Redação (11/08/2008)- Na frente da fábrica que a Sadia constrói em Vitória do Santo Antão (PE), três grandes lagoas que estão sendo cavadas pare-cem fazer parte de um projeto paisagístico. Porém, elas estão ali com um função que vai além da decorativa. Duas delas captarão a água das chuvas para abastecer pelo menos 80% do consumo da planta industrial. A outra servirá de depósito de efluentes.
Os lagos são apenas um dos componentes de um projeto da Sadia para transformar a unidade do interior pernambucano em um modelo de sustentabilidade. A idéia é que tudo o que entre e que saia da fábrica cause o menor impacto possível ao ambiente e à comunidade vizinha. A água que a empresa vai utilizar não deve concorrer, por exemplo, com o consumo humano. Daí os reservatórios para captação de água das chuvas.
Cerca de 3,5 milhões de árvores nativas, que serão monitoradas por satélites e câmeras, devem amenizar os danos causados pela fumaça que a fábrica emite. Elas serão plantadas em áreas já devastadas por terceiros para neutralizar o carbono liberado no processo industrial, no consumo de energia, no transporte de cargas e até no deslocamento dos funcionários. Será a primeira indústria de carne do Brasil com esse conceito.
Todo esse cuidado tem um preço nada módico. A Sadia, que faz parte do Índice de Sustentabilidade Empresarial (ISE) da Bovespa, vai desembolsar R$ 23 milhões, o que representa cerca de 10% do investimento que a empresa faz na construção do complexo que reúne uma indústria e um centro de distribuição a 50 km do Recife.
Parte desses recursos será abatida com a conta de água mais baixa, mas a compensação total dos aportes só virá a longuíssimo prazo. E talvez de uma forma não-financeira, na visão da empresa. "Não dá para fazer esse investimento pensando no dia de hoje. É preciso ver que quem não for sustentável não vai existir por muito tempo. Se a Sadia não fizer isso agora, no futuro ela também não terá mais água", diz Fernando Meller, executivo da Sadia responsável pela implantação da unidade.
Até a gordura será usada no projeto da unidade. Descartada na fabricação de 149 mil toneladas de salsichas, apresuntados, lingüiças e mortadelas, ela vai se transformar em combustível pa-ra as caldeiras da indústria.
Na parte de energia, a Sadia não conseguiu atingir a auto-sustentabilidade da fábrica. Por enquanto, serão colocados em teste diversos projetos que po-derão crescer no futuro.
Alguns computadores em estações isoladas, por exemplo, serão movidos a energia solar, vindas de placas que estão sendo instaladas para a captação da luz. O mesmo vai acontecer com a água do banheiro e da cozinha. No estacionamento, é o vento que ficará responsável por garantir a iluminação quando a planta começar a operar no começo do próximo ano.
Algumas dessas iniciativas que estão sendo implantadas na fábrica de Vitória do Santo Antão já estão sendo testadas pela Sadia de forma isolada em outras unidades da empresa. O objetivo da planta pernambucana em construção é reunir todas elas para criar uma unidade modelo em sustentabilidade para depois o projeto ser ampliado.