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Déficit de milho gera polêmica no RS

<p>Avicultores e suinocultores gaúchos reagiram à manifestação que sugere a desobrigação do governo federal e de outros estados de prover o mercado gaúcho com milho.</p>

Redação (18/07/2008)- Parte do setor agropecuário gaúcho reagiu à manifestação do superintendente do Ministério da Agricultura no Estado, Francisco Signor, que sugere a desobrigação do governo federal e de outros estados de prover o mercado gaúcho com milho.

"Seria a mesma coisa que decretássemos que o Rio Grande do Sul não mandasse mais carne suína para outros estados", rebateu o diretor-executivo do Sindicato da Indústria de Produtos Suínos (Sips), Rogério Krebs. Segundo ele, trata-se de um momento emergencial, em que o Estado encontra-se desabastecido do cereal em função de problemas de estiagem e da alta nas exportações.

"Em uma situação assim o governo federal tem e deve auxiliar sim os setores com dificuldades." Sobre as declarações do Signor a respeito da necessidade de os produtores fazerem o dever de casa, Krebs sustenta que a produção de milho gaúcha é suficiente para suprir a demanda e eficiente em termos de produtividade, com os produtores conseguindo respostas positivas nas lavouras.

"Respeito a opinião do superintendente, mas insisto que não reduzimos a produção, apenas passamos por momentos difíceis". Quanto à transferência da cadeia avícola e suinícola para o Centro-Oeste, Krebs argumenta que todas as regiões têm vontade de se agroindustrializar. "É até possível a ida de indústrias do setor suinícola para o Centro-Oeste, mas isso não retira a vocação gaúcha de continuar grande produtor tanto de aves, como de suínos", afirma.

O presidente da Associação Brasileira dos Produtores de Milho (Abramilho), Odacir Klein, diz que não se pode pensar nos estados isoladamente, mas no País como um todo. "Seria o mesmo que dizer que o Paraná tem a obrigação de consumir todo o volume de milho que produz", ponderou. Segundo Klein, não há possibilidade de faltar milho no Brasil e que os produtores, se não forem atendidos pela CONAB, podem recorrer à compra direta do cereal de outros mercados. "São 10 milhões de toneladas de excedente e tanto o Mato Grosso quanto o Paraná têm plenas condições de comercializar o produto."

O agricultor escolhe a cultura que oferece maior rentabilidade. Com essas palavras o presidente da Federação da Agricultura no Rio Grande do Sul (Fetag/RS), Elton Weber, rebateu a posição do superintendente do Mapa/RS. Ele destaca que o governo federal deveria garantir uma política de preços mínimos ao cereal para que o produtor seja incentivado a aumentar a área.

"Os custos de produção aumentaram muito, e isto pesa no momento do agricultor escolher a cultura", afirma o dirigente. O presidente da Farsul, Carlos Sperotto, afirma que a compra de milho do Centro-Oeste por parte dos criadores do Rio Grande do Sul já ocorre há muito tempo e que a produção no Estado vem aumentando. "Passamos de 46 sacas por hectare há cinco anos para as atuais 70 sacas por hectare", comenta.

Signor manda produtor plantar mais para garantir abastecimento
"O setor de suínos e aves do Rio Grande do Sul busca transferir para RS em torno de 50 mil toneladas de milho dos reduzidos estoques que o governo mantém através da CONAB, de aproximadamente 100 mil toneladas. Neste sentido, o Ministério da Agricultura pouco pode fazer para atender à demanda dos produtores gaúchos, embora tenha toda a boa-vontade e disposição de apoiar e reconhecer a legitimidade do pleito do Estado no momento.

Fatores externos já conhecidos, como o caso dos Estados Unidos, que utilizam milho para a produção de etanol, e o aumento dos alimentos no resto do mundo, ajudam a complicar a vida dos consumidores de milho de maneira geral. Precisamos tratar o assunto de forma globalizada, com todas as cadeias agropecuárias, pois estamos literalmente inseridos nesta realidade que é um desafio.

O dever de casa do estado do Rio Grande do Sul é produzir mais milho. Caso isso não ocorra, perderemos o eixo do frango e do suíno para o Centro-Oeste, o que, aliás, já está acontecendo, basta verificar os projetos que estão se desenvolvendo no Mato Grosso, Mato Grosso do Sul e Goiás. É bom lembrar que o Centro-Oeste não tem obrigação de produzir milho para agregar valor aos produtos em outros estados. Estamos sujeitos ao jogo do mercado e também da lei da oferta e da procura. Até aqui o Ministério da Agricultura, através da CONAB, procurou auxiliar os produtores removendo estoques do produto que possuía para atender a essa demanda.

Além de tudo isso, o contribuinte brasileiro não se mostra simpático em subsidiar a logística de transferência do milho do Centro-Oeste para o Sul, só porque nós queremos. E o custo de transferência bancado pelo setor, inviabiliza nossa competitividade.

No mínimo precisa justificar com uma boa contra-partida, mobilizando e apoiando os produtores de milho. Os recursos para custeio estão à disposição dos plantadores, incrementados através do aumento dos limites de crédito e da redução dos juros controlados pelo governo.

É bom que haja convergência da sociedade para enfrentar a situação com objetividade e determinação. Se não houver esta decisão por parte do RS, estaremos sempre dependendo dos outros e com o chapéu na mão pedindo ao governo federal que cuide do assunto e resolva o problema. E não é só por aí o caminho.

Lembramos que estamos no momento oportuno para começar a fazer o nosso dever de casa, a época do plantio da safra 2008/2009 está próxima e é bom começar o trabalho logo. Caso não tenhamos esta iniciativa agora, a situação fatalmente irá piorar. Estamos alertando a sociedade há muito tempo, mas as cadeias não estão dando importância, é como gritar no deserto. Temos informado permanentemente o Sr. Ministro em Brasília, colocando-o a par dos acontecimentos inclusive quanto à realidade desse tema aqui no Estado. Portanto, o ministro, que conhece bem nossa realidade, deve ter passado para os produtores a mesma orientação: Vamos plantar milho.

Com certeza não faltará atenção e apoio do governo para minimizar os problemas, mas a solução não está em Brasília, está aqui."

Conab removerá produto a balcão para suprir o mercado gaúcho
Apesar da polêmica, ontem os criadores de aves e suínos do Rio Grande do Sul conseguiram vencer uma das batalhas para garantir a compra de milho com preço mais acessível e regular o mercado interno. Durante a reunião no Ministério da Agricultura, em Brasília, envolvendo a Associação dos Criadores de Suínos do RS (Acsurs), a Associação Gaúcha dos Avicultores (Asgav), a Associação Brasileira de Criadores de Suínos (ABCS) e parlamentares gaúchos, o ministro Reinhold Stephanes garantiu que a CONAB removerá milho a balcão para pequenos produtores do Estado.

"Porém, o ministro não deixou claro quanto vai escoar, pois justifica que os estoques nacionais do cereal estão baixos", critica o presidente da Acsurs, Valdecir Folador. Os representantes solicitavam a remoção imediata de 50 mil toneladas. De acordo com dados da CONAB, o volume de grãos armazenado no Estado chega a 14 mil toneladas.

O presidente da Comissão de Agricultura da Assembléia Legislativa, Adolfo Brito (PP), informou que a liberação de milho vai ocorrer ainda este mês e a quantidade vai depender da demanda dos produtores. "A quantidade pode ultrapassar as 50 mil toneladas", comenta. Segundo o diretor da Área de Suprimentos da (Asgav), Carlos Hugo Konzen, o mais importante é que o produtor tenha garantido o escoamento para balizar os preços. "Os criadores do Estado estão perdendo competitividade com os do Paraná em relação aos custos de produção", afirma o diretor. Ele justifica que a saca de 60 kg de milho no Rio Grande do Sul custa R$ 29,00, enquanto no Paraná o mesmo produto está na faixa de R$ 24,00.

Além do milho a balcão, outra medida de impacto para o setor é a liberação do cereal transgênico oriundo da Argentina. Stephanes se comprometeu a analisar o assunto junto à Comissão Técnica Nacional de Biossegurança (CTNBio) para autorizar a importação com os mesmos preços do mercado interno. "A venda do governo irá regular o mercado, permitindo que o produtor compre o grão com a um preço bem mais acessível", destaca Britto. Hoje, a avicultura gaúcha consome de 2,5 milhões de toneladas de milho ao ano, enquanto que a suinocultura 1,8 milhão de toneladas.

O parlamentar também concorda com a necessidade de medidas para aumentar a produção de milho no Rio Grande do Sul. Porém, esclarece que a mobilização em Brasília de avicultores e suinocultores nesta semana buscou resolver uma situação urgente no Estado – o desabastecimento do grão às vésperas da entressafra. "Também defendemos que se plante mais milho no Rio Grande do Sul. Mas momentaneamente a única alternativa foi recorrer ao governo.