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Boas e más notícias para o milho

<p>Confira avaliação feita por João Carlos Garcia e Jason de Oliveira Duarte, pesquisadores da área de economia rural da Embrapa Milho e Sorgo.</p>

Redação (18/07/2008)- Situação mundial

O Departamento de Agricultura dos Estados Unidos liberou, no dia 11 de julho, mais uma previsão sobre a próxima de safra para milho nos Estados Unidos. Estas novas estimativas incorporam uma revisão relacionada com informações mais atuais relativas à área plantada e já incorporando os efeitos das condições climáticas que se verificaram no início da safra americana. Estas reavaliações indicaram um acréscimo da área plantada, mas também uma redução no rendimento médio, tendo em vista o efeito das inundações sobre as áreas de alta produtividade do Meio-Oeste dos Estados Unidos (afetando a sua participação no total da área plantada nos EUA). O resultado final, após estes reajustes, foi uma nova redução na produção, em relação ao estimado no início de junho. Porém, esta nova visão não tão catastrófica como a que vinha sendo apresentada na imprensa serviu para acalmar os mercados. A produção estimada para os Estados Unidos é cerca de 10% menor do que a do ano interior (que foi uma safra recorde), muito semelhante à de um mês atrás. Ou seja, pouco muda mas, como podia ser pior, então está melhor. O fato é que muito da elevação das cotações de milho nos Estados Unidos foi mais baseado em uma perspectiva extremamente desfavorável. Quando as informações sistematizadas e oficiais começaram a surgir, indicando uma situação não tão dramática, os preços perderam sustentação.

Com base nestas novas estimativas e em revisões sobre a utilização de milho para diferentes finalidades, mantém-se a expectativa de uma grande redução nos estoques americanos de milho. O nível destes estoques chegaria, caso estas previsões se confirmem, a pouco mais da metade do valor registrado no corrente ano. A redução na produção será parcialmente compensada pelo menor uso do milho diretamente na alimentação animal (compensada pelo uso de resíduos da produção de etanol de milho) e devido à redução nas exportações (mas que ainda estarão pouco abaixo do nível do período 2006/07). Por outro lado, verifica-se o contínuo incremento no uso do milho para produção de etanol (que, se por um lado é afetado pelo aumento do preço do milho, por outro é sustentado pelo crescimento do preço do petróleo). Assim, caso se confirmem as expectativas atuais, nos últimos dois anos a utilização de milho para esta finalidade terá praticamente dobrado nos Estados Unidos. As previsões de redução nas exportações americanas se mantêm em cerca de 12 milhões de toneladas com relação à safra passada e em cerca de 3 milhões em relação à safra anterior. Nestas condições, a expectativa de preços médios para a safra a ser colhida é superior aos preços do atual ano comercial, reforçando as expectativas de um novo patamar de preços, mais elevados no mercado mundial, o que abre uma grande oportunidade para o Brasil, a partir de sua disponibilidade de milho neste ano agrícola que necessita ser escoado para o exterior, como forma de manutenção dos preços internos.

O Weekly Weather and Crop Bulletin mais recente, de 15 de julho, informa que, embora o desenvolvimento das plantas se encontre atrasado em relação às safras anteriores, as condições das lavouras tendem a melhorar, visto que a quantidade de água disponível para as plantas, que se constituíram em problema há algumas semanas, a partir de agora tendem a favorecer o potencial produtivo. Da mesma forma como ocorreu uma redução no rendimento médio esperado, caso as condições climáticas, agora favoráveis, continuem, revisões para cima da produtividade esperada para milho podem ocorrer nos próximos levantamentos. A primeira revisão da produtividade esperada, agora baseada em levantamentos de campo, deve ser liberada pelo Departamento de Agricultura dos EUA no próximo dia 12 de agosto.

Análises realizadas pela Prices & Outlook, da Universidade de Purdue, já começam a tentar estabelecer uma relação de preços entre o do petróleo e o do milho, que tornaria viável a operação das usinas de produção de etanol nos EUA. Aos níveis atuais, os preços do barril de petróleo suportam os preços esperados de milho para a próxima safra e as expectativas de preços mais elevados do que em safras anteriores seguem firmes. Uma dúvida que continua é: quanto mais elevados eles estarão nos próximos meses? A outra dúvida é sobre o comportamento futuro dos preços do petróleo. Com a recessão às portas, existem indícios claros de diminuição no consumo de combustíveis nos EUA (na última semana, a redução no consumo de gasolina nos EUA foi de cerca de 5%, pela 12ª semana consecutiva), o que pode contribuir para, pelo menos, a manutenção dos preços atuais do petróleo, senão a sua redução.

Nos outros países, as condições se mostram favoráveis. Na Comunidade Européia, espera-se uma recuperação da produção de milho em relação à safra passada, afetada por problemas climáticos, interrompendo um processo de redução na produção de milho que já se verificava há quatro anos. Nos outros países europeus, fora da Comunidade Econômica, também espera-se que a produção se recupere, atingindo níveis normais. A produção nos países da antiga União Soviética deve apresentar uma forte recuperação, mesmo em relação à produção obtida em anos anteriores ao verificado no ano passado. Esta situação possibilita a recuperação de estoques e também a redução das necessidades de importação de grandes quantidades, como o verificado no ano passado (e que serviu de suporte para preços altos no Brasil). De qualquer forma, os países da Europa já se preparam para uma eventual necessidade de importações, liberando as compras de milho transgênico do exterior para uso na alimentação animal e aumentando a importação de sorgo, com a mesma finalidade.

Na Argentina, continua a queda de braço entre produtores e o governo. Embora o imposto criado pelo governo tenha sido derrotado no Senado argentino e aberto a possibilidade de exportar cerca de 30 milhões de toneladas de grãos que estavam à espera desta definição, tal disputa poderá afetar a disposição dos agricultores argentinos com relação ao plantio de safras futuras. Apenas como exemplo, estimativas iniciais de plantio de trigo na Argentina indicam uma redução de cerca 1 milhão de hectares na área plantada, por conta das incertezas atuais e do crescimento dos preços dos insumos agrícolas.

No restante dos países, independente da magnitude de sua produção de milho, nota-se um quase unânime expectativa de crescimento da produção deste cereal, fruto certamente do aprendizado da lição representada pelos preços altos do ano passado e da imprevidência dos governos no atendimento das necessidades básicas da população, representada pelo descaso com a produção agrícola. Os incentivos de preços chegaram aos agricultores e eles responderam nesta safra. A produção esperada de milho fora dos EUA para o ano agrícola 2008/09 deve crescer em cerca de 20 milhões de toneladas, após crescer cerca de 11 milhões de toneladas na safra 2007/08.

Situação interna

No Brasil, a má notícia ficou por conta das geadas que afetaram a produção esperada no Paraná (redução de cerca de um milhão de toneladas). O 10º levantamento da Conab (Companhia Nacional de Abastecimento) informa que, mesmo com esta redução esperada, a produção da safrinha deverá ser cerca de 20% superior à do ano passado, consolidando a posição do Mato Grosso como principal estado produtor de milho nesta época de plantio. Na safra de verão de milho, pequenos ajustes na produção esperada para o Nordeste mantêm a expectativa da produção em cerca de 39,9 milhões de toneladas e 9% acima da safra de verão do ano anterior.

A produção total esperada agora é de cerca de 57,8 milhões de toneladas, ainda 12% superior à safra de 2006/07. À exceção do Rio Grande do Sul, que apresentou redução de produtividade, a safra total de 2006/07 se mostra favorável, com o crescimento sendo sustentado pelo aumento da produtividade das lavouras de milho. Mesmo na região Sul, o crescimento da produção no Paraná e em Santa Catarina compensou com folga a redução na safra gaúcha de milho e fornece uma boa garantia para o abastecimento interno.

A safra a ser colhida no Nordeste é uma das maiores da história. Para as atividades de criação animal localizadas nesta região, isto é uma boa notícia, pois indica uma safra 45% superior à anterior, derivada principalmente do acréscimo de produtividade resultante de condições climáticas mais favoráveis.

Uma vez que as perspectivas da safra são favoráveis, as preocupações passam para o lado da comercialização, de forma a evitar que a produção recorde obtida não seja prejudicada por uma eventual redução dos preços. Para que isto não aconteça, as exportações são vitais para escoar o excesso de produção.

Nas previsões da Conab, existiria um montante de cerca de 11,5 milhões de toneladas de milho em condições de serem exportadas (restando, inclusive, um estoque de passagem de cerca de 9 milhões de toneladas, após os efeitos sobre a produção da safrinha). Até o mês de maio, as exportações já haviam ultrapassado o total exportado no mesmo período em 2007 em cerca de 200 mil toneladas, com os preços se mostrando superiores aos dos meses correspondentes em 2007. No entanto, apesar dos preços terem se mantido favoráveis ocorreu, no mês de junho, uma redução brusca no total de milho exportado pelo Brasil (360 mil toneladas em junho de 2008 contra 800 mil toneladas no mesmo mês de 2007). De certa forma, uma luz amarela foi acesa, seja pela reação dos preços internos que diminuíram a rentabilidade das exportações, seja pelas condições favoráveis de safra dos nossos importadores, que podem estar esperando condições mais concretas para tomada de decisão com relação à necessidade de importações. De qualquer forma, as quantidades exportadas até junho estão pouco abaixo dos valores para igual período de 2007 e os preços têm se mostrado superiores aos do ano passado.

Como já vimos, as necessidades de importação de milho pelos tradicionais importadores podem ser menores do que as verificadas no ano passado. A maior redução deve ocorrer nos países da Comunidade Européia, cujas preferências por milho não-transgênico favoreceram as exportações brasileiras no ano passado por meio de um excelente sobrepreço. Em que medida as necessidades européias e o efeito da menor disponibilidade de milho para exportar, nos EUA, afetarão o mercado internacional será melhor determinado nos próximos meses.

Do lado do consumo, as informações são de crescimento das atividades de criação animal, o que fornece suporte para os preços no mercado interno. Existem indicativos de acréscimo na produção de aves (a produção de carne de aves aumentou em 7% no primeiro semestre de 2008 em relação ao ano anterior, segundo o AviSite), mesmo com o preço do milho em níveis superiores ao do ano passado. O mesmo ocorreu com as exportações de carne de aves (que cresceram 42% em valor e 12% em volume no primeiro semestre de 2008 em relação a 2007, segundo a mesma fonte). O mercado de carne bovina tem se mostrado aquecido, consequentemente dando suporte para aumentos de preços no mercado interno de carnes de aves e de suínos. A relação de troca entre os preços de aves e suínos (as atividades de criação mais sensíveis a variações de preço de milho) e milho tem se mostrado relativamente estável, ou mesmo favorável às carnes, o que enfraquece argumentos acerca da necessidade de controlar os preços do milho via restrições às exportações.

O acompanhamento de preços do milho no mercado interno mostra que o mercado interno está muito agressivo, com preços que reduzem a competitividade das exportações. Preços no interior do Mato Grosso, de Goiás e do Mato Grosso do Sul, mesmo no auge da colheita de uma safrinha recorde, estão em níveis muito elevados, como reflexo do aumento no consumo local (no início do ano já foi veiculado na imprensa alerta relativo à falta de milho para atender à suinocultura… do Mato Grosso). Mesmo tentativas de aumentar os estoques oficiais de milho por meio de leilões de compra da Conab não foram efetivas, face ao pouco interesse dos agricultores em vender aos preços fixados, mesmo em regiões do Mato Grosso que tradicionalmente abastecem o resto do país a preços competitivos.

Desta forma, a produção regional de milho cada vez mais se torna estratégica para a sustentabilidade das atividades de criação de animais confinados (aves, suínos e bovinos). Solicitações de intervenções governamentais para equilibrar o mercado têm hoje pouca chance de sucesso, face à reduzida capacidade de ações do governo em situações de preços elevados. Regiões que não fortalecerem a sua produção regional terão cada vez mais suas possibilidades de crescimento limitadas pela disponibilidade de milho, a preços competitivos, em detrimento de regiões com maior oferta deste cereal a preços favoráveis.