Redação (12/08/2008)- Os altos preços dos insumos, maiores vilões da agricultura brasileira neste ano, e o impacto que os mesmos têm causado nos custos de produção, são apontados como principais responsáveis pela expectativa de diminuição da área plantada de milho para a safra de verão no Rio Grande do Sul. Não bastasse esse cenário, no exato momento de tomada de decisão quanto ao plantio do cereal, os preços da commodity caíram de R$ 33,00 em julho para cerca de R$ 24,00 no início de agosto, após a entrada de milho safrinha no mercado, o que equilibrou a oferta.
Frente a essa realidade, o analista de mercado da área de milho e carne da Safras & Mercado, Paulo Molinari, aposta em uma diminuição de até 10% na área de milho do Estado e 5% no País. "A tendência é de substituição do milho pela soja, já que o desembolso para a lavoura da oleaginosa é menor", afirma. O especialista diz que esta é uma tendência que vem se verificando há algum tempo e que tende a se confirmar na safra de verão.
Apesar de ainda não dispor dos resultados da pesquisa sobre expectativa de área plantada para a safra 2008/2009 no Estado, o assistente-técnico regional da Emater Cláudio Doro concorda com a possibilidade de redução de área de milho e conseqüente aumento da de soja. "Na lavoura de milho, 40% do custo é composto por fertilizantes cujos preços subiram 100%. Além disso, a soja dá melhor remuneração, sendo mais valorizada no mercado externo", explica.
Outro fator que colabora para o desestímulo dos produtores está relacionada à diminuição da compra de milho brasileiro pelos europeus. "No ano passado, enviamos 14 milhões de toneladas de milho para aquele continente. No entanto, as lavouras melhoraram por lá e as exportações não passaram dos 4 milhões de toneladas neste ano", disse Doro. Sobre a necessidade de os produtores aumentarem o volume produzido, o especialista diz que existe um interesse político para que esse incremento se viabilize, de forma a se buscar a auto-suficiência do Estado. "Mas muitos produtores não têm essa visão macro, e sim, pensam em garantir seu caixa." Na safra passada os gaúchos plantaram 1,4 milhão de hectares e colheram 5,3 milhões de toneladas, para um consumo de 5,5 milhões de toneladas.
Entre as cooperativas, a expectativa é pela manutenção da área plantada. Mas em plena fase de tomada de decisões ainda há uma grande indefinição por parte dos produtores sobre o quanto cultivar. Um dos motivos é a demora na liberação dos financiamentos do Proagro, em função da exigência dos bancos para que os produtores realizem a análise física do solo. "Só depois que o financiamento for liberado será possível saber ao certo se haverá manutenção ou aumento de área na região, mas acreditamos que a tendência é de manutenção", diz o gerente do departamento agrotécnico da Cotrijuí, Mário Afonso Jung.
Até o final de agosto os produtores costumam plantar 60% da área, e os outros 40% até meados de setembro. No entanto, se o produtor não conseguir financiamento até o dia 20 de setembro é possível que ocorra queda na área plantada, pois depois dessa data o período é de alto risco para a lavoura. "Plantar no tarde é complicado, já que as plantas florescem no veranico de dezembro e, caso ocorra falta de chuvas, pode haver quebra", afirma Jung. Segundo ele, na região de atuação da Cotrijuí, cuja produtividade média é de 80 a 120 sacos por hectare, os custos têm se equiparado aos valores colhidos, o que pode fazer com que muitos optem pelo cereal com o objetivo de fazer a rotação de cultura.
O secretário-executivo da Associação Gaúcha de Avicultura (Asgav), Eduardo Santos, disse que se for levada em conta a oscilação dos preços do milho, é normal que haja rumores sobre queda de área. No entanto, ele aposta em um cenário diferente. "Se não plantar, o produtor não alcançará margem de lucro. Acho precipitado dizer que haverá queda de área", afirma. O dirigente destaca ainda todo o esforço que tem sido feito no sentido de conseguir que a CPI dos Insumos, instalada na Assembléia Legislativa, possa levar à diminuição dos preços dos produtos para que os produtores possam manter as margens de ganho. "Todos sabem que tanto a avicultura como a suinocultura têm se expendido muito, com alta de exportações e que esses setores não podem ser deixados de lado", salienta. O crescimento das exportações de frango para a Índia e a expectativa de iniciar o envio para o Chile em breve são exemplos de negócios que podem ser comprometidos se houver redução da oferta no mercado gaúcho. "Se o produtor diminuir a área estará agindo contra ele mesmo", lembra. Mesmo assim, Santos admite que o risco de redução de área existe e que caso se concretize a saída será recorrer ao cereal da Argentina.