimentação. Com os problemas em Santa Catarina, a situação tende a ser equivalente ao ano passado. O que percebemos é que a crise atinge de maneira diferenciada os segmentos. Setenta por cento das matérias-primas para fertilizantes são importados. Desses, metade entra por Paranaguá e a outra metade por outros portos brasileiros. A logística do porto faz com que esses fertilizantes cheguem ao agricultor com um preço bastante competitivo. Não é só exportar que importa. A boa importação também é sucesso para o agronegócio.

OE – Como o porto funcionará com os problemas em Santa Catarina?

DS – O Porto de Itajaí movimentava praticamente contêineres com produtos congelados e refrigerados. Ao receber a notícia da tragédia em Santa Catarina, os navios vindos da Europa, América do Norte e da Ásia começaram a rearranjar suas escalas em novos pontos de embarque. Nesse rearranjo uma parte dos contêineres já ficou em Santos. Paranaguá foi o destino natural do restante das cargas, operacionalizando 100% de tudo que chegou. As importações de fertilizantes só retornarão no final de março e as operações com grãos, deverão retornar no final de fevereiro. Com isso, podemos fazer um rearranjo logístico e abrir dois novos berços para operação de contêineres utilizados para fertilizantes e grãos. Quando isso acontece, temos uma operação não tão eficiente quanto os berços de contêineres. Mesmo assim, é preferível ter uma queda na produtividade do que não ter operação.

OE – O porto de Paranaguá é o melhor porto do mundo, como o governo anuncia ou é o porto com pior gestão e mais problemas, como afirma a oposição?

DS – O porto não tem problemas de gestão. Pelo contrário, somos o Porto com melhor administração do Brasil. Desafio qualquer especialista em portos a falar de gestão portuária. Quando temos esses comentários que carregam uma carga política, vemos que são provenientes de pessoas sem real conhecimento. Somos o único porto que faz acima de dez mil toneladas num metro linear de cais. Pegamos o porto em janeiro de 2003 totalmente quebrado, sem dinheiro em caixa. Hoje, temos R$ 420 milhões em caixa, oriundos de arrecadações tarifárias.

OE – O porto está preparado para escoar a próxima safra de grãos sem causar filas?

DS – A fila não é medição de eficiência, o parâmetro é se o navio operou adequadamente ou não. E a resposta é sim, estamos preparados. A fila não acontece por culpa do porto, mas por conta de procedimentos aduaneiros no terminal de contêineres. A fila se dá pelo afluxo inusitado de contêineres e caminhões. Com isso, os portões dos terminais privados viram um gargalo. A Receita Federal, por exemplo, é parte fundamental na liberação dos contêineres. Então, não é uma fila logística e sim alfandegária. Todos nós crescemos vendo as filas na BR-277, mas, há três anos, não temos mais esse incoveniente. Muitos dizem que junto com a fila, acabou a exportação de grãos. Não é bem assim, nós recebemos no pátio de triagem muito mais caminhões do que nos anos anteriores. Apenas com o reordenamento logístico do porto, embarcamos os mesmos níveis de grãos.

OE – Por que a dragagem do Canal da Galheta ainda não tem uma definição?

DS – Se eu vou aprofundar um canal, quer dizer que vou receber navios de grande porte que não precisam apenas adentrar ao porto, mas aportar e operar. Devemos ter um berço de atracação profundo, com equipamentos em terra que permitam essa operação. Como o porto tem 75 anos, é possível ver cada idade do berço de acordo com a implantação das suas tecnologias. Com isso, não podemos aprofundar linearmente o porto senão tudo cai. Temos um projeto para o próximo ano de remodelação de todo o cais que possibilite, também, a dragagem.

OE – Não há a possibilidade de o governo federal interferir e ajudar na solução?

DS – Estamos trabalhando junto com o governo federal no projeto de todo o canal de acesso ao porto, desde o Canal da Galheta até o Porto de Antonina. Isso trará uma tranqüilidade operacional. Para realizar a dragagem temos olhar a profundidade, a tendência dos navios e as capacidades dos terminais de terra operarem. Não basta dragar é preciso um processo de alinhamento de operação em terra.

OE – Sobre a proibição do funcionamento do terminal público de álcool, há realmente risco para os moradores das comunidades próximas?

DS – A vila existe há 40 anos e continua irregular até hoje por conta de omissões do poder público municipal. Parte daquela área é patrimônio da união, então, o governo federal deveria, também, ter evitado essa situação. Se pegarmos o terminal de inflamáveis e outros terminais privados, vemos que a vila se formou em torno desses terminais e ninguém discutiu o risco desses moradores. Por que as discussões começam agora? Por causa da construção do terminal público, que fica tão envolvido quanto os terminais privados. Mas só o publico ganha o foco.

OE – Fechamento do terminal público de álcool e a dragagem. A exploração desses problemas é uma perseguição contra a administração do porto ou são questões pontuais?

DS – Acredito que é politização de tudo. O governo fez uma transformação na questão portuária nacional. O Brasil não tem um modelo portuário claro. Temos um modelo do não modelo. As autoridades portuárias inexistem num panorama onde tudo se privatizou. Obviamente que os grupos de interesse na privatização do Porto de Paranaguá se opuseram a esses novos conceitos.

OE – Como será sua gestão a partir de agora?

DS – Mudam-se os homens, mas a ideologia de gestão portuária é a mesma de Eduardo Requião, os projetos continuam, nossos conceitos são os mesmos. Obviamente cada um tem sua personalidade, mas, ideologicamente, temos a mesma diretriz portuária pública.

DS – Além da dragagem, quais são as outras ações para melhorias do porto em 2009?

DS – Vamos concluir o pátio público de automóveis, o terminal de fertilizantes, terminal de álcool, mais um cais para contêineres, mais dois berços de atracação, a plataforma aduaneira e câmara pública de congelados, que deverá ser licitada em janeiro.

OE – Muitos navios deixam de embarcar em Antonina por conta da restrição aos navios refrigerados. Isso não traz prejuízos ao Estado?

DS – A configuração feita pelos empreendedores que venceram a licitação de 1994 é obsoleta. O mundo opera em contêineres refrigerados e não mais como operava o Porto de Antonina. Para trabalhar com contêiner, temos que ter equipamentos de terra compatíveis. Para um navio de contêiner chegar a Antonina, precisaremos aprofundar o canal. Mesmo se fizermos isso, haverá restrição operacional por conta do terminal que ainda não está preparado. Estamos estudando a possibilidade de requisitar um novo berço para atender essa demanda em Antonina.