Redação (11/11/2008)- Tão importante quanto o planejamento da safra é o momento da comercialização da produção. Vender na hora certa pode fazer a diferença entre lucro e prejuízo. Mas, no ano em que soja e milho bateram recordes de preço na Bolsa de Chicago, faltando poucos meses para o início da colheita da safra 2008/09, a venda antecipada de grãos segue praticamente estagnada no país.
No Paraná, somente 3% da soja foram negociados. A média histórica indica que nesta época do ano 8% da safra do estado já deveriam estar comprometidos. No ciclo anterior, ano de mercado em alta, 14% da produção paranaense de soja estava travada. Os dados, referentes ao início de novembro, são do levantamento de comercialização da consultoria Safras & Mercado, de Porto Alegre (RS).
Mais otimista, a AgRural, de Curitiba, estima que 10% da safra paranaense estejam vendidos. No ano anterior, segundo a consultoria, 30% da produção estavam negociados. Ainda que inferior ao ano passado, o ritmo da comercialização está dentro da normalidade no estado este ano, afirma o analista da empresa, Eduardo Godói. Em 2006, nesta mesma época, as vendas antecipadas comprometiam 11% da produção, mas em 2005, apenas 3%, segundo dados da consultoria.
Com ou sem atraso na comercialização, a partir de agora o relógio começa a correr contra o produtor, considera Godói. “E o comprador sabe disso.” A necessidade de limpar os armazéns para a entrada da safra de verão pode induzir o produtor a vender em época desfavorável, concorda Flávio França Jr., analista da Safras & Mercado.
O problema é que, hoje, quem quer vender não encontra comprador. Produto disponível não falta. Os preços, apesar de distantes dos picos, são bons. Mesmo assim, as duas pontas não se encontram e os negócios não evoluem. Na baixa, os produtores se retraem, à espera de preços mais remuneradores. Na alta, os tomadores é que retiram suas indicações.
“Até hoje ainda não sei de ninguém que vendeu soja antecipada”, relata o produtor Roberto Hasse, de Coronel Vivida, no Sudoeste do estado. A Coasul, de São João, confirma que as vendas estão lentas na região. O presidente da cooperativa Paulino Fachin diz que seus cooperados geralmente vendem cerca de 10% da soja antes da colheita. Neste ano, a comercialização está travada.
“No preço que a soja está (R$ 40), eu travaria hoje. Pelo menos pagaria o custo. Mas não tem quem compre”, lamenta Ivonir Lodi, de Medianeira, no Oeste. “Não sei a quanto vou vender. A única certeza que eu tenho é que eu já gastei mais que no ano passado”, diz Cesar Roberto Lakus, de Foz do Iguaçu, na mesma região.
Coamo e Lar, cooperativas que atuam nessas regiões, confirmam os relatos dos produtores. A Coamo, com sede em Campo Mourão, Centro-Oeste, que costuma ter nesta época entre 20% e 25% da soja negociada, conta hoje com apenas 10% da safra comprometida. Na Lar, de Medianeira, os negócios, que costumam compreender 10% da produção nesta época, ainda não saíram do chão e estão parados.
Em Cascavel (Oeste), Oilson Miguel Vargas, também tem dificuldade para encontrar compradores, mas afirma estar sempre de olho no mercado para tentar aproveitar as melhores oportunidades. Ele conta que costuma fixar pelo menos 30% da lavoura antes da colheita para custear a produção. “Eu geralmente vou vendendo aos poucos, faço média.”
“Quem travou preço para custeio da safra se deu bem”, avalia Alfredo Lang, presidente da cooperativa C.Vale, com sede em Palotina (Oeste). No Noroeste, Cícero Felício de Carvalho, de Perobal, conta com orgulho que negociou 5 mil sacas de soja a R$ 50. “Tinha que ter negociado pelo menos mais 15 mil sacas nesse preço.” José Armando Gafuri, de Toledo, no Oeste do estado, que já travou 75% da safra que vai colher no ano que vem, fez negócios a até R$ 45 a saca.