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Negociação entre Brasil e UE pode render bilhões de dólares a mais a exportadores

<p>Representantes enfatizaram a determinação de negociar um acordo agrícola e industrial até o fim do ano.</p>

Redação (02/12/2008)- A barganha entre o Brasil e a União Européia (UE) sobre cotas para produtos agrícolas brasileiros está praticamente definida, a partir de um acordo de liberalização pela Rodada Doha, podendo render alguns bilhões de dólares adicionais de exportações para o mercado europeu. Com este cenário bem encaminhado, o ministro das Relações Exteriores, Celso Amorim, e a nova comissária européia de Comércio, Catherine Ashton, tiveram um almoço de trabalho ontem em Genebra e enfatizaram a determinação de negociar um acordo agrícola e industrial até o fim do ano, o que julgam "bom para a humanidade".
Em entrevista coletiva, Amorim e a comissária indicaram "convergências de vistas" e demonstraram um prudente otimismo. "Estamos no mesmo barco", disse Amorim. "Sem renunciar a nossos interesses e dos grupos que representamos, o Brasil e a UE podem contribuir numa ampla medida para a conclusão de um acordo." Até recentemente era mais fácil ver uma coletiva do Brasil e da Índia juntos, aliados no G-20, atacando a União Européia e os Estados Unidos. Amorim disse esperar que logo o ministro indiano, Kamal Nath, e a americana, Susan Schwab, se juntem no mesmo esforço.
A grande barganha entre o Brasil e a UE foi delineada em julho, na tentativa de conclusão de um acordo em Doha. A UE e outros importadores desenvolvidos encaminham para designar 4% de suas linhas tarifarias agrícolas como sensíveis, que terão menor corte. Em contrapartida, terão de compensar os exportadores oferecendo pelo menos 4% de expansão das cotas desses produtos, ou seja, com tarifa menor.
Nesse caso, a cota para frango congelado na UE ficará por volta de 200 mil toneladas e a de frango processado em 70 mil. O Brasil pode abocanhar grande parte desse mercado, o que representa cerca de 900 milhões de euros em valores atuais. Além disso, o Brasil já tem uma cota específica na UE para frango salgado, de 170 mil toneladas, com taxa de 15,4%. Por acordo na OMC, as tarifas serão homogeneizadas, declinando para menos de 10%.

Quanto à carne bovina, as cotas podem chegar a 135 mil toneladas para a refrigerada e 165 mil toneladas para a congelada. Por valores atuais, significa um comércio de pelo menos 1,3 bilhão de euros. A tarifa intracota declinará de 20% para 10%. O Brasil tem uma cota pequena de carne bovina para industrialização, que paga 20% mais 2.138 euros por tonelada, mas isso deverá ser reduzido igualmente. Também será importante a nova cota para carne suína, de 200 mil toneladas, que pode representar 600 milhões de euros de negócios. O país quer obter uma fatia importante.
No caso de açúcar, o volume pela cota será de apenas 600 mil toneladas globalmente, rendendo 180 milhões de euros. Os principais beneficiários serão países pobres. Daí porque o Brasil coloca força na cota para seu etanol. A barganha também está definida. Como o Valor já revelou, a discussão ficou numa cota progressiva, de 4% a 10% do consumo doméstico europeu em sete anos, rendendo negócios não inferiores a 1 bilhão de euros.
Como a UE criará nova cota no caso do etanol, a tarifa deverá ser zero, pelo que se deduz da negociação na OMC. Na coletiva de ontem, em Genebra, a comissária Catherine Ashton disse que as negociações prosseguem entre o Brasil e a UE sobre etanol. Na verdade, a discussão voltará a ocorrer envolvendo também países como os Estados Unidos e o Japão, mercados nos quais o Brasil quer uma fatia.
Na área industrial, a posição da UE é bem mais moderada que a dos EUA sobre acordos setoriais, para acelerar eliminação tarifária. Bruxelas parece demandar mais para apoiar o parceiro americano.
Na entrevista, Amorim conclamou os parceiros a impulsionarem por um entendimento, porque, disse, "estamos chegando a um ponto em que não podemos ficar medindo ganho de 1% aqui ou lá e de US$ 10 ganhos aqui ou lá, temos que comparar com a grande perda que seria para toda a humanidade no caso de um fracasso".
A comissária Ashtom insistiu que a liberalização comercial é "parte da solução e não dos problemas provocados pela crise atual". E como há países que persistem com seus problemas específicos, sinalizou a disposição européia de buscar soluções para Índia, Argentina e outros, para se juntarem a um acordo.
Amorim repetiu que o Brasil apoiará uma solução específica para a Argentina na OMC, indicando que eventual proteção maior para os argentinos deveria ser depois acomodada no bloco.