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Falta de soja faz esmagadoras anteciparem férias coletivas

<p>A demanda aquecida - tanto no mercado interno quanto no externo - e os preços altos, que estimularam a venda antecipada da commodity.</p>

Redação (21/11/2007)- As indústrias de soja vão antecipar as férias coletivas ou prolongá-las por falta de grão para esmagar, apesar de o País ter colhido uma safra recorde de 58,3 milhões de toneladas, de acordo com as estatísticas oficiais.

A demanda aquecida – tanto no mercado interno quanto no externo – e os preços altos, que estimularam a venda antecipada da commodity, fazem com que em pleno novembro menos de 5% do produto ainda esteja disponível para as empresas. E a perspectiva é que a nova safra atrase tanto quanto o início do plantio, ou seja, pelo menos 15 dias. A conseqüência da escassez do grão é o preço recorde: R$ 43 a saca (60 quilos) para a oleaginosa disponível em Paranaguá (PR).

As estimativas de analistas de mercado é que as indústrias estejam trabalhando com apenas 20% a 40% da capacidade, além de iniciarem as férias antecipadamente, fazendo com que durem até 15 dias a mais que o normal. "Até a entrada da safra nova as empresas vão ter um período complicado", diz Seneri Paludo, analista da AGRural.

Para o diretor da Cogo Consultoria Agroeconômica, Carlos Cogo, a indicação de uma eventual falta de soja já está perceptível nos prêmios do produto, quando comparados com a paridade exportação. Para o caso do óleo, por exemplo, o prêmio é de US$ 16,50 a tonelada – em julho, era negativo em US$ 29,98 a tonelada.

Atualmente, de acordo com analistas de mercado, a maior oferta do grão ocorre no Sul do País: entre 8% e 10%. Em outros períodos, o Paraná, por exemplo, tinha até 25% da colheita disponível. Paludo acrescenta que tem indústria "correndo" para comprar – e com isso estimulando a alta dos preços e aumentando a escassez – porque sabe que a safra vai demorar a entrar. "O que tem disponível hoje não é suficiente para a demanda", avalia Paludo.

"Vai faltar soja mesmo. Quem não comprou vai sofrer", diz Tiago Simon, do Departamento Comercial da esmagadora Sperafico, de Mato Grosso. Segundo ele, a empresa tem contratos fechados até 20 de dezembro, quando deve parar e retornar dia 5 de janeiro. No entanto, de acordo com Simon, a volta das atividades depende dos contratos para a safra 2007/08, que estão em negociação.

Cogo acredita que a escassez é resultado da venda antecipada, decorrente da escalada de preços. Segundo ele, quem vendeu na entressafra teve ganho de até 40% em relação à colheita. O analista Fábio Turquino Barros, da AgraFNP, acrescenta que as cotações mais elevadas estimularam a venda antecipada da safra passada, assim como está fazendo na safra atual. Em Mato Grosso, por exemplo, 62,5% do grão que está sendo plantado já foi comercializado.

Para Paludo, a explicação para a atual escassez é o recorde de esmagamento e exportação. A estimativa da Associação Nacional dos Exportadores de Cereais (Anec) é que o volume comercializado com o exterior alcance 26 milhões de toneladas. O analista da AGRural acrescenta que o crescimento econômico brasileiro aumentou a demanda interna e, por outro lado, o consumo chinês e o efeito da bioenergia impulsionaram as exportações. O diretor-executivo da Anec, Sérgio Mendes, assegura que as empresas não terão dificuldade em exportar. "O que está compromissado será atendido. Quem tinha de comprar já comprou", afirma.

Para Adriano Vendeth de Carvalho, analista da SoloBrazil, parte da escassez é decorrente de uma venda acima do cenário real. Segundo ele, esperava-se que o País colhesse mais de 60 milhões de toneladas de soja, o que não ocorreu. "Além disso, o consumo foi superior ao esperado e o Brasil acabou ocupando espaço da Argentina diante de sua crise energética", conclui.

Os analistas também dizem que parte dos preços altos no mercado interno hoje são reflexos dos aumentos registrados no mercado internacional. De acordo com levantamento da Cogo Consultoria Agroeconômica., em 12 meses, a valorização na Bolsa de Chicago (CBOT) foi superior a 50% – para o farelo, grão e óleo. No mercado interno, o preço do óleo aumentou 28,42% no período, sendo 80% desde julho. Na sexta-feira, os contratos futuros em Chicago chegaram a bater US$ 11 o bushel, mas fecharam a US$ 10,93 para março.

"Hoje, o preço é o que o produtor quiser", diz Fábio Turquino Barros, analista da AgraFNP. Segundo ele, quem ainda tem soja, consegue negociá-la pelo valor que oferecer.