Redação (06/12/2007)- O governo brasileiro deve adiar a finalização das negociações formais para o início do comércio efetivo de carne suína com a China. O Itamaraty informou a empresários do setor, em seminário sobre perspectivas comerciais com o parceiro asiático realizado na terça, que o protocolo preliminar firmado pelo Ministério da Agricultura deve ser oficializado apenas entre maio e setembro de 2008.
As indústrias do setor esperavam uma decisão final até março do próximo ano, como previsto no documento assinado pelo secretário de Defesa Agropecuária, Inácio Kroetz, na semana passada, em Pequim. A ratificação do acordo inicial depende, entretanto, de uma reunião da Comissão Sino-Brasileira de Alto Nível de Cooperação (Cosban), criada em maio de 2004 para tratar das relações bilaterais.
Como envolve os vice-presidentes dos países, está difícil fechar a agenda bilateral. "Não é bom este atraso, mas também não é determinante. Porque se os chineses quiserem comprar mesmo, pode ser feito só com a minuta de Pequim", avalia o presidente da associação dos exportadores de carne suína (Abipecs), Pedro de Camargo Neto.
As negociações para o comércio bilateral de carnes se arrastam há três anos. Em outubro, um protocolo sanitário bilateral abriu, após quase dois anos de vaivéns, o mercado chinês à carne bovina cozida de Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Rondônia e Acre. Mas a situação da carne suína e de frangos segue indefinida.
Divergências da área técnica do Ministério da Agricultura também atrasaram o acordo bilateral de suínos. Os chineses exigem reciprocidade comercial, porque também querem vender miúdos de suínos ao Brasil. Mas veterinários brasileiros temiam importar doenças exóticas da China, sobretudo a "orelha azul". Como os asiáticos adotam o conceito de "zonificação", não-reconhecido pela Organização Mundial de Saúde Animal (OIE), o Brasil resistia ao acordo bilateral por questões sanitárias.
Como precaução, o protocolo preliminar previu três etapas de inspeção: dos sistemas de saúde animal, de saúde pública e de habilitação de plantas industriais de abate de suínos. Com isso, se houver alguma ameaça de doença, será possível "travar" a importação do produto chinês. No seminário, aliás, ficou muito claro o potencial agropecuário dos asiáticos.
As exportações do agronegócio chinês são maiores do que as vendas do Brasil. São produtos como carnes processadas, pescados, rações animais, madeira, celulose, couro e têxteis. Nos últimos cinco anos, os embarques asiáticos cresceram 120%, semelhante aos 121% registrados pelo agronegócio nacional. A China avança também no reflorestamento. Entre 2001 e 2005, o país replantou 4,06 milhões de hectares de árvores – a Espanha, segunda no ranking, plantou 320 mil hectares. Nesse período, o Brasil aumentou em 3 milhões de hectares o cultivo de grãos.